domingo, 5 de dezembro de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 122

O PAQUETE “ROMEU”ARRIBOU A LEIXÕES PARA DESEMBARCAR OS SOBREVIVENTES DO VAPOR “ECHANO” QUE O ABALROARA E SE AFUNDOU


http://www.andimar.spanishspotters.com/ver_foto.php?fid=5906


A 10/09/1933, pelas 02h30, navegava a 35 milhas a sudoeste do porto de Leixões, o paquete Espanhol ROMEU da praça de Valência e propriedade da Cia. Transmediterranea, que de Vigo rumava ao porto de Cadiz, sendo a sua tripulação composta de 40 homens capitaneados pelo Cmte Juan Arriatiaga e transportava além de carga diversa, também 70 passageiros. Em sentido contrário navegava o vapor Espanhol ECHANO da praça de Bilbau, procedente do porto Mediterrânico de San Pedro del Pinatar e rumava ao porto de Vigo com um carregamento de sal. Faziam parte da sua tripulação 19 homens, além do seu capitão, Cmte. Fernando Alarsa e um cão mascote de bordo.

Naquela fatídica madrugada, o nevoeiro era muito cerrado, apesar da ondulação conservar-se bastante calma, pelo que ambas as embarcações não se cansavam de assinalar a sua marcha, através de toques da sirene de nevoeiro e as suas tripulações muito atentas a qualquer surpresa.

A dado momento, de bordo do ROMEU distingue-se, já demasiado próximo, por entre a bruma as luzes dos faróis de um vapor, que navegava com alguma velocidade, sendo então de bordo daquele paquete renovados com mais insistência os toques de sirene avisadores, os quais nada valeram, pois os dois vapores chocaram-se com grande violência, tendo o paquete colidido pela amura de estibordo do ECHANO e logo de seguida as caldeiras deste explodiram, ao mesmo tempo que as águas o inundavam rapidamente.

Ao dar-se aquela violentíssima colisão, os passageiros e tripulantes do ROMEU acorreram espavoridos ao convés na ânsia de salvamento, pelo que o momento era de pavor e angústia. De bordo do ECHANO já meio submerso e não tendo havido tempo dos seus 19 tripulantes utilizarem os coletes salva-vidas e muito menos arriarem as baleeiras, dada a rapidez com que se afundou, pois não levou mais de quinze minutos, que desaparecesse na imensidão do oceano.

De bordo do ROMEU foram arriadas para o mar as suas baleeiras, que conseguiram recolher seis tripulantes e o cão de bordo, incluindo o capitão, que perdeu dois sobrinhos, os quais passaram a fazer parte dos treze membros da tripulação desaparecidos no naufrágio. Aos sobreviventes foi prodigalizado um acolhimento afectivo por parte da tripulação e passageiros do paquete ROMEU, fornecendo-lhes roupas para se mudarem e alguns receberam tratamento aos ferimentos sofridos.

Entretanto, o oficial radiotelegrafista do ROMEU já havia lançado pedidos de socorro urgente, os quais foram captados pelo transatlântico Inglês LLANDOVERY CASTLE, da companhia Union Castle Line e por outros vapores, entre os quais, o Espanhol CABO SACRATIF, da Ybarra, e o Alemão FULDA, da OPDR, que pressurosos acorreram ao local do sinistro.

O ROMEU, que foi comboiado pelo LLANDOVERY CASTLE até junto da costa, demandou o porto de Leixões, conduzido pelo piloto Alfredo Pereira Franco e fundeou a dois ferros na bacia, junto da praia da Sardinha, tendo saído passados três dias, dirigido pelo piloto Manuel Pinto da Costa, com destino ao porto de Cadiz, após o seu capitão e o seu colega do ECHANO terem ratificado os respectivos “protestos de mar” na capitania do porto de Leixões.

Aquele paquete com capacidade para 120 passageiros repartidos por três classes, fora construído no ano de 1931 pela Soc. Española de Construcción Naval, Cartagena, juntamente com o seu gémeo ESCOLANO para a carreira de Nova Iorque, cabendo a este último a carreira da Argentina. Comprovada a sua incapacidade para ambos os tráfegos, foram os dois paquetes transferidos para a linha costeira nacional, entre o norte e o sul de Espanha.

http://www.trasmeships.es/126.html

http://www.trasmeships.es/159.html

ROMEU – 97,48m/ 3.070tb/ 14nós; 10/1918 entregue pela Soc. Española de Cobnstrución Navals, Cartagena, sob encomenda, ainda da Cia. Valenciana de Vapores Correos de Africa, Valencia, à Cia. Tramediterranea, Barcelona; 1971 ENRIQUE NVD, Gobierno Republica da Guinea Equatorial; 1975 desmantelado para sucata algures em Espanha.

http://www.andimar.spanishspotters.com/ver_foto.php?fid=4789

ECHANO – 72m/ 1.004tb/ 8,5nós; 12/1901 entregue por Schomer & Jenssen, Tonning, como ELISE PODEUS a Hans. Podeus, Wismar; 1911 HERBERT FISCHER, F. W. Fischer, Rostock; 1914 HERBERT FISCHER, detido pelos Britãnicos, The Admiralty, Londres; 1921 HERBERT FISCHER, L. Liano & Cia., Santander; 1922 LUISA, Antonio de Bereincua, Santander; 1925 LUISA, P. M. de Viguera, Santander; 1926 LUISA, V. & S. Castella, Casabalanca, Marroquino; 1927 MOGADOR, V. & S. Castella, Bilbau; 1930 MARI LUCI, L, Echevarrieta, Bilbau; 1931 ECHANO, Cia. Marítima Elanchove, Bilbau; 10/ 09/1933 naufragou por colisão com o paquete ROMEU.

Fonte: José Fernandes Amaro Junior; Miramar Ship Index; Trameships.es – Cia. Tramediterranea; Andimar ES - Barcos de ayer y hoy.

(continua)

Rui Amaro

Sem comentários: