quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 211


NA BARRA DO DOURO NAUFRAGOU A TRAINEIRA "SANTA LUZIA 2ª"

A 12/12/1938, quando demandava a barra do Douro naufragou a traineira SANTA LUZIA 2ª, tendo sido salva toda a sua companha.
A traineira que pairava por fora da rebentação, aproveitando um liso oportuno fez-se à barra. O mar estava bastante agitado, e todas as manobras tinham de obedecer a uma grande prudência.
Quando a SANTA LUZIA 2ª começou a envazar numa vaga mais violenta partiu-se-lhe um gualdrope do leme, e como tal ficou sem governo, pelo que se apoderou da tripulação um enormissimo pavor, e a traineira começou a silvar estridentemente pedindo socorro, que fez afluir aos cais próximos grande número de pessoas, que também começaram a apelar por auxilio. Na Cantareira o salva-vidas VISCONDE DE LANÇADA foi de imediato lançado à água e seguiu ao encontro do naufrágio, que conseguiu a breve trecho aproximar-se da SANTA LUZIA 2ª, que entretanto encalhara no enrocamento do cais Velho, mais propriamente sobre as pedras da Forcada. Alguns tripulantes já tinham saltado de bordo para aquele cais, sendo auxiliado por populares, numa acção deveras abenegada e meritória.
O salva-vidas que correu sério risco recolheu a maioria da tripulação, conduzindo-a depois para terra. Outros camaradas em número de seis, que tinham saltado para a chalandra de bordo, foram levados para o centro piscatório da Afurada pela traineira PRAZERES 2º, que acabara de entrar a barra. A traineira naufragada acabou por se afundar.
Foram dignos dos maiores louvores a companha do salva-vidas da Foz do Douro, o VISCONDE DE LANÇADA, pelo arrojo e abnegação demonstrado. Faziam parte da companha os seguintes elementos: Estevão Luis Gonçalves, seu patrão, José Bilé, Jaime Duarte Lima, Fernando Matos Freitas, João Luis Gonçalves, António Sousa Lopes, António Maria da Fonseca, Francisco Patinha, Aires Patinha, António Lopes e António Bandeira.
Fonte: José Fernandes Amaro Júnior
(continua)
Rui Amaro

domingo, 25 de dezembro de 2011

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 210

MOMENTOS DE PAVOR NA BARRA DO DOURO – DUPLO ACIDENTE MARÍTIMO COM UMA LANCHA DE PILOTOS E O SALVA-VIDAS DA FOZ


A lancha P7 no lugar da Cantareira, Foz do Douro, finais da década de 40 / Corporação de Pilotos /.

O salva-vidas VISCONDE DE LANÇADA pronto a ser lançado à água / autor desconhecido /.

A 08/12/1938, ao princípio da tarde, viveram-se momentos de pavor, junto à entrada da barra do Douro, diante do lugar da Cantareira, ali junto à estação de pilotos, em consequência de um duplo acidente marítimo que poderia ter trágicas consequências.
Cerca das 13h00, na corporação dos Pilotos da Barra do Douro, foi recebida uma comunicação da Estação Semafórica do Monte da Luz que o vapor Norueguês H. J. KYVIG estava à barra, o qual dentro em pouco, depois do respectivo piloto ter subido a bordo, iria demandar a barra do Douro. Logo seguiu para o meio do rio a lancha da "assistência ou do piloto-mor", a P7, dos pilotos, a mais pequena da frota, levando a bordo o sota-piloto-mor José Fernandes Tato, e o motorista Eduardo Fernandes de Melo, a fim de marear aquele vapor na eventualidade de qualquer desvio do canal de navegação. Perto das 13h30, o vapor H. J. KYVIG começou a demandar a barra. A lancha P7 dirigia as manobras para facilitar a passagem do navio na parte mais critica do canal. Colocou-se à sua frente, a fim de orientar o piloto de bordo da rota a seguir. A certa altura, porém falhou o motor da lancha, e esta parou, ficando à deriva. No entanto, o vapor H. J. KYVIG continuou a singrar e a aproximar-se da pequena embarcação, sem que tivesse qualquer hipótese de deter a sua marcha ou desviar-se para um dos bordos. Compreendendo o perigo em que estavam, o motorista, com uma serenidade extraordinária tentou em vão fazer funcionar o motor. Nada! A lancha não se movia e o casco enorme do vapor H. J. KYVIG continuava a avançar. A bordo do vapor Norueguês aperceberam-se rapidamente de que o sota-piloto-mor e o motorista corriam perigo de morte. Diligenciaram mudar o rumo, mas logo abandonaram essa ideia. Pois se o fizessem teríamos a lamentar uma desgraça. O H. J. KYVIG iria por certo encalhar no Cabedelo. O sota-piloto-mor ordenou imediatamente que se utilizassem os remos da lancha para evitar o esmagamento. Também foram inúteis aqueles esforços! Nada já podia impedir o desastre.
Sem hesitação os dois tripulantes da lancha P7, atiraram-se à água, a fim de não serem apanhados pelo vapor. No mesmo instante, o enorme casco do H. J. KYVIG atingiu a lancha, voltou-a e passou sobre ela.
De terra, outros pilotos e numerosos populares que assistiam à cena começaram a gritar desesperadamente por socorro. No mar, os dois náufragos lutavam com as águas. Ainda se agarraram à lancha, que, apesar de colhida pelo H. J. KYVIG, se conservava à superfície, mas ameaçando afundar-se de um instante para o outro, e o sota-piloto-mor estava com dificuldade em nadar, pelo que era amparado pelo motorista.
Em terra, a noticia corria a semear o pavor e a consternação: - «o sota-piloto-mor e o motorista morreram afogados!».
Logo numerosos marítimos afluíram ao cais do Marégrafo, emfrente à Cantareira, a fim de saltarem para a lancha salva-vidas a remos VISCONDE DE LANÇADA e tentarem recolher os tripulantes da lancha sinistrada. Entraram nela umas doze pessoas. Entre elas estavam os pilotos da barra José Fernandes Amaro Júnior, António Duarte, Francisco Soares de Melo, Hermínio Gonçalves dos Reis, e assalariados da corporação de pilotos e outros marítimos, Ernesto Leite, Alfredo da Silva Pais, Joaquim Fernandes (o Bexiga), Jorge Lopes, José Gomes, Inácio Fernandes, António Soares Lopes, José Brandão, todos eles residentes na Foz do Douro.

