RECORDANDO A
HOMENAGEM AO SOTA-PILOTO-MOR MANUEL DE
OLIVEIRA ALEGRE E O RELATO DE TRÊS ACIDENTES DE QUE FOI PROTAGONISTA
VAPORES ALEMÃES "HERSILIA", "WALTER LEONHARDT" E A BARCA "BELA VISTA"
Manuel de Oliveira Alegre / Colecção Manuel Alegre . neto /.
Jantar de homenagem no restaurante Freitas, da baixa do Porto / Colecção Manuel Alegre . neto /.
Jantar de reunião das comissões de pilotos do Douro/Leixões e Lisboa e seus chefes hierárquicos, dos quais se destaca o sota-piloto-mor Manuel de Oliveira Alegre, segundo à esquerda sentado./ Colecção Manuel Alegre . neto /.
Telegrama enviado pelo Cmte João Pais, Chefe do Departamento Marítimo do Norte / Colecção Manuel Alegre . neto /.
O HERSILIA atravessado ao canal de navegação da barra do Douro / Colecção F. Cabral, Porto /.
O HERSILIA encalhado na restinga do Cabedelo acompanhado dos salvadegos NEWA e FINISTERRE /
colecção F. Cabral, Porto /.
O HERSILIA encalhado na restinga do Cabedelo, vendo-se populares colhendo carvão alijado ao mar / Colecção F. Cabral, Porto /.
Barca BELA VISTA / Colecção Seixas - MM /.
A 21/04/1949, o
sota-piloto-mor Manuel de Oliveira Alegre completou 52 anos ao serviço da
corporação de pilotos do Douro e Leixões, alcançando o limite de idade. Por tal
motivo e para lhe testemunharem simpatia e admiração pelas suas qualidades de
trabalho, os seus colegas prestaram-lhe significativa homenagem, oferecendo-lhe
um jantar de despedida, que teve lugar no restaurante Freitas, sito na rua do
Bonjardim, na baixa do Porto.
Na mesa de honra,
tomaram lugar, além do homenageado; José Fernandes Tato, piloto-mor; Joel
Monteiro da Cunha, sota-piloto-mor; Mário Francisco da Madalena e Aires Pereira
Franco, cabos-piloto. Noutros lugares sentaram-se os pilotos Hermínio Gonçalves
dos Reis, Francisco Soares de Melo, Bento da Costa, Manuel Pereira Franco,
Francisco José Campos Evangelista, Tito dos Santos Marnoto, Luís Ventura,
Henrique Correia Hugo, Francisco Cardoso de Matos, Afonso Moreira, Alberto da
Costa, Eduardo Fernandes Melo, Vasco Armando Morais, João Cardoso Meireles e os
escriturários Secundino Reina e Álvaro Leite. Foram lidos muitos telegramas de
saudação ao homenageado, dentre os quais, o de David Leite, José Rebelo Prata
de Lima, Joaquim Moreira, José Rabumba, Manuel Aveiro, Carlos Leite, Francisco
Rosa. Foi, também lida uma mensagem do piloto Jaime Martins da Silva e do vigia
Eurico Franco, ambos de serviço nocturno à estação de pilotos da Cantareira e
também uma comunicação do Cte. João Pais, chefe do Departamento Marítimo do
Norte, em que este se associava à homenagem, afirmando que a briosa corporação
dos pilotos, muito devia ao homenageado.
Após os discursos
e brindes, aquele sota-piloto-mor agradeceu a homenagem, que lhe fora prestada
e no final em memória dos pilotos falecidos no mar, vítimas do cumprimento do
dever, foram guardados dois minutos de silêncio.
Manuel de
Oliveira Alegre, natural da Foz do Douro, onde nascera em 1882, ingressou em
1897 na corporação de pilotos, se bem que, anteriormente já tivesse colaborado
como elemento eventual nas catraias de apoio à navegação no rio. Foi admitido a
piloto praticante em 1909 e a piloto efectivo em 1911 e foi nomeado cabo-piloto
em 1937 e sota-piloto-mor em 1946, tendo sofrido alguns percalços no rio e
barra do Douro, entre os quais o acidente por encalhe com o vapor Alemão
HERSILIA, da barca de três mastros Portuguesa BELA VISTA e do vapor Alemão
WALTER LEONHARDT, estes dois que vieram rio abaixo devido a cheia no rio, e se
quedaram frente a Massarelos, tendo nos três acidentes vindo para terra pelo
cabo de vaivém. Aposentou-se em 1949 com 40 anos de serviço e 67 anos de idade.
Faleceu em 16/05/1969 e encontra-se sepultado em jazigo de familia no cemitério
da Foz do Douro.
O HERSILIA,
94m/2.028tb, fora construído em 1901 pelo estaleiro Akt. Ges. Neptun, Rostock,
para o armador Dampschiffs Rhederei Horn Akt. Ges., Horn Linie, Lubeck, que o
colocou no tráfego carvoeiro, vindo consignado aos agentes J. W. Burmester
& Ca., Lda. e saíra do porto de Emden a 01/11/1911, transportando 3.250
toneladas de carvão destinados à CP – Companhia dos Caminhos-de-Ferro Portugueses.
Porém devido ao seu excessivo calado de 19 pés , foi impedido de entrar no rio Douro,
pelo que no dia 10 demandou a bacia do porto de Leixões, a fim de ser aliviado
para laitas, de 900 toneladas de carvão, visto a barra do Douro, naquela
ocasião, só permitir calados no máximo de 16 pés .
Na manhã do dia
15, pelas 08h30, o vapor HERSILIA deixou o porto de Leixões rumando ao rio Douro
mas atendendo a alguma vaga e até porque a barra estava muito apertada e com
águas de cima, além de algum escarcéu, o rebocador MINHO, propriedade dos
agentes do vapor, pegou à proa, a fim de auxiliar a manobra de entrada até às
bóias dos Arribadouros/Cantareira.
Cerca das 09h00,
quando já ultrapassada a bóia da barra, o vapor guinou, perigosamente para
estibordo, e, apesar de todos os esforços do rebocador, foi o mesmo incapaz de
levar o vapor para o canal, pelo que o piloto Manuel de Oliveira Alegre, vendo
o risco do navio ir sobre a restinga do Cabedelo mandou largar o ferro de
bombordo e máquina toda força à ré, a fim de aguentar a estocada, o que de nada
lhe valera, indo o vapor atravessado encalhar, profundamente nas areias daquela
malfadada restinga, e com falha de máquina, devido ao esforço feito para entrar
no canal de navegabilidade.
Da Cantareira,
seguiu para o local do encalhe um dos dois salva-vidas da Foz, sob as ordens do
piloto Amaro António da Fonseca e do patrão Manuel Ferreira Nunes, tendo com
bastante dificuldade estabelecido cabos para o rebocador ÁGUIA, entretanto
chegado em socorro do vapor sinistrado e, apesar das várias tentativas de
desencalhe realizadas até à preia-mar, acabaram por infrutíferas, pelo que os
bombeiros montaram e estabeleceram às 11h45 um cabo de vaivém, no qual foram
resgatados o piloto da barra e os 19 tripulantes, incluindo o comandante
Bellmann. Todos eles trouxeram para terra as suas roupas e objectos de uso
pessoal, tais como binóculos, sextantes, livros, fotografias, etc. tendo o seu
comandante tido o cuidado de deixar o vapor com as caldeiras apagadas e não se
notavam indícios de estar arrombado, visto não ter embatido nas pedras, pelo
que em ocasiões de maresia seria muito possível, que viesse a flutuar e assim
aconteceu, porque mudou de posição por várias vezes, tendo em algumas ocasiões
impedido o normal movimento de navegação na barra, posicionando-se atravessado
ao canal, pelo que segundo consta, foi necessário utilizar explosivos para o retirar
daquela incómoda posição.
Entretanto, como
hoje em dia sucede, o Departamento Maritimo do Norte reuniu com os agentes
consignatários do vapor sinistrado, a firma J. W. Burmester & Cia, Lda, e
com os representantes dos dois salvadegos a seguir mencionados, a firma Jervell
& Knudsen, Lda.
