quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 43

LEME TRANCADO




PÁDUA ex TEECO /(c) autor desconhecido - Colecção F. Cabral/.


Narrativa textual do piloto José Fernandes Amaro Júnior, relativa à condução da manobra de entrada do vapor Inglês TEECO na barra do Douro.

«A 24.03.1930, pelas 08h30, saltei fora da barra no vapor Inglês TEECO e às 09h30 demandei a barra com o rebocador LUSITÂNIA pegando à proa até alcançar o lugar do Gás, devido a águas de cima, tendo a manobra corrido de feição. Pouco depois de largar o cabo de reboque e já diante das instalações petrolíferas da Arrábida, o capitão informou-me, que o leme não se movia para qualquer dos bordos e como assim estava trancado.

Então deixei o vapor seguir ao sabor da corrente para estibordo e mandei largar o ferro de bombordo, dando o sinal indicativo de “parado” ao vapor dinamarquês FREYA, piloto Joaquim Alves Matias, que vinha na minha esteira e também para o português VILLA FRANCA, piloto João Pinto de Carvalho, que estava a manobrar em Massarelos para sair e abeirei-me da margem Sul, diante da capela do São Pedro da Afurada, a fim de deixar o canal livre àqueles dois vapores, Reparada a avaria do leme suspendi o ferro e segui rio acima até dar fundo no lugar da Fontinha, pela popa do vapor Holandês IRIS, como usualmente a dois ferros, ancorote dos pilotos pela popa e cabos para os peoriz em terra».

TEECO - 56,23m/664,96tb, um só mastro, cujos paus de carga serviam dois porões, tinha as superstruturas situadas à ré, e fora construído em 1925 pelo estaleiro Norddeutsche Union Werke A.G., Tonning, Alemanha para o armador Sir Walter Steamship Co., Ltd. (Turner, Edwards & Co., Ltd. - gestores), Bristol., e era um frequentador assíduo dos principais portos Portugueses. Em 1934 foi adquirido pela Empresa Marítima do Norte., Lda., Porto, na qual a C.C.N. possuía interesses, tendo sido colocado na linha do Norte da Europa e encetado a viagem para o Douro com o nome provisório de SANTO ANTÓNIO, onde foi alterado, definitivamente para o de PÁDUA.

A 27.10.1943, como PÁDUA navegava em pleno Mediterrâneo, na sua 17ª viagem com destino a Marselha, fazendo a aproximação àquele porto, quando a 22 milhas, sem que nada o previsse, subitamente foi sentida uma enorme explosão à popa, que se supôs ter sido devida ao choque com alguma mina à deriva, dando origem ao seu afundamento. Embora conste, que seis homens pereceram no naufrágio, a minha fonte relata que a totalidade da equipagem foi salva nas duas baleeiras do próprio vapor e auxiliada pelo barco de pesca Francês LES QUATRE FRÉRES, cujo mestre a fez chegar ao pequeno porto pesqueiro de Sausset-les-Pins da “Cote d’Azur”, onde a população lhes prodigalizou toda a assistência. Os tripulantes foram depois conduzidos a Marselha, que distava 36km daquele centro piscatório, onde algum tempo mais tarde embarcaram no vapor Português LOBITO da C.C.N., que os trouxe para Lisboa.

Aquele vapor encontrava-se ao serviço da Cruz Vermelha Internacional no transporte de socorros, encomendas e correspondência para as vitimas e prisioneiros de guerra, juntamente com os vapores Portugueses AMBRIZ, COSTEIRO, TAGUS e ZÉ MANÉL. O PÁDUA realizara em Setembro de 1942, sem ter sofrido qualquer percalço, a sua 100ª viagem através do Mediterrâneo ao serviço daquela benemérita associação.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Imprensa Diária; Miramar Ship Index; Crónica dos Navios da Marinha Portuguesa (Anais do Club Militar Naval) – Cmte Carlos Amorim.

(continua)

Rui Amaro

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