segunda-feira, 14 de março de 2011

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 161

O ENCALHE E PERDA DO PAQUETE BRASILEIRO "RUY BARBOSA" A NORTE DO PORTO DE LEIXÕES


RUY BARBOSA / autor desconhecido - Colecção F. Cabral, Porto /.


A 30/07/1934, pelas 17h00, navegava de rumo ao porto de Leixões, com mar estanhado, o paquete Brasileiro RUY BARBOSA, o qual inesperadamente ficou envolvido por forte cerração, que embora persistisse por pouco tempo não deixava distinguir absolutamente nada, se bem que tenha sido o suficiente para causar o desvio da sua rota, originando o encalhe sobre umas rochas denominadas de Grifas, situadas um pouco a norte da praia da Arenosa e a sueste da Ínsua Velha, junto da localidade de Pampelido, freguesia de Mindelo, 7 mn a norte do porto de Leixões. Metade do casco até à proa ficou assente em fundo de areia e o restante do casco ficou preso nos referidos escolhos.
Verificado o encalhe, a sirene de bordo começou a silvar, estrondosamente pedindo auxílio imediato. Esses silvos foram escutados por dois habitantes locais, Ofélio e Victor Martins, que se encontravam na praia e correram a alertar as autoridades marítimas e ainda por dois pescadores, que nos seus respectivos botes, que por perto se dedicavam à faina da pesca, sendo um da barra de Vila do Conde e outro da praia de Pampelido. À força de remos aproximaram-se do paquete, procurando saber do que se passava e a pedido do comandante subiu a bordo o António Francisco Ribeiro de 22 anos de idade, natural da dita praia, diante da qual o RUY BARBOSA se detivera encalhado, a quem o comandante dissera não se encontrar em perigo iminente, pois todos os passageiros e tripulantes a bordo encontravam-se bem, além de não haver indícios de água aberta no paquete, o que justificava não ter sofrido qualquer rombo e que ficaria a aguardar a chegada de rebocadores, a fim de tentar safar o seu vapor. A altura entre o cabeço da rocha, na qual o paquete assentava e o fundo do mar, era de quatro braças.
Após o encalhe o paquete ficou posicionado, conforme navegava para sul, de proa ao porto de Leixões, afastado cerca de duzentos metros da praia, não sendo na ocasião muito critica a sua situação, visto se encontrar bastante nivelado, salvo na altura da vazante, se notar o adornamento a um dos bordos.
Logo que o sinistro foi conhecido pelas autoridades marítimas, de imediato saíram do porto de Leixões rumo ao paquete sinistrado, os rebocadores TRITÃO, LUSITANIA, NEIVA, AQUILA e o MARS 2º, este levando a bordo o sota-piloto-mor António Joaquim de Matos e o gerente da sucursal do Lloyd Brasileiro na cidade do Porto, Elias Pinto. Além daqueles rebocadores, saíram também a lancha dos pilotos P1 e o salva-vidas motor CARVALHO ARAÚJO, e ainda compareceu o salva-vidas da praia de Angeiras, a fim de prestarem o socorro e auxilio, que fossem necessários. Ao mesmo tempo compareciam por terra as corporações de bombeiros de Matosinhos e Leça, Leixões, Portuenses, Porto e de S. Mamede de Infesta transportando o seu material de socorros a náufragos.


 O RUY BARBOSA encalhado junto da localidade de Pampelido / Imprensa diária /.


O RUY BARBOSA, que pertencia ao armador Lloyd Brasileiro, Rio de Janeiro, procedia dos portos de Hamburgo e Anvers, onde embarcara carga diversa e cerca de 100 passageiros, na sua maioria judeus, fugidos à perseguição do governo nazi da Alemanha, que seguiam para o Brasil, a fim de refazerem a sua vida. A sua lotação estava capacitada para cerca de 650 pessoas, das quais faziam parte 115 tripulantes. Todos os passageiros e tripulantes, felizmente foram salvos sem atropelos, porquanto o mar se achava calmo. Tempos mais tarde os salvadegos Português CABO RASO, Dinamarquês GEIER e o Alemão SEEFALKE compareceram na zona do sinistro, a fim de tentarem o desencalhe, contudo desistiram e regressarem aos seus portos por considerarem inviável o salvamento do paquete, que alguns dias mais tarde acabou por alquebrar e foi considerado perda total, tendo sido desfeito pela acção demolidora do mar. Hoje, segundo relato de amadores de mergulho, pode-se encontrar algumas chapas, as caldeiras, uma amarra e o respectivo ferro, a uma profundidade que varia entre os 5 e os 12 metros.


Postal ilustrado de Matosinhos, mostrando o RUY BARBOSA a demandar o porto de Leixões, entre molhes.


RUY BARBOSA – 154m/ 9.791tb/ 12,5nós; 29/04/1913 lançado à água pelo estaleiro Bremer Vulkan, Vegesack com o nome de BAHIA LAURA e a 21/06/1913 entregue ao armador Hamburg Sudamerikanische Dampfs. Ges. KG., Hamburgo; 11/07/1913 largou para a sua viagem inaugural à América do Sul; 08/1914 refugiou-se no porto Brasileiro de Pernambuco, devido à situação de guerra; 01/06/1917 foi confiscado pelo governo do Brasil, tendo sido rebaptizado de CAXIAS e a sua gestão foi entregue ao armador Lloyd Brasileiro. No ano de 1923 foi-lhe dado o novo nome de RUY BARBOSA e em 1927 foi adquirido por aquele armador Brasileiro, que o empregou no tráfego de carga e passageiros Hamburgo/Brasil/Rio da Prata via os portos de Leixões e Lisboa. Gémeos: BAHIA CASTILLO, BAHIA BLANCA.
Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Imprensa diária; Lloyd's Register of Shipping,
(continua)
Rui Amaro

ATENÇÃO: Se houver alguém que se ache com direitos sobre as imagens postadas neste blogue, deve-o comunicar de imediato. a fim da(s) mesma(s) ser(em) retirada(s), o que será uma pena, contudo rogo a sua compreensão e autorização para a continuação da(s) mesma(s)neste Blogue, o que muito se agradece.
ATTENTION. If there is anyone who thinks they have “copyrights” of any images/photos posted on this blog, should contact me immediately, in order I remove them, but will be sadness. However I appeal for your comprehension and authorizing the continuation of the same on this Blog, which will be very much appreciated.

Sem comentários: