sábado, 11 de setembro de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 93

VÁRIOS NAVIOS SOFRERAM INCIDENTES Á ENTRADA DA BARRA DO DOURO E A MONTANTE


A 01/04/1932, pelas 11h20, o Norueguês NESTFOS, piloto Delfim Duarte, diante da Forcada guinou às pedras e largou o ferro de estibordo, tendo recuperado a amarra, seguiu rio acima mas ao passar junto das Lobeiras de Gaia desgovernou para bombordo e lança o ferro de estibordo, não conseguindo evitar que o seu bojo vá a roçar sobre o banco de areia da Porta Nova, acabando por não encalhar e vai dar fundo no lugar do Terreiro. Segue-se às 12h00, o Alemão LISBOA, piloto Mário Francisco da Madalena, entra a reboque do TRITÃO, frente ao Touro desgovernou para bombordo e lança o ferro de estibordo. Suspende a amarra e prossegue para o seu ancoradouro a Oeste da Cábrea.

A 02, cerca das 11h30, o Norueguês LYNGSTAD, piloto José Fernandes Tato, auxiliado pelo rebocador VOUGA 1º, vai sobre a restinga do Cabedelo, deixa cair o ferro de bombordo e máquina força toda à ré, safa-se da areia e segue o seu destino, indo amarrar no lugar do Jones.

A 03, pelas 13h10, o SILLARO, piloto Carlos de Sousa Lopes, rebocado pelo MARS 2º, dá forte guinada às pedras do cais do Touro, larga o ferro de estibordo mas ao suspendê-lo a amarra partiu-se e perde-se, seguindo para montante até ao lugar dos Vanzelleres e logo a seguir, às 13h15 é a vez do Português ALFERRAREDE, piloto Bento da Costa, vai sobre as pedras da Ponta do Dente sujeito a encalhar ou a ficar preso nas amarras da bóia, contudo consegue desviar-se com alguma dificuldade. Entretanto, ao passar junto da pedra do Touro, devido a mais um estoque de água, guina às pedras e é obrigado a lançar o ferro de estibordo. Manobra ao canal virando a amarra e ruma para montante até à amarração no lugar do cais do Monchique. Os restantes vapores passaram a barra sem qualquer percalço.

NESTFOS:

LYNGSTAD: 1928-1934/ 72m/ 1.002tb

SILLARO, 1925-1933/ 77m/ 1.129tb

LISBOA: 1911-1943/ 90m/ 1.799tb

ALFERRAREDE: 1027-1961/ 74m/ 1.452tb

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Miramar Ship Index.

(continua)

Rui Amaro

domingo, 5 de setembro de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 92


O VAPOR “RABAT” SOFRE ACIDENTE À SAIDA DA BARRA E BLOQUEIA O CANAL DE NAVEGAÇÃO





A 31/03/1932, pelas 10h15, quando o vapor Alemão RABAT, 91m/ 2.719tb, se preparava para deixar a barra do Douro, ao passar a Norte da pedra submersa denominada Jomboi, bateu no fundo pela amura de bombordo, obrigando o vapor a desgovernar, perigosamente para estibordo. O piloto Francisco Piedade mandou largar o ferro de bombordo para aguentar a guinada e máquina toda força à ré. Essa manobra não evitou que, aquela moderna e excelente unidade da marinha mercante Germânica, deixasse de embater no enrocamento entre a pedra da Gamela e o cais da Meia Laranja, ficando preso pela proa.

Uma vez, safo das pedras e dada as suas dimensões, bem como o seu calado de água de 17 pés, tentou desandar a proa, sendo desviado pela corrente do rio, que o fez atravessar-se por completo no canal, acabando por ficar encalhado de popa na ponta do Cabedelo e com a proa nas pedras a Oeste do cais da Meia Laranja. Note-se, que o Cabedelo encontrava-se, naquela ocasião, um pouco espraiado a Norte e como tal criava alguma dificuldade a uma boa navegação.

Dado o alarme, imediatamente compareceu o rebocador NEIVA, e também vieram as lanchas dos pilotos da barra, das quais a P4 conduzida pelo cabo-piloto Alexandre Cardoso Meireles, que levava a bordo os pilotos António Gonçalves dos Reis e José Fernandes Amaro Júnior. Mais tarde, vinda de Leixões, chegou a lancha P1. Essas lanchas trataram de passar cabos de arame da popa e da proa para o cais. Entretanto compareceram, além do salva-vidas da Afurada, os rebocadores MARS 2º, AGUILA, DEODATO e TRITÃO.

Por ordem do piloto-mor Francisco Rodrigues Brandão, que coordenava as operações de desencalhe, foi para bordo do RABAT o piloto José Fernandes Amaro Júnior, a fim de auxiliar o seu colega Francisco Piedade e para bordo do TRITÃO foram os pilotos Joaquim Matias Alves e Francisco Soares de Melo para dirigirem as manobras de reboque.

Às 11h35 o TRITÃO pegando à popa, começou a puxar fazendo-a mover-se um pouco mas não o conseguindo desencalhar do barranco de areia, teve que se esperar pela próxima preia-mar, continuando o vapor a bloquear a barra. Chegada a preia-mar da tarde, a popa começou a mover-se para Oeste. Largou-se a amarreta do rebocador e virou-se o ferro, ficando o RABAT de proa a Leste. Deixou-se os cabos de arame por mão e com a máquina a trabalhar devagar avante o vapor endireitou ao canal, seguindo rio acima indo amarrar no lugar do Cavaco.

O RABAT, que sofreu pequenos rombos à proa e a meia-nau, pertencia aos armadores OPDR, Hamburgo, tinha entrado a barra no dia 25, procedente de Hamburgo e Roterdão com carga diversa e oito passageiros e destinava-se às Ilhas Canárias via Lisboa, para onde zarpou mais tarde. Esse vapor, que foi lançado ao mar em 1929 pelo estaleiro Deutsche Werft, Hamburgo, encontra-se ainda afundado no porto Norueguês de Bodo, a uma profundidade de 40m, desde 04/10/1943, devido a ter sido atingido por um ataque de uma esquadrilha da Royal Air Force.

Antes do acidente do RABAT, que ficara atravessado ao rio, já tinham deixado a barra do Douro os seguintes vapores: Noruegueses SICILIA, piloto Hermínio Gonçalves dos Reis; DOURO, piloto Eurico Pereira Franco; Ingleses SELLINGE, piloto Joaquim Matias Alves; TEECO, piloto Francisco Soares de Melo; Holandês EUTERPE, piloto Joel da Cunha Monteiro; Estoniano KODUMAA, piloto Aires Pereira Franco e o vapor de pesca Português MACHADO, piloto António Duarte. Fora da barra aguardavam entrada, tendo ficado impossibilitados de o fazer, os vapores Noruegueses BREYDABLIK, LYNGSTAD e NESTFOS; Italianos EUDORA e SILLARO; Alemães KEPLER e LISBOA; Portugueses VILA FRANCA e ALFERRAREDE; Inglês BELTINGE e o Dinamarquês ROBERT MAERSK, os quais passaram a demandar a barra nos três dias seguintes, com alguma dificuldade, conforme se relata no episódio seguinte.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior, Oldenburg Portugiesische Dampfschiffs Rhederei – Reinhart Schmelzkopf, Imagens da imprensa diária.

(continua)

Rui Amaro