 
Tripulantes voluntários do VISCONDE DE LANÇADA: 1- José Fernandes Amaro Júnior; 2 - António Duarte, ambos pilotos; 3 - Ernesto Leite, 4 - Alfredo da Silva Pais, assalariados dos Pilotos; 5 - Aurélio Soares Lopes e Joaquim Fernandes (o Bexiga); marítimos; José Fernandes Tato, sota-piloto-mor e Eduardo Fernandes de Melo, motorista da P7 / jornal O Comércio do Porto /.

 
Tripulantes voluntários do VISCONDE DE LANÇADA: António Soares Lopes, Alfredo da Silva ais, Ernesto Leite, José Gomes, Inácio Fernandes, José Brandão e Joaquim Fernandes / Jornal de Noticias /.

Quando toda a companha composta de voluntários, se encontrava a bordo do salva-vidas, começaram através do pequeno guindaste a desamarrá-lo e arriá-lo para a água. Fizeram-no, porém, com tanta infelicidade, que uma das travessas de madeira do aparelho se partiu e uma das alças rebentou. A embarcação voltou-se, caindo à água da altura de cinco metros, todas as pessoas que nele se encontravam. Seguiram-se momentos de indescritível pavor.
Os sinistrados gritavam aflitivamente por socorro, debatendo-se numa situação difícil. Correram em seu auxílio numerosos pescadores nos seus barcos.
Logo após o desastre sucedido ao salva-vidas, o piloto da barra Manuel Pereira Franco, sem perda de tempo, meteu~se num pequeno caíque pertencente a um pescador do Ouro, e remou à jinga para a lancha P7, que continuava semi-afundada, no local onde fora colhida pelo H. J. KYVIG, resgatou os dois tripulantes – José Fernandes Tato e Eduardo Fernandes de Melo – que se encontravam agarrados à borda, a tiritar de frio. O primeiro abatadissimo fora acometido de um princípio de congestão, quando a lancha se voltou, e teria sucumbido nas ondas, se o companheiro, magnifico nadador, o não tivesse salvo. Trazidos para terra, o sota-piloto-mor foi levado para sua casa, ali perto, na rua de São João da Foz, assim como o motorista seguiu para a sua residência, na Travessa das Laranjeiras, perto da igreja da Foz, sem que antes não deixassem de ser examinados pelo clínico dr. Fernando Prata Rebelo de Lima, residente ali perto.                    
A lancha P7 foi recuperada e varada na lingueta dos Pilotos. A fim de ser reparada das avarias sofridas. 
Nalguns os ferimentos foram ligeiros. O Aurélio Soares Lopes, porém ficou com duas costelas fracturadas, e o Alfredo da Silva Pais, sofreu fractura do braço esquerdo, pelo que foram conduzidos ao Hospital da Misericórdia Santo António, tendo regressado depois as suas casas.
Os restantes recolheram-se a suas casas, conquanto, no dia seguinte os acidentados José Fernandes Amaro Júnior, António Duarte, Francisco Soares de Melo e Ernesto Leite foram examinados pelo médico do Departamento Maritimo do Norte, tendo os dois primeiros recolhido ao Hospital Militar, onde estiveram internados cerca de dez dias, e ficando mais alguns dias de convalescença em suas casas. O terceiro ficou em descanso na sua residência, e o quarto elemento entrou em tratamentos na companhia de seguros.
Identico acidente com o salva-vidas VISCONDE DE LANÇADA, pertencente à Estação de Socorros a Náufragos da Foz do Douro, ocorreu por volta de 1967, por se ter rebentado a alça da proa e o salva-vidas ficou dependurado pelas outras três alças de proa para a água e popa para o ar.  Os tripulantes foram cair desamparadamente na água. Foram todos para o Hospital
Consta que foi uma uma bateira do sável que se virou na restinga do Cabedelo e o salva-vidas da Foz VISCONDE DE LANÇADA ia socorrer os náufragos, que acabaram por ser resgatados pelo salva-vidas da Afurada.
Idêntico episódio, se bem que de maior gravidade, ocorreu na barra em 03/12/1920 com a uma catraia da assistência que orientava a entrada do vapor Holandês EUTERPE, e para fugir a uma guinada daquele vapor foi apanhada por uma volta de mar mais violenta, fazendo com que se voltasse na restinga do Cabedelo, perecendo nas águas revoltas sete dos nove homens da companha. Os sobreviventes foram o piloto-mor e um remador.
Após o acidente com a lancha P7, a sinalização da entrada dos navios passou para o cais do Marégrafo ou dos Pilotos, junto da casa da consulta dos pilotos, onde o piloto-mor através de uma bandeira dos Pilotos hasteada numa pequena vara, orientava o seu subalterno a bordo, quando o navio ia de guinada.


