O TRÁGICO NAUFRÁGIO DO IATE-MOTOR “METEORO” QUANDO INESPERADAMENTE SE FEZ À BARRA DO DOURO SEM AUTORIZAÇÃO DE TERRA
O METEORO no porto de Leixões / Imprensa diária /
O METEORO é atingido por uma enorme volta de mar que o vai afundar / Imagem de A. Teixeira da Costa /
O iate-motor Meteoro, precedido a pouca distância do navio-motor Caramulo, é atingido por um enorme andaço de mar, que o vai fazer adornar e afundar-se, atirando para as águas revoltas a maior parte da tripulação e o piloto da barra, e tudo levou a crer que os motoristas devem ter ido com o navio para o fundo do oceano. /(c) Imagem de A. Teixeira da Costa, publicada na noticia do JN de 17/01/1947/.
O CARAMULO continua a demandar a barra e pela sua popa o METEORO acabava de submergir, e instantaneamente dava-se um novo liso de mar / imagem de A. Teixeira da Costa /.
O arrojado e desditoso piloto Pedro Reis da Luz /foto de família /.
A 16/01/1947, pairavam fora da barra vários navios e outros estavam abrigados na bacia do porto de Leixões, dentre os quais o iate-motor Português METEORO, de 28,98m/130tb, que estivera no molhe Sul a descarregar sal vindo de Setúbal.
Dado que a barra do Douro se encontrava impraticável para a saída da lancha dos pilotos P4, todos os navios iriam ser abordados pela lancha P1, da secção de Leça da Palmeira – era uma alternativa que a maior parte do portos Portugueses não possuía, o que lhes restringia o movimento marítimo em ocasiões de mar nas suas barras – pelo que os pilotos, manhã cedo, seguiram para Leça da Palmeira no carro electrico da linha 1, tendo, todos eles, antes recebido instruções do piloto-mor José Fernandes Tato, que em principio haveria movimento para os navios de maior porte e os dois iates-motor, que eram o METEORO e um outro, de que já não me recordo do nome, deveriam vir à barra e aguardar ordens.
Após a usual consulta dos pilotos, no cais do Marégrafo, presidida pelo piloto-mor e verificando-se que a ondulação, embora de andaço, não impedia a entrada dos navios de maior porte, cerca das 09h00 foi içado no mastro do cais do Marégrafo e do castelo da Foz, o grupo de bandeiras relativo ao calado de água de quatro navios de maior porte. Três desses navios Portugueses, aproximaram-se da barra seguidos do pequeno METEORO, tendo tomado a dianteira o vapor OUTÃO, 41m/218tb, seguido do navio-motor RUI ALBERTO, 49m/474tb, que passaram a barra sem grandes percalços, e logo a seguir vem de entrada o navio-motor CARAMULO, 46m/340tb,todos carregados com cimento ensacado, o qual a uma certa distância foi envolvido por forte ondulação, que não lhe causara qualquer contrariedade.
O
malogrado piloto deve ter olhado para noroeste, lá para os lados da Longas, e
vendo que se ia dar um liso e desobedecendo às ordens do piloto-mor faz-se à
barra, tomando a vez do petroleiro PENTEOLA, 53m/544tb, que já vinha no enfiamento
da barra e acabou por desandar para fora, ainda com o CARAMULO, ali mesmo à sua
proa
e muito
possivelmente lhe tolheria os movimentos. O METEORO vinha em lastro, portanto
presa fácil da ondulação. A cerca de uns quatrocentos metros da bóia da barra, começa
a suportar a forte maresia traiçoeira, aliás já não havia a mínima hipótese de
desandar para fora, e atingido por um enorme andaço de mar, riscando na vaga
acaba por adornar sobre bombordo e submerge nas águas daquele mar maldito,
vendo-se o piloto e a tripulação de convés a debaterem-se com a maresia,
desaparecendo um aqui, outro ali.
