terça-feira, 21 de dezembro de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 133

O LUGRE-MOTOR BACALHOEIRO "SANTA IZABEL" SOFRE UM ENCALHE Á SAIDA DA BARRA DO DOURO

O SANTA IZABEL na Gafanha da Nazaré, ria de Aveiro /foto de autor desconhecido /.


A 19/11/1933, pelas 08h00, quando o lugre-motor bacalhoeiro SANTA IZABEL, da praça de Aveiro, se preparava para abandonar a barra do Douro, cuja manobra era dirigida pelo piloto António Duarte, estranhamente topou num banco de areia submerso de formação recente, ficando encalhado de popa. Dado o alarme, acorreram as lanchas dos pilotos e os rebocadores LUSITÂNIA, MARS 2º e NEIVA, não tendo sido necessários os seus serviços. O navio safou-se cerca das 11h00 pelos seus próprios meios e saiu a barra, tomando o rumo do sul.

O SANTA IZABEL entrara há dias vindo dos pesqueiros da Terra Nova e Groenlândia, trazendo nos seus porões cerca de 6.000 quintais de bacalhau. No entanto, devido ao seu calado de água ficara impossibilitado de demandar as instalações da Gafanha da Nazaré, pelo que arribou ao rio Douro, a fim de desembarcar a sua companha de pescadores mas também aliviar-se de alguns quintais de bacalhau, que seriam transportados para Aveiro por uma fragata e ainda aguardar maré suficiente na barra de Aveiro para onde rumou, após se ter safo da coroa de areia. Entretanto, foram tomadas as providências para se dragar o local do encalhe, que se situava a meio do canal de navegação.

SANTA IZABEL - 45m/ 345,25tb; 1929 entregue por Manuel Maria Bolais Mónica, Gafanha da Nazaré, à Empresa de Pesca de Aveiro, Lda, Aveiro, como lugre à vela; 1932 instalado motor auxiliar; 1943 SANTA ISABEL, Sociedade Bacalhau de Portugal, Lda., Lisboa: 1958 subsquente história não encontrada. O SANTA IZABEL foi um dos primeiros lugres à vela, juntamente com o seus gémeos SANTA MAFALDA e SANTA JOANA também do mesmo armador Aveireinse, e ainda o Vianês SANTA LUZIA, a demandar os perigosos e gelados pesqueiros da Groenlandia, os quais foram bem sucedidos nas suas capturas, na campanha de 1931,

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Loyd's Register of Shipping.

(continua)

Rui Amaro

4 comentários:

Luis Filipe Morazzo disse...

Caro Rui Amaro

O lugre “Santa Isabel” acabou as suas singraduras na terrível campanha de 1958. No final dessa “famigerada” campanha, ao regressar a casa, foi vítima de naufrágio, por não ter conseguido controlar um forte veio de água declarado a bordo ao retardador, consequência dos vários temporais que teve que suportar durante a campanha mais mortífera da história da “White Fleet”. Cinco dos seus navios foram perdidos, vítimas das péssimas condições atmosféricas encontradas nesse ano.

Saudações marinheiras

Luis Filipe Morazzo

Rui Amaro disse...

Amigo Luis Filipe Morazzo

Imensamente grato pela informação em lacuna no meu post.
Na verdade navios bacalhoeiros, já muito desgastados, foram ao fundo, mas se calhar em contrapartida outros tantos foram lançados ao mar e havia festa rija nos principais centros da competente construcção naval Portuguesa, e a estes juntavam-se os arrastões do Cabo Branco e ainda as traineiras de cerco e arrastões da costa.
Lembro-me na minha juventude assistir à flutuação do n/m ALAN VILLIERS, e era a Viana do Lima em autentica romaria, lá com o Almirante ministro/presidente e o Tenreiro das pescas, depois surgiu o "E TUDO O VENTO LEVOU".
Saudações maritimo-entusiásticas.
Rui Amaro

Luis Filipe Morazzo disse...

Complementando o comentário anterior, o lugre “Santa Isabel” naufragou no dia 23/09/58, ao largo dos Açores, quando regressava carregado dos bancos da Terra Nova. Aproveitava também para rectificar, não foram cinco, mas desgraçadamente seis, os navios perdidos nessa malfadada campanha de 58. Cinco navios perdidos por água aberta (“Santa Isabel”,” Maria das Flores” 19/Set., “Cruz de Malta” 8/Julho, “Labrador” 25/Agosto, o grande “Milena” 2/Set.) e o “Ana Maria”, este vítima de um grave incêndio, em 09/Set

Desejos de Festas Felizes para o meu amigo, respectiva família e todos os companheiros de viagem deste magnífico blogue.

Saudações marinheiras

Luis Filipe Morazzo

Rui Amaro disse...

Caro Luis Filipe Morazzo
Mais uma vez grato pelas informações complementares sobre os bacalhoeiros naufragados na campanha de 1958.
Sabe que nos meus 13 anos cheguei a "embarcar" fora da barra do Douro no ANA MARIA a navegar à bolina debaixo de nortada fresca, juntamente com o prático, enquanto esperava maré e rebocador, e continuei a bordo, tendo desembarcado para lancha dos pilotos das amarrações, antes do lugre chegar a Massarelos, para não haver problemas com o agente da PIDE, que iria fazer a visita ao lugre. Foi um espectáculo inesquecivel, a olhar para aqueles altos mastros e velame, e o mar a embarcar pelo convés dentro, e lá estava o capitão Alão e o seu piloto, o capitão Zé Lau.

Aproveito para retribuir os votos da quadra festiva.
Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro