UM PILOTO DO
DOURO DE QUINZENA Á ESTAÇÃO DE LEÇA DA PALMEIRA EMBARCA NO N/M HOLANDÊS “ALCYONE”
PARA QUE AQUELE NAVIO NÃO PERCA A MARÉ, E ENTRA JÁ COM VAZANTE FORTE.
O ALCYONE cruzando de saída a barra do Douro em 09/11/1949 / F. Cabral, Porto /
A 07/11/1949,
pelas 10h30, subitamente avista-se navegando de rumo à barra do Douro,
envolvido em fortes aguaceiros, por fora do farol do Esporão de Leixões, o
navio-motor Holandês ALCYONE, 42m/359tb, procedente de Roterdão e Anvers com carga
diversa.
A lancha P9 não
pode sair a barra devido a alguma rebentação e à maré, que com bastante
escarcéu, já vai com cerca de uma hora de vazante. Dado que já não há tempo
para a ida e embarque do piloto de escala da estação da Cantareira com recurso
à lancha P1, do porto de Leixões, o piloto-mor José Fernandes Tato ordena ao piloto
do Douro José Fernandes Amaro Júnior, cumprindo a prestação de um dos seus períodos
de quinzenas à secção de Leça da Palmeira, onde se encontrava, que embarque
naquele navio e se faça à barra do Douro sem demora.
Aquele piloto
salta para o ALCYONE, e de imediato ruma ao Douro, e através de toques de sirene
assinala o seu calado de água de 10 pés. De imediato, avista içada no mastro do
castelo da Foz, a bandeira vermelha, sinal de barra franca e com a máquina em
toda a força avante faz o enfiamento à barra, envolvido em alguns pampeiros de
chuva, bastante vento, vaga de noroeste e escarcéu próprio da corrente da
vazante, que obrigam o navio a desviar-se do canal mas sem causar preocupações
de maior, visto ser de boa máquina e leme. No entanto, quando o navio alcança a
Meia Laranja ou seja a zona da barra mais esganada, devido ao Cabedelo estar
demasiado a norte, encontra alguma dificuldade em avançar, apesar da máquina
estar a trabalhar no máximo da sua potência mas manobrando a bombordo ou a estibordo,
procurando as revessas, lá vai avançando.
Aquela situação faz
lembrar, àquele prático da barra, o que velhos mareantes e pilotos da Foz lhe
contavam na sua infância, que em casos semelhantes eram estabelecidos cabos aos
peorizes nos cais e de bordo eram virados com a ajuda do molinete, fazendo com
que os vapores lá conseguissem vencer a corrente e atingir o pontal da
Cantareira. Este procedimento tinha a colaboração voluntária dos curiosos em
terra, que auxiliavam o pessoal dos pilotos na amarração dos cabos. Vicissitudes
idênticas passavam-se com embarcações de pesca e até mesmo com traineiras, que
só ultrapassavam a forte corrente, se puxadas à sirga com a prestimosa ajuda de
populares.
Após, ter
alcançado as bóias dos Arribadouros, o ALCYONE, apenas abranda a marcha junto
do lugar do Ouro, a fim de receber a visita da Sanidade Marítima e retomando a
marcha segue rio acima até dar fundo a dois ferros, com ancorote a sudoeste pela
popa e cabos passados para terra, diante da lingueta da Cábrea, terminando o
serviço cerca das 12h30.
O ALCYONE, que se
encontrava fretado a longo prazo à companhia Van Nievelt, Goudriaan & Co’s.
Rotterdam, e consignado na cidade do Porto à casa de navegação Garland, Laidley
& Co., Ltd., foi construído em 1938 pelo estaleiro Holandês van Gebr. Muller,
Foxhol para o armador D. Schorthorst, Holanda e a partir de 1951 foi vendido e
passou ao serviço de vários armadores: Van Dijk & Kruidhof, Holanda, 1955, CITO,
Paap & van Wijk, Holanda; 1960 PATRICIA, 1961 PROCYON, 1970 HOAN, 1973 YVONNE,
todos estes últimos quatro de armadores dinamarqueses; 1974 RYAD, 1976 MOHAMED,
1978 SHEREEN, os três nomes pertencentes a armadores libaneses, A partir de
1994 deixou de aparecer qualquer registo. Em 1944, incluído na operação Neptuno
organizada pelas forças militares aliadas, tomou parte na invasão da Normandia.
Fonte: José
Fernandes Amaro Júnior, Miramar Ship Index.
(continua)
Rui Amaro
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