O VAPOR NORUEGUÊS “GALATEA” CORREU ´SÉRIOS RISCOS DE ACIDENTE NO RIO DOURO
O GALATEA suporta as águas de cima, fortemente amarrado ao cais do Terreiro / foto de autor desconhecido /.
O GALATEA acostado ao cais do Terreiro, pouco antes de iniciar as manobras de largada / jornal O Comércio do Porto /.
Na Ribeira a multidão segue ansiosa as complicadas manobras de rotação do GALATEA / jornal O Comércio do Porto /.
Uma das barcaças abalroadas pelo GALATEA e que se afundou ficando apenas com a proa de fora de água / jornal O Comércio do Porto /.
A 02/04/1956, às 14h00,
na Régua, as águas do rio Douro já tinham baixado para 8,4m depois de terem
estado em 8,65m pelas 09h00, o que, mesmo assim, representava uma descida de
0,63m em vinte e quatro horas. Embora, a corrente do rio Douro se mantivesse
bastante forte, parecia menos caudalosa do que nos dias anteriores, pelo que o
piloto-mor José Fernandes Tato autorizou a abertura da barra à navegação, e às
17h45 entrava a barra o navio-motor SECIL NOVO, 55m/725tb, sem qualquer percalço,
o qual se achava arribado no porto de Leixões, desde há oito dias.
Nesse mesmo dia, o vapor
Norueguês GALATEA, 74m/1.150tb, da praça de Bergen, que se encontrava atracado ao
cais do Terreiro, onde carregara cerca de 1.500 toneladas de sucata de ferro,
estava desde há vários dias pronto para sair. Cerca das 19h00, o piloto Eduardo
Fernandes Melo iniciou a manobra de largada, apesar da corrente de águas de
cheia, ainda estar visível. Á proa pegou o rebocador MERCÚRIO 2º, e à popa o MANOLITO,
embarcações pequenas e de pouca potência, que auxiliaram a conduzir o vapor
para o meio do rio. Talvez, devido à pouca força dos rebocadores, o GALATEA começou
por descair, perigosamente para estibordo e logo a seguir o cabo de reboque do MANOLITO
rebentou, e então o vapor acabou por ser impelido para a margem de Gaia, tendo
embatido com um pião de barcaças, cinco das quais começaram a meter água e duas
delas foram levadas pela corrente, tendo sido recuperadas um pouco acima do
lugar de Sto. António do Vale da Piedade, pela lancha dos pilotos, que assistia
às manobras do vapor.
Entretanto, ao longo
de ambas as margens, juntaram-se centenas de curiosos, sempre presentes nestas
ocasiões, os quais assistiam com ansiedade às difíceis e temerosas manobras,
que o GALATEA fazia para aproar à barra. Como se tivesse frustrado a tentativa
de desandar, pois por algumas vezes aquele vapor seguia rio abaixo de través, o
piloto optou e muito bem por deixar o vapor ir de ré ao sabor da corrente e
encostando-se um pouco ao cais de Gaia, numa manobra arriscada e que fora bem calculada,
o rebocador MERCURIO 2º, pegando à proa, começou a puxar para bombordo e apanhando
a corrente do rio por estibordo, conseguiu virar, ligeiramente a proa diante do
lugar da Cruz, evitando a penedia das Lobeiras de Gaia, largando o cabo de
reboque. Finalmente já perto do cais das Pedras, consegue tomar a posição
correcta em direcção à barra. Uma longa fila de automóveis acompanhou, nas duas
margens, a saída do GALATEA, que passou a barra do Douro, pouco depois das
20h00, já com os faróis de navegação acesos e desembarcando o piloto ao largo
do esporão de Leixões, rumou ao porto sueco de Halmstad.
Nas barcaças
acidentadas, fundeadas próximo do lugar do cais de Santo António do Vale da
Piedade, procedeu-se depois ao escoamento das águas, por meio de estanca-rios,
de modo a evitar que viessem a afundar-se.
Mas os marítimos que
se empregavam nesse trabalho não conseguiram, com tão fracos meios, alcançar os
seus objectivos, de modo que foi necessário chamar os socorros dos Bombeiros
Municipais de Gaia, que ali compareceram prontamente, assim como algumas
corporações dos voluntários do concelho.
Sob orientação do
chefe Luis, aquela corporação montou duas potentes moto-bombas e, auxiliados
pelos Bombeiros Voluntários de Coimbrões, conseguram, ao fim de duas horas e
meia, escoar as águas de uma grande barcaça, com a matrícula TL 797-P e que,
como as quatro restantes, pertencia á firma Bernardino Marques da Silva, com
escritório na Avenida Diogo Leite, 294-1º, em Gaia.
Aquela barcaça e
outra da mesma tonelagem foram, depois, levadas para uma lingueta, onde ficaram
varadas.
SECIL NOVO (2) – 54,88m/724tb;
12/03/1954 entregue pela Companhia União Fabril (estaleiro da Rocha), Lisboa, à
Secil – Cia Geral de Cal e Cimento, Setúbal, para o transporte de cimento entre
o Outão e Lisboa, estendendo-se mais tarde ao Douro; 12/11/1969 quando em
viagem do Outão para Lisboa, devido ao
nevoeiro, encalhou ao norte do cabo Espichel, sendo posto a flutuar no mesmo
dia auxiliado por rebocadores do porto de Lisboa; 12/1986 devido à Secil
abandonar o estatuto de armador, o SECIL NOVO (2) foi adquirido pela Transinsular,
tendo realizado transporte de cimento entre alguns portos Portugueses por algum
tempo, acabando por ser imobilizado no porto de Lisboa; 21/04/1989 chegava a
Alhos Vedros, estuário do Tejo, para demolição.
GALATEA – imo 5607169/ 74m/
1.150tb/ 9kn; 07/1930 entregue por Trondhjems Mekaniska Verkested, Trondheim,
como SIAK a Bull Nils, Tonsberg; 1940/45 esteve ao serviço dos Aliados a partir
do Reino Unido; 1945 SIAK, Bull Nils, Tonsberg; 1955 GALATEA, T. Gjesdal,
Norway; 07/1960 chegava a Bergen para demolição.
Fontes; José
Fernandes Amaro Júnior, Miramar Ships índex, jornal O Comércio do Porto.
(continua)
Rui Amaro
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