Gritos
lancinamtes de quem presenciava aquele horrendo cenário, naquele local que
tantas vezes, tem sido teatro de tragédias semelhantes. Um dos náufragos nadava
para a barra mas sentindo que a corrente do rio lhe era desfavorável, teve a
inteligência de se deixar ir ao sabor da mesma, nadando para o largo, acabando
por ser resgatado pela lancha P1, timonada pelo cabo-piloto Aires Pereira
Franco tendo a seu lado o piloto Eurico Pereira Franco, irmãos e tamém cunhados do
piloto Pedro Reis da Luz. Um outro náufrago segue o piloto, este de compleição
forte, que conhecedor nato da área, nada na direcção do molhe de Felgueiras,
infortunadamente recebe uma pancada de um qualquer destroço, e quando está
perto do referido molhe bate com a cabeça numas pedras, ficando em dificuldades.
O outro náufrago foi resgatado pelo salva-vidas VICONDE DE LANÇADA, da Foz do
Douro, sob as ordens do seu patrão Zé Bilé. As lanchas P4 e P2 timonadas, respectivamente pelo sota-piloto-mor Manuel de Oliveira Alegre e motorista Joaquim
da Fonseca (Quim do Amaro). O salva-vidas GONÇALO DIAS, da Afurada, também compareceu
na barra, além dos rebocadores fluviais MERCURIO 2º e DEODATO, e de Leixões
veio o VOUGA 1º. Várias corporações de bombeiros do Porto e Matosinhos
acorreram com o seu material de socorros a náufragos e ambulâncias.
Em dado
momento, Fernando da Silva Marques (Pacharra), um jovem local de 19 anos, vendo
o piloto Pedro Reis da Luz a desfalecer, não hesita, salta para as águas revoltas
e nada célere em seu auxilio, alheio a todos ao perigos que o ameaçavam no meio
de perigosos escolhos, ali à entrada do caneiro da praia das Pastoras. As vagas
altas como montanhas faziam medo. Munido de uma corda, instruído e auxiliado de
cima do paredão pelo velho lobo-do-mar, José Teixeira da Silva (Zé Relojoeiro),
possuidor de um palmarés de enorme de número de salvamentos e muito
entendido nestas lides e ainda pelo ex marinheiro Ilidio Costa Pinto, além de
outros locais, conseguiu trazer o infeliz prático da barra até às escadas de
leste do paredão. Uma ambulância levou-o inanimado para o Hospital da Misericórdia (HGSA), onde já chegou sem vida.
Pedro Reis
da Luz, 50 anos de idade, casado, prático muito competente há 22 anos, e fora
protagonista de vários salvamentos naquela maldita barra, onde veio a parecer,
pelo seu arriscado e desnecessário arrojo. A tripulação era na sua maioria
Algarvia, dois deles naturais de Ílhavo e um de V. N. de Milfontes. Um jovem da
praia da Aguda veio no navio a convite do motorista, seu cunhado, e acabou por
perder a vida.
Eu, com os
meus 9 anos, e minha mãe nos 40, vivendo aqui junto da barra do Douro, ficamos
na maior das aflições, visto constar que era o meu pai, o piloto José Fernandes
Amaro Júnior, que conduzia o METEORO, felizmente estava a bordo de um outro
iate-motor, o pequeno GUIDA, carregado com carvão, que estava no rio, lugar da Carbonífera do Douro, a aguardar ordens para largar, e ao ver passar os
pronto-socorros e ambulâncias em alta buzineira e velocidade na margem de
Miragaia, disse para o mestre, olhe já houve naufrágio na barra, e entretanto
recebeu informação para não desamarrar o navio e voltar à Cantareira.
O METEORO,
que fora construído pelo estaleiro Rijkswerf, Holanda, em 1907 para o tráfego
comercial, pertencia à Sociedade de Transportes Marítimos Judith, Lda, Porto,
que o colocou no tráfego nacional costeiro, com eventuais idas a Marrocos e
Gibraltar, a qual também fora proprietária dos iates-motor JUDITH 1º, CUMPRIDOR
e mais tarde do VIANENSE. Havia sido adquirido, tempos antes, ao velejador nacional
António Herédia, que o utilizava como iate de recreio sob o nome de NEREIDA, e
tivera como seu capitão, João dos Santos Redondo, piloto da barra do Douro e Leixões.
/Blogue
NAVIOS Á VISTA 29/05/2008/
(continua)
Rui Amaro
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