o sinaleiro dos pilotos pronto a retirar o galhardete da Assistência no cais do Marégrafo ou dos Pilotos, após a entrada do SEAMEW / Diário do Norte /.


O vapor H. J. KYVIG / foto de autor desconhecido - Lillesand Monstingskrets.NO /.

  H. J. KYVIG – imo 5605243/ 62m/ 849tb/ 9nós; 03/1921 entregue por Mjellem & Karlsen, Bergen, a Tormod & Bakkewigs & Son A/S, Haugesund; 1926 H. J. KYVIG, A/S Kyvigs Rederi, Haugesund; 26/19/1940 Atacado e afundado por aeronave da da RAF perto de Geita LH, Sunnfjord, perecendo 5 tripulantes.
P7 – Desconheço a data do lançamento á água e nome do seu construtor, apenas sei que foi construída como uma catraia a remos e por volta de 1935 foi reconstruída como uma lancha a motor das amarrações de boca aberta, contudo estava equipada com dois remos, para qualquer eventualidade de falha de motor. Foi vendida na década de 80 para a Régua, e rebaptizada de SANTA MARIA.

 
A lancha SANTA MARIA ex P7 atracada no cais do Marégrafo, Foz do Douro / Rui Amaro /.
 
VISCONDE DE LANÇADA - lancha salva-vidas a remos, construida em Inglaterra em 1908, juntamente com a sua gémea VISCONDESSA DE LANÇADA, esta que fazia estação no porto de Carreiros (praia do Molhe de Carreiros), casco de chapa de ferro zincada. A sua guarnição era composta de 10 remadores capitaneados por dois arrais, um deles o patrão e outro um sota, os quais a governavam com um remo cada um apoidados a forquetas à popa e estava colocado no cais do Marégrafo, protegido por gradeamento. Primitivamente além do arrais patrão ia também um piloto da barra como sota. Segundo consta à época eram duas das melhores embarcações salva-vidas da Península.
No início dos anos 70 foi abatida ao efectivo, e posicionada junto da estação de Socorros a Náufragos da Foz do Douro, próximo da praia das Pastoras, como monumento, e mais tarde, com a saída dos B. V. Portuenses da referida estação de socorros a náufragos, foi levada para o seu quartel de Francos, Porto, onde julgo que ainda por lá estará.
Os dois salva-vidas privados foram oferecidos à barra do Douro pelo Visconde de Lançada, um oficial da armada, que residia na Foz do Douro. Na Cantareira existiam dois salva-vidas, o VISCONDE DE LANÇADA e o PORTO, este do ISN.


 
O salva-vidas VISCONDE DE LANÇADA junto da Estação de Socorros a Náufragos da Foz do Douro, 02/1981 / Rui Amaro /.

NOTA DO AUTOR – Já não me recordo de todo o episódio relatado por meu pai, um dos acidentados, mas parece ter havido um pouco de precipitação na ânsia de salvarem os dois camaradas em dificuldades, ali a uns duzentos e tal metros do aparcamento do salva-vidas, com um ancoradouro importante como o da praia da Cantareira, com tanta embarcação disponível ali ancorada ou mesmo acostada, incluindo lanchas dos pilotos, possivelmente estariam ausentes ou ocupadas em serviços no rio, um simples bote resolveria o problema, como de facto ocorreu com o caíque que o piloto Manuel Pereira Franco foi salvar os dois camaradas da corporação de pilotos.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Jornal O Comércio do Porto; Lillesand Monstingskrets.NO.
(continua)
Rui Amaro

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