sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 259


O VAPOR INGLÊS “FENDRIS” CHEGA À BARRA E GENTE DE GRANDE CORAGEM

A lancha de pilotar P4 / foto de autor desconhecido - colecção de Rui Amaro /.

1946, um dia dos últimos meses do ano, o moço da tabela Álvaro Lima (Conde) chega à sala dos pilotos da estação da Foz do Douro e entrega ao piloto Hermínio Gonçalves dos Reis, de serviço à corporação, o livro chamado da “tabela”. Nesse livro está registado pelo telegrafista Barbosa, da Estação Telegráfica e Semafórica da Cantareira: Às 15h15 um vapor ao norte. Esse vapor é o Inglês FENDRIS, 69m/1.268tb, gémeo do PROCRIS e do SARDIS, muito conhecidos e ainda hoje recordados nas zonas ribeirinhas do Porto e Gaia, os quais sobreviveram à guerra de 1939/45, tendo contribuído bastante para a vitória dos aliados. Aquele vapor procede do porto de Glasgow com carga diversa e ostenta içada a bandeira “G”, três listas verticais amarelas e azuis, cujo significado é “peço piloto”, e ainda a representativa da letra “Q”, toda amarela, pedindo “livre prática” à autoridade sanitária, todas elas do C.I.Sinais.   
Dado a hora da maré estar próxima, a lancha de pilotar P4 larga das escadas dos pilotos no cais do Marégrafo, levando a bandeira dos pilotos na adriça da carangueja do seu mastro, debruada a azul com a letra P a preto sobre fundo branco, e sai a barra ao encontro do FENDRIS, que entretanto paira ao largo aguardando piloto. A lancha a cujo leme está o cabo-piloto Manuel de Oliveira Alegre, aborda aquele vapor, estando às defensas o seu mestre Eusébio Fernandes Amaro e o marinheiro Eduardo Piedade e de atenção ao motor o motorista Joaquim dos Santos Jeremias, subindo a bordo pelas escadas de quebra-costas o piloto Eurico Pereira Franco e na lancha permanece o seu colega Carlos de Sousa Lopes, que seguira a bordo na eventualidade da chegada de outro navio. Logo após o piloto da barra ter saltado para bordo, a bandeira da letra “G” é arriada e içadas a bandeira nacional de Portugal e a da letra “H”, cores vermelha e branca na vertical, que indica piloto da barra embarcado.
O piloto Eurico Pereira Franco fazia parte de uma família de oito elementos da corporação, sendo seis pilotos e um arrais, entre irmãos e um cunhado, todos oriundos das artes pesqueiras da Foz e ainda um vigia/sinaleiro, seu filho, que tinha o nome do pai. Desses oito elementos dessa família, o Aires Pereira Franco, que residia na Cantareira, faleceu no mês de Fevereiro de 2006 com a linda idade de 101 anos, o qual foi um experimentado profissional, como piloto prático e cabo-piloto. Além disso, participou em vários salvamentos de tripulantes de embarcações em dificuldade mas muito, especialmente, na década de 60 do século XX, quando o lanchão-motor português MANELICA, 27m/86tb, à noite frente a Massarelos, em plena cheia, partira-se-lhe as amarras de terra e garrou para o meio do rio, tendo permanecido durante algum tempo apitando a sirene com toques lúgubres de pedido de socorro, até ter sido levado pela cheia barra fora, sendo encontrado ao largo da costa pela traineira DIAMANTE, que o conduziu para Leixões. Tempo suficiente, para que o Aires Pereira Franco, tomasse o leme da lancha P5, que estava amarrada na margem norte abrigada da cheia e não olhando a perigos, juntamente com o piloto Joaquim R. Cândido, mestre Manuel dos Reis, motorista Manuel da Silva Pereira e o marinheiro Manuel (Charuto) afrontasse a forte corrente da cheia e resgatasse toda a equipagem do MANELICA, A estes elementos da corporação de pilotos há que denominar como GENTE DE GRANDE CORAGEM.

O antigo lanchão-motor Português MANELICA, após reconstrução, algures em Cabo Verde.

