sexta-feira, 4 de março de 2011

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 157

OS PILOTOS DA BARRA NÃO SÓ TRATAVAM DE ORIENTAR AS MANOBRAS DE ANCORAGEM DE NAVIOS NA BACIA DO PORTO DE LEIXÕES E NO ESTUÁRIO DO RIO DOURO  MAS TAMBÉM DE HIDROAVIÕES  QUE POR LÁ AMARAVAM


TRÊS HIDROAVIÕES ESPANHÓIS






 A 01/07/1934, pelas 20h00, amararam na bacia do porto de Leixões três hidroaviões Espanhóis, os quais com a assistência das lanchas dos pilotos da barra foram rebocados e ancorados, ao norte, no quadro dos navios de guerra. Estes três hidroaviões levantaram voo no dia seguinte pelas 13h00, com destino à ria de Vigo. Na lancha P1 estavam o sota-piloto-mor António Joaquim de Matos e o piloto Pedro Reis da Luz e na lancha P3 seguiam o cabo-piloto Paulino Pereira da Silva Soares e o piloto José Fernandes Amaro Júnior, além dos respectivos mestres e motoristas, que orientaram os respectivos pilotos aviadores nas manobras de ancoragem.



UM HIDROAVIÃO QUADRIMOTOR ALEMÃO



 O NORD MEER no estuário do Douro e a tripulação após o desembarque / O Comércio do Porto /.


Segundo noticias da imprensa diária, o hidroavião quadrimotor Alemão NORD MEER, que fazia o serviço postal entre a Alemanha e o Norte de África, tinha saído de Travemunde e sobrevoara a Espanha com cinco tripulantes, quando se sentiram com dificuldades devido ao temporal e fortes ventos, o que levou a tomar a decisão de rumar a Lisboa na esperança de encontrar melhores condições de tempo, que permitissem a amaragem no estuário do Tejo, mas a resposta recebida foi dissuasora, pois as condições atmosféricas eram péssimas, pelo que seria muito difícil pousar na água.
Então, foi decidido amarar no rio Douro, onde o tempo parecia mais calmo mas aqui o rio estava com cheia e bastante corrente. O hidroavião aproximou-se e depois de sobrevoar o rio para avaliar das condições, foi tentada a amaragem no estuário, que decorreu em boas condições e sem dificuldades, por volta das 17h00 de 15/01/1939.
A tripulação foi recolhida e desembarcada em terra, enquanto o hidroavião era rebocado para junto da Afurada. No jornal do dia 18 dizia-se, que aquela aeronave trazia um passageiro para o Porto, o que talvez terá motivado o desvio para esta cidade.
O NORD MEER levantou voo, sem dificuldades, no dia 18 pelas 14h35 com destino a Lisboa e Las Palmas e segundo consta os pilotos da barra estiveram presentes neste episódio de aeronáutica.


NOTICIA DO JORNAL "O COMÉRCIO DO PORTO" DE 16/01/1939


Ao principio da tarde de ontem, correu célere s noticia de que um quadrimotor fora forçado a amarar no estuário do Douro, por alturas do lugar do Ouro e que a tripulação corria sérios riscos.
O eléctricos que seguiam da Praça da Liberdade para a Foz e Leça da Palmeira começaram a passar cheios e os automóveis de praça a andar numa roda-viva.
Os resultados do futebol que aos domingos são o assunto do dia não despertaram ontem interesse e a população citadina não falava em outra coisa, que não fosse o desastre do avião.
Dirigindo-nos ao local do suposto acidente, verificamos que não se tratava de desastre, mas de amaragem normal, embora forçada em consequência do mau tempo.
O hidroavião quadrimotor NORD MEER, de nacionalidade Alemã, que faz carreira postal, entre a Alemanha e o norte de Àfrica com passagem por Lisboa, tinha de facto amarado en frente ao lugar do Ouro, mais propriamente na margem esquerda do rio, lugar de São Paio, devido ao temporal; mas desastres materiais ou pessoais, não tinha havido.
O NORD MEER saíra da sua base de Travemunde, Alemanha, com cinco homens de tripulação: comandante, piloto, 2º piloto, telegrafista e mecânico, repectivamente snrs. Blume, Modroux, Stoltz, Amphlett e Roesel e dirigia-se para Lisboa, donde levantaria, de novo, voo com destino a Las Palmas.
O quadrimotor – um aparelho moderno e de linhas elegantes – viera até Espanha, sem qualquer incidente e sem que o tempo impedisse o prosseguimento da viagem. Ali, porém, o aparelho, apesar de potentíssimo, devido ao vento impetuoso começou a lutar com dificuldades de diferente ordem. O comandante ordenou que seguisse para Lisboa, no intuito de encontrar melhores condições atmosféricas e, portanto, o aparelho poder descer sem dificuldades.
Em breve, o telegrafista, firme no seu posto, pos-se em comumunicação com a Rádio Telegráfica de Monsanto, recebendo informação de que Lisboa, estava debaixo de violentíssimo temporal e seria difícil poisar em boa ordem.
Nesta eventualidade, nova ordem do comandante para sobrevoar o rio Douro e ver se o aparelho poderia amarar.
Assim sucedeu e a manobra fez-se facilmente, sem que o aparelho sofresse a mais ligeira avaria.
Foi logo requisitada a presença de todas as corporações de bombeiros desta cidade, cujos serviços não chegaram a ser utilizados por serem desnecessários.
O NORD MEER foi rebocado, em seguida, para próximo do Cabedelo, onde ficou a flutuar.
Os tripulantes desembarcaram mais tarde e instalaram-se num hotel da cidade do Porto.
O aparelho espera que o temporal passe para poder levantar voo em direcção a Lisboa, donde como acima se disse, seguirá para Las Palmas      


HIDROAVIÕES DA AERONÁUTICA PORTUGUESA


Nas décadas de 40 e 50 do século XX, também alguns hidroaviões da aeronáutica Portuguesa amararam no estuário do Douro e a sua ancoragem nas amarras da Cantareira foi dirigida e orientada também pelos pilotos da barra e seus assalariados.
Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Imprensa diária.
(continua)
Rui Amaro

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