Várias
tentativas, que se tornaram infrutíferas, de pôr o HERSILA a flutuar foram
realizadas por dois salvadegos, entretanto chamados, o Alemão NEWA e o Espanhol
FINISTERRE, que acabaram por desistir do salvamento, por o mesmo se vir a
tornar inviável.
O vapor acabou
por ser vandalizado e julgamos, que mais tarde foi destruído pela acção
demolidora da forte maresia, e dizia-se, que um certo dia a sirene do vapor,
que fora furtada por intrusos, ouvia-se a apitar numa fábrica para os lados da
Afurada.
A 23/12/1916
estava fundeada em frente a Massarelos a barca Portuguesa BELA VISTA em lastro,
construída em 1896 com 550tb, do armador J. E. Milhomens, registada na
capitania do porto de Lisboa, devido à força da corrente de cheia que o rio
Douro apresentava, a barca garrou e abalroou uma traineira causando-lhe grandes
avarias, partindo-lhe o mastro e destruindo-lhe a chaminé. No entanto, o dano
para a BELA VISTA foi insignificante.
Dado o pedido de
socorro, o rebocador ASSUMPÇÃO rebocou uma catraia onde seguiram 11 homens para
bordo da BELA VISTA para auxiliar as manobras de reforço das amarrações, com
eles seguiu também para bordo o piloto Manuel de Oliveira Alegre. Às 19h00, já
de noite, rebentaram novamente as amarras e o navio ficou apenas fundeado por
um ferro.
Na iminência de
um desastre, compareceram em Massarelos os Bombeiros Voluntários do Porto e os
Bombeiros Municipais com o equipamento de socorro a náufragos.
Foi montado um cabo de vaivém entre a BELA VISTA e o
cais de Massarelos pelos Bombeiros Voluntários do Porto, sendo retirados de
bordo para terra (segundo o jornal O Comércio do Porto):
Vitorino Domingos Carvalho, 40 anos, casado
António Pimpão, 19 anos
Joaquim Vieira, 28 anos, casado, residentes em
Miragaia
Joaquim da Silva, 36 anos, residente em S. Martinho
José da Costa, 34 anos, casado, morador no muro dos
Bacalhoeiros
António Mendes, 40 anos, solteiro
Miguel Assumpção Bomba, 26 anos, solteiro, de Lisboa
Joaquim Silva Serrão, de 43 anos
António Cruz Branco, 31 anos, casado
António Vaz, 26 anos, solteiro
João Braz da Fonseca, 38 anos, casado
E, por último, às 21h30, o piloto Manuel de Oliveira
Alegre, de 32 anos, solteiro, residente na Foz do Douro.
A delegação da Cruz Vermelha montou um posto de
socorros numa das dependências da fábrica da Fundição de Massarelos, sendo esse
serviço organizado pelo comandante-chefe Albertino Barreto
A direcção dos serviços clínicos esteve confiada ao
Dr. Mário de Castro, filho, auxiliado pelo quintanista de medicina Afonso
Malheiro
No posto foram socorridos:
José da Costa, casado, 34 anos
António Pimpão, 19 anos, solteiro
António Vieira, 28 anos, casado
António Mendes, 40 anos, solteiro
Miguel Assumpção Bomba, 26 anos, solteiro, de Lisboa
Joaquim da Silva Távi, 36 anos, casado
António Cruz Branco, 31 anos, casado
António Vaz, 26 anos, solteiro
Estes quatro últimos seguiram em automóvel para a
delegação da Cruz Vermelha onde ficaram hospitalizados na sua enfermaria.
Não houve feridos de importância mas apresentavam-se
todos molhados, em estado de hipotermia, sendo necessário reanimá-los.
No Hospital da Mesiricórdia foi socorrido pelo Dr.
Ângelo das Neves o comandante dos Bombeiros Voluntários Armindo Barros ferido
numa vista por uma a faúlha de um archote
Devido à situação precária do navio, manteve-se
durante a noite em Massarelos o carro de socorros a náufragos dos Bombeiros
Voluntários do Porto com um piquete de bombeiros.
Pela acção desenvolvida, o proprietário da BELA VISTA,
J. E. Milhomens, gratificou a título voluntário Manuel de Oliveira Alegre com a
quantia de 10.000 reis (10.000 reais = 10 escudos)
A 19/02/1936, devido ao crescimento das águas de cheia
do rio Douro, que iam com uma forte corrente descontrolada, os cabos que
sustinham o vapor Alemão WALTER LEONHARDT, fortemente amarrado no lugar do cais
das Pedras, rebentaram e aquele vapor foi parar ao meio do rio, diante de
Massarelos, onde se deteve. Ao cabo de algum tempo começou a descair para o
lado sul e a sua tripulação orientada pelo piloto Manuel de Oliveira Alegre,
fê-lo encostar um pouco mais próximo da margem esquerda e amarrá-lo no lugar da
Arrozeira, onde permaneceu a salvo, e julga-se que alguma tripulação e o piloto
da barra tivessem vindo para terra pelo cabo de vaivém estabelecido pelos
bombeiros.
Contava aquele
piloto prático da barra, tio-avô do autor, entre muitos episódios, um que vale
a pena destacar e de que foi protagonista alguns anos após ter sido admitido a
piloto efectivo. Coubera-lhe de saída um vapor carvoeiro de nacionalidade
Alemã, de cerca de 100m/2.500tb, amarrado no lugar dos Vanzelleres, local onde
se encontra o actual cais de Gaia, o qual iria sair em lastro ou seja com os
porões completamente vazios. Chegado a bordo e observando as dimensões do
vapor, avisou o capitão, que necessitava de um rebocador, a fim de realizar a
manobra de rotação mas aquele recusou, peremptoriamente a utilização do
rebocador. Note-se que nas manobras de navios no rio Douro não era obrigatório
s utilização de rebocadores.
O piloto Manuel
de Oliveira Alegre insistiu com o capitão, expondo as razões da necessidade do
rebocador mas não o demoveu e embora contrariado mas como pessoa bastante
calma, pouco dada a conflitos e na verdade assim o era, pois na ocasião da sua
chegada ao areal na bóia-calção do cabo de vaivém, quando do encalhe do
HERSILIA, chegou a terra de calças arregaçadas, casaco da farda no braço, boné
e sapatos na mão, contudo apresentando-se com a maior das calmas, como se nada
lhe tivesse acontecido. Em face da teimosia do capitão em recusar o rebocador,
aquele experimentado prático da barra arriscou-se a desandar o vapor numa
manobra bastante original, que na sua opinião pareceu-lhe ser a de mais fácil
execução. Mandou largar os cabos de terra e aguardou no meio do rio a vinda da
corrente da vazante. Passado uma hora, viu aproximar-se o respectivo corso
junto da ponte D.Luis I e então já com os cabos de terra recolhidos a bordo,
mandou virar o ancorote dos pilotos à popa e suspender os ferros à proa e como
o calado de água do vapor era bastante leve, fez com que ele fosse de ré sobre
o banco de areia dos Banhos, junto da lingueta do mesmo nome, ficando
ligeiramente encalhado, atravessado ao rio. Entretanto, a força da corrente de
cima, começou a impelir a proa para jusante e com a hélice em marcha à ré, foi
esgaivando a areia para não permanecer demasiado encalhado de popa, quando tem
o vapor em posição de seguir para vante e livre dos piões das barcas, meteu
leme a estibordo e máquina toda força avante, a fim de governar e lá se foi rio
abaixo em direcção à barra, sem mais contrariedades.
Fonte: José
Fernandes Amaro Junior, Imprensa diária, Manuel Alegre (neto), Miramar Ship
Index
(continua)
Rui Amaro
ATENÇÃO:
Se houver alguém que se ache com direitos sobre as imagens postadas neste
blogue, deve-o comunicar de imediato. a fim da(s) mesma(s) ser(em) retirada(s),
o que será uma pena, contudo rogo a sua compreensão e autorização para a
continuação da(s) mesma(s)neste Blogue, o que muito se agradece.
ATTENTION. If there is anyone who thinks
they have “copyrights” of any images/photos posted on this blog, should contact
me immediately, in order I remove them, but will be sadness. However I appeal for your comprehension
and authorizing the continuation of the same on this Blog, which will be very
much appreciated.
Sem comentários:
Enviar um comentário