terça-feira, 15 de janeiro de 2013

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 272


UM PILOTO DO DOURO DE QUINZENA Á ESTAÇÃO DE LEÇA DA PALMEIRA EMBARCA NO N/M HOLANDÊS “ALCYONE” PARA QUE AQUELE NAVIO NÃO PERCA A MARÉ, E ENTRA JÁ COM VAZANTE FORTE.


O ALCYONE cruzando de saída a barra do Douro em 09/11/1949 / F. Cabral, Porto /


A 07/11/1949, pelas 10h30, subitamente avista-se navegando de rumo à barra do Douro, envolvido em fortes aguaceiros, por fora do farol do Esporão de Leixões, o navio-motor Holandês ALCYONE, 42m/359tb, procedente de Roterdão e Anvers com carga diversa.
A lancha P9 não pode sair a barra devido a alguma rebentação e à maré, que com bastante escarcéu, já vai com cerca de uma hora de vazante. Dado que já não há tempo para a ida e embarque do piloto de escala da estação da Cantareira com recurso à lancha P1, do porto de Leixões, o piloto-mor José Fernandes Tato ordena ao piloto do Douro José Fernandes Amaro Júnior, cumprindo a prestação de um dos seus períodos de quinzenas à secção de Leça da Palmeira, onde se encontrava, que embarque naquele navio e se faça à barra do Douro sem demora.
Aquele piloto salta para o ALCYONE, e de imediato ruma ao Douro, e através de toques de sirene assinala o seu calado de água de 10 pés. De imediato, avista içada no mastro do castelo da Foz, a bandeira vermelha, sinal de barra franca e com a máquina em toda a força avante faz o enfiamento à barra, envolvido em alguns pampeiros de chuva, bastante vento, vaga de noroeste e escarcéu próprio da corrente da vazante, que obrigam o navio a desviar-se do canal mas sem causar preocupações de maior, visto ser de boa máquina e leme. No entanto, quando o navio alcança a Meia Laranja ou seja a zona da barra mais esganada, devido ao Cabedelo estar demasiado a norte, encontra alguma dificuldade em avançar, apesar da máquina estar a trabalhar no máximo da sua potência mas manobrando a bombordo ou a estibordo, procurando as revessas, lá vai avançando.
Aquela situação faz lembrar, àquele prático da barra, o que velhos mareantes e pilotos da Foz lhe contavam na sua infância, que em casos semelhantes eram estabelecidos cabos aos peorizes nos cais e de bordo eram virados com a ajuda do molinete, fazendo com que os vapores lá conseguissem vencer a corrente e atingir o pontal da Cantareira. Este procedimento tinha a colaboração voluntária dos curiosos em terra, que auxiliavam o pessoal dos pilotos na amarração dos cabos. Vicissitudes idênticas passavam-se com embarcações de pesca e até mesmo com traineiras, que só ultrapassavam a forte corrente, se puxadas à sirga com a prestimosa ajuda de populares.
Após, ter alcançado as bóias dos Arribadouros, o ALCYONE, apenas abranda a marcha junto do lugar do Ouro, a fim de receber a visita da Sanidade Marítima e retomando a marcha segue rio acima até dar fundo a dois ferros, com ancorote a sudoeste pela popa e cabos passados para terra, diante da lingueta da Cábrea, terminando o serviço cerca das 12h30.
O ALCYONE, que se encontrava fretado a longo prazo à companhia Van Nievelt, Goudriaan & Co’s. Rotterdam, e consignado na cidade do Porto à casa de navegação Garland, Laidley & Co., Ltd., foi construído em 1938 pelo estaleiro Holandês van Gebr. Muller, Foxhol para o armador D. Schorthorst, Holanda e a partir de 1951 foi vendido e passou ao serviço de vários armadores: Van Dijk & Kruidhof, Holanda, 1955, CITO, Paap & van Wijk, Holanda; 1960 PATRICIA, 1961 PROCYON, 1970 HOAN, 1973 YVONNE, todos estes últimos quatro de armadores dinamarqueses; 1974 RYAD, 1976 MOHAMED, 1978 SHEREEN, os três nomes pertencentes a armadores libaneses, A partir de 1994 deixou de aparecer qualquer registo. Em 1944, incluído na operação Neptuno organizada pelas forças militares aliadas, tomou parte na invasão da Normandia.
Fonte: José Fernandes Amaro Júnior, Miramar Ship Index.
(continua)
Rui Amaro

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