domingo, 15 de novembro de 2009

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 24

O PAQUETE “NYASSA” E A SUA PRIMEIRA ESCALA NO PORTO DE LEIXÕES



Paquete NYASSA / postal do armador /.



A 03.12.1929, manhã cedo, entrou no porto de Leixões ao sinal da lancha de pilotos, pela primeira vez, debaixo de grande agitação marítima, o paquete Português NYASSA da Companhia Nacional de Navegação, Lisboa, que procedia do porto de Lisboa e veio ao Norte carregar carga diversa e embarcar 460 passageiros para os portos do Rio de Janeiro, Santos, Montevideu e Buenos Aires. O piloto Alfredo Pereira Franco subiu a bordo entre molhes e orientou as manobras, ancorando o paquete a dois ferros na covada do molhe Sul. A saída, ao fim do dia, foi conduzida pelo piloto Júlio Pinto de Almeida, que não podendo desembarcar devido à maresia, seguiu a bordo para o porto de Lisboa, tendo regressado a Leça da Palmeira por caminho-de-ferro.

O NYASSA, 145,75m/8.980tb, 14 nós, 800 passageiros e 166 tripulantes, foi construído em 1906 pelo estaleiro J. C. Tecklenburg A.G., Geestmunde, para a Nordeutscher Lloyd Bremen, Bremen, com o nome de BULOW, tendo sido colocado na linha do Extremo Oriente, Austrália e Nova Iorque. A 23.07.1914 saiu de Bremen para o Extremo Oriente, tendo sido surpreendido pelo inicio da guerra de 1914/18, quando navegava em pleno Atlântico Norte, pelo que se refugiou no porto de Lisboa, então porto neutro, como o fizeram um grande número de unidades mercantes Alemãs. Requisitado e apossado pelo governo de Portugal no ano de 1916, a fim de fazer face à falta de transportes marítimos devido à situação de guerra, foi rebaptizado de TRÁZ-OS-MONTES, passando a fazer parte da frota da então formada empresa Transportes Marítimos do Estado (TME) e por falta de tripulações para equipar o enorme número de vapores apresados foi gerido pelos armador Inglês Furness, Withy & Co. Ltd., até ao final da guerra. Além disso, fez algumas viagens ao porto de Nova Iorque, fretado à Cunard Line, tendo também servido como transporte militar durante o conflito.



Paquete BULOW / postal do armador /.



Em 1922 ficou inactivo no rio Tejo até ao ano de 1924, altura em que foi adquirido pela Companhia Nacional de Navegação, que o colocou na linha de Moçambique e alguns anos mais tarde na linha da América do Sul com viagens alternadas aos territórios Portugueses de África.

Em 24.04.1931, armado em cruzador auxiliar, o NYASSA larga do Tejo, juntamente com outras unidades navais e mercantes, a fim de desembarcar tropas na Madeira para combater o levantamento militar, que ficou conhecido pela Revolução da Madeira, e que foi derrotado pelas forças governamentais. Em Novembro de 1940 fez várias viagens entre Lisboa e os E.U.A, assim como aos portos do Brasil e Rio da Prata, transportando sobretudo refugiados de guerra e por razões de segurança acabou por amarrar no rio Tejo.

A 11.02.1942, pelas 16h30, largava do porto de Leixões com carga diversa e passageiros, e devido à forte maresia que se fazia sentir, devido à aproximação de ciclone, o piloto da barra Francisco Luís Gonçalves seguiu a bordo para o Rio de Janeiro e Santos, depois de goradas todas as diligencias do rebocador TRITÃO, da APDL, para o tentar recolher, tendo regressado a Portugal no próprio NYASSA. Na chegada ao Rio de Janeiro, foi manchete da imprensa Brasileira, tendo sido muito acarinhado pela colónia Portuguesa local, particularmente pelo seu amigo e conterrâneo Júlio Baptista, imigrante naquela cidade e tio do autor do Blogue.

Em 1946, o NYASSA regressa à rota de Moçambique e em 1949, depois de ter realizado uma viagem em Julho de 1949, de Lisboa a Macau com escala em vários portos intermediários, fundeou no porto de Lisboa, após a entrada ao serviço dos novos paquetes do seu armador. Em 07.11.1951 chegava a reboque ao Blyth, Escócia, para desmantelamento pelos sucateiros Hughes Bolkow.




Paquete TRÁZ-OS-MONTES / postal do armador /.



Fevereiro de 1913, ainda como BULOW, sofreu um encalhe na costa de Blacknor Point, Portland, Dorset, tendo sido resgatado, após ter aliviado alguma carga, por rebocadores locais.

http://www.shipsnostalgia.com/gallery/showphoto.php?photo=60717

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Nordeutscher Lloyd, Bremen; Skaphandrus; Ships Nostalgia; Miramar Ship Index; Wrecks.

(Continua)

Rui Amaro

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