Aliás, sempre foi atributo de todos os pilotos das barras e seu pessoal auxiliar serem dos primeiros elementos a avançar em socorro das vitimas de naufrágios ou durante a guerra de 1939/45 na busca e salvamento de aviadores, Aliados ou Alemães, cujos aviões se despenharam ou foram abatidos ao largo da costa, fosse nas suas próprias embarcações ou tripulando as lanchas salva-vidas locais e isso é provado pelas muitas condecorações e diplomas, que o I.S.N. agraciou as várias corporações de pilotos das barras do país e seus elementos, não deixando aqui de lembrar, entre outros, o mestre da lancha de pilotar em serviço na barra do Douro, Eusébio Fernandes Amaro e os seus camaradas.
O piloto Eurico Pereira Franco chegado à ponte de comando, onde o capitão o espera, informa-se de alguns elementos relativos à carga e sobre os vícios de leme ou da máquina, além de mandar colocar os ferros a prumo, ou seja prontos a largar ou mesmo a desmanilhar a amarra, caso haja necessidade, visto a barra diante do Touro estar um pouco apertada, originando alguma corrente anormal de águas de cima. Por esse motivo e a fim de se evitar qualquer acidente por estoque de água, vai seguir até às bóias da Cantareira assistido pelo rebocador URANO, com a amarreta pegada à proa e através de silvos da sirene de bordo, assinala o seu calado de água para terra. O piloto-mor José Fernandes Tato, imediatamente manda içar no mastro do cais do Marégrafo e do Castelo, a bandeira vermelha seguida dos galhardetes indicativos de 16 pés com balão preto no topo e aquele piloto assume o comando da manobra de pilotagem, desde fora da barra até à amarração no porto comercial do Douro, indo o FENDRIS, que efectuará as suas operações de descarga e carga, com intervenção de barcaças, fundear no lugar dos Vanzelleres, local onde se situa o actual cais de Gaia, a dois ferros à proa e ancorote dos pilotos pela popa ao noroeste, além de reforço de cabos passados aos peorizes em terra, devido a eventualidade de cheia no rio, não antes de ter sido visitado, junto do lugar do Ouro, pelo médico da Sanidade Marítima, a fim de lhe conceder “livre prática”, visto não haver a bordo qualquer foco infeccioso.

FENDRIS / autor desconhecido - Photoship Co. UK /. 

O vapor “FENDRIS” era comandado pelo Cdt. John.W.Cowie, veterano da barra da cidade do Porto, que serviu desde oficial praticante a capitão em grande parte da frota do armador Moss Hutchinson Lines, Glasgow, que escalava os portos portugueses com regularidade. Esse experimentado capitão legou as suas cinzas à barra do Douro, as quais a 19/07/1957 na presença de uma enorme multidão, foram lançadas de bordo do navio-motor Inglês SEAMEW às águas daquela perigosa barra, tendo sido aquele navio, poucos anos antes, o seu último comando. No cais da Meia Laranja existe uma placa em bronze comemorativa desse acontecimento, todavia não seria demais dar-se o nome de John W. Cowie a uma artéria da Foz do Douro, o mais próximo da barra.
 (continua)
Rui Amaro


ATENÇÃO: Se houver alguém que se ache com direitos sobre as imagens postadas neste blogue, deve-o comunicar de imediato. a fim da(s) mesma(s) ser(em) retirada(s), o que será uma pena, contudo rogo a sua compreensão e autorização para a continuação da(s) mesma(s)neste Blogue, o que muito se agradece.
ATTENTION. If there is anyone who thinks they have “copyrights” of any images/photos posted on this blog, should contact me immediately, in order I remove them, but will be sadness. However I appeal for your comprehension and authorizing the continuation of the same on this Blog, which will be very much appreciated.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012




SAUDAÇÕES FESTIVAS



Antigas estações de pilotos da Foz do Douro, à esquerda a 2ª e à direita a 3ª e última /foto Rui Amaro/.

2012 / 2013


BOAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO

AUGURI DI BUON NATALE E FELICE ANNO NUOVO

MERRY CHRISTMAS AND HAPPY NEW YEAR

FELICES PASCUAS Y PROSPERO ANO NUEVO

JOYEUX NOEL ET MEILLEURS VOEUX DE NOUVEL ANNÉE

EIN PROHES WEINACHTSFEST UND EIN GUTS NEUES JAHR



RUI AMARO – OPORTO - PORTUGAL