terça-feira, 3 de novembro de 2009

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 23

IMPREVISTOS NO MOVIMENTO MARITIMO DA BARRA DO DOURO E ALGUNS INCIDENTES



A 01.12.1929, pelas 14h10, tendo o vapor Inglês DARINO entrado a barra do Douro riscando na forte ondulação, e já muito depois de ter ultrapassado a rebentação, guinou demasiado a bombordo, devido à corrente de águas de cima. O piloto Joaquim Matias Alves mandou de imediato lançar o ferro de estibordo e máquina de marcha à ré, a fim de enfrentar a estocada e evitar o encalhe na pedra do Touro. Após entrar no canal de navegação, virou o ferro e seguiu rio acima sem mais percalços, indo amarrar no lugar do Jones, prolongado com outro vapor.

Entretanto, a maresia começou a crescer, pelo que o piloto-mor negou a entrada a outros vapores, que já se preparavam para demandar a barra. Quanto àqueles que vindos de largada, já desciam o rio, não tiveram outra alternativa, se não terem de manobrar pelos seus próprios meios, junto das bóias da Cantareira, alguns de grande porte, e retroceder para ancoradouros a montante, ficando aí a aguardar melhor maré para cruzarem a barra.


DARINO / Autor desconhecido - Copyright Photoship Co. UK /.


A 02 encontravam-se fundeados na bacia do porto e Leixões e ao largo da costa, alguns vapores, dos quais dezassete aguardavam entrada na barra do Douro e dado que a maresia, que se fazia sentir desde há vários dias, amainara, embora o vento do quadrante sul prevalecesse, o piloto-mor Francisco Rodrigues Brandão decidiu-se por dar movimento à barra, pelo que às 12h40 começaram a ser içados nos mastros do cais do Relógio e do castelo da Foz, os grupos de bandeiras indicativo do calado de água dos respectivos vapores.

Assim demandaram a barra os seguintes vapores: Alemães GAUSS, piloto Manuel Fernandes Vieira; ARION, piloto Joel da Cunha Monteiro; LEANDER, piloto José Fernandes Tato; TANGER, piloto Júlio Pinto de Carvalho (Guerra); STAHLECK, piloto Pedro Reis da Luz; Noruegueses SUSANE, piloto António da Silva Pereira (Carola); FRAKOLL, piloto Eurico Pereira Franco; TEJO, piloto João Pinto de Carvalho (Guerra); OTTO SINDING, piloto João António da Fonseca; Ingleses ESTRELLANO, piloto Joaquim Matias Alves; KENRHOS, piloto Manuel de Oliveira Alegre (Marage); PENGAN, piloto António Gonçalves dos Reis; Holandês NEREUS, piloto José Fernandes Amaro Júnior; Italiano DORIDE, piloto Hermínio Gonçalves dos Reis e o Espanhol NARANCO, piloto Carlos de Sousa Lopes. O vapor Norueguês BA, por não haver água suficiente para o seu calado, permaneceu fundeado ao largo aguardando por maré propícia.

A 03 o mau tempo regressou, pelo que a barra foi de novo encerrada e assim permaneceu até ao dia 11, e neste dia passaram a barra de saída os seguintes vapores: Alemães GAUSS, piloto Francisco Piedade e SEVILLA, piloto Hermínio Gonçalves dos Reis; Noruegueses TEJO, piloto Joaquim Matias Alves; Inglês KENRHOS, piloto António Gonçalves dos Reis; Holandês NEREUS, piloto Júlio Pinto de Carvalho (Guerra); Italiano DORIDE, piloto Joel da Cunha Monteiro e de entrada cruzaram a barra os vapores Portugueses SILVA GOUVEIA, piloto Eurico Pereira Franco; VILLA FRANCA, piloto Manuel de Oliveira Alegre (Marage); LOBITO, piloto José Fernandes Amaro Júnior; petroleiros SHELL 15, piloto Pedro Reis da Luz e o SUNFLOWER, piloto Francisco Luis Gonçalves; vapores Alemães SIRIUS, piloto Manuel Fernandes Vieira; BILBAO, piloto Joel da Cunha Monteiro; Ingleses DRAKE, piloto Delfim Duarte e CLEISTHO, piloto João Pinto de Carvalho (Guerra); Noruegueses BRAIAMAR, piloto José Fernandes Tato; AVANCE, piloto Francisco Piedade e o BA, piloto José Jeremias dos Santos e ainda os lugres Dinamarqueses ASTREA, piloto António da Silva Pereira (Carola) e FREM, piloto António Gonçalves dos Reis, assim como o lugre Inglês de S. João da Terra Nova BASTIAN, piloto Pedro Reis da Luz.



O vapor SILVA GOUVEIA demanda o porto de Leixões, década de 50 / (c) Foto Mar - Leixões /.


Todas aquelas embarcações demandaram a barra sem qualquer percalço, excepto o BA, que cerca das 10h00, já perto do lugar da Forcada, guinou às pedras do Cais Velho, devido a um forte estoque de água provocado pelas águas de cima, pelo que o piloto da barra mandou largar o ferro de estibordo e máquina toda força à ré, a fim de evitar o encalhe. Logo que o vapor foi ao canal de navegação, virou a amarra e seguiu rio acima até dar fundo a dois ferros, cabos estabelecidos para terra e pela popa ferro dos pilotos ao lançante pelo Sudoeste no lugar do cais do Ouro, a fim de descarregar carvão destinado à fábrica do Gás, sedeada junto daquele cais.

Um outro acidente ocorreu, pelas 09h00, quando o SEVILLA, que manobrava de largada, diante do lugar do quadro da Alfândega, foi abalroado pelo SILVA GOUVEIA, sem consequências de maior, o qual se preparava para amarrar ao pião das barcas do seu armador, junto do lugar da prancha do Monchique.

Fonte: José Fernandes Amaro Júnior

(continua)

Rui Amaro

Sem comentários: