O REBOCADOR “URANO”
E O BATELÃO “PAREDE” EM APUROS NA BARRA DO DOURO
O rebocador URANO no rio Douro, década de 40 / F. Cabral, Porto /.
O batelão PAREDE no rio Douro em 17/08/1968 / Rui Amaro /.
A 04/04/1948, pelas 13h00, várias embarcações aguardavam piloto ao largo da costa, a fim de demandarem a barra do Douro, das quais se destacava o batelão PAREDE, de 35m/261tb, procedente do Outão, transportando cimento em sacos e conduzida pelo rebocador URANO.
Os rebocadores,
fragatas, laitas ou batelões não eram obrigados a meter piloto, no entanto era usual
o PAREDE o requisitar, talvez por formalidades do seguro da embarcação. O
piloto José Fernandes Amaro Júnior, vindo na lancha P1 do porto de Leixões, e
que deveria embarcar no batelão, acabou por saltar para o rebocador, devido à
situação de bastante mar na barra, uma vez que poderia dirigir melhor as manobras
das duas embarcações.
Aquelas
embarcações fazem-se à barra com alguma ondulação mas quando o rebocador está
junto da bóia da barra, surgem alguns andaços de mar que envolvem e galgam o
batelão de borda a borda, ficando completamente atravessado e mesmo de proa a
sudoeste, pelo que aquele piloto ordena ao mestre do rebocador para abrandar e
por vezes a parar a máquina, não fosse o extenso cabo de reboque partir e quando
a maresia tende a abrandar, começa a puxar para sueste, afim de colocar o
batelão na posição normal ao canal, tentando evitar as pedras da Ponta do Dente
e a bóia.
O batelão, devido
à extensão da amarreta, ainda está a uma certa distância da bóia da barra e ao
longe já se vislumbra mais maresia, pelo que o rebocador começa a puxar com
mais força para trazer o PAREDE para dentro da barra mas dada a rapidez da
maresia, que o volta a envolver, aquele rebocador fica incapacitado de realizar
a dita manobra. Assim, os quatro tripulantes do batelão voltaram a passar por
mais uma enorme aflição, assim como o autor, que do cais Velho assistia às manobras
e convencido, que o piloto José Fernandes Amaro Júnior, seu pai, se encontrava
a bordo do batelão em dificuldades. A sua angústia era tanta, que os seus olhos
pareciam dirigir as manobras do batelão PAREDE, tentando retirá-lo daquela
difícil situação e só ficou mais descansado, quando viu o seu pai na ponte de
comando do rebocador URANO, logo que este se aproximou do cais. O batelão PAREDE,
que era de muito mau governo, o seu normal era navegar em ziguezague, acabou
por entrar a barra e foi amarrar na lingueta do Bicalho, cerca das 14h00,
prolongado com outras embarcações e o rebocador URANO foi amarrar na lingueta
dos Banhos, perto do escritório do seu armador, a firma A. J. Gonçalves de
Moraes, Lda.
URANO – 27,18m/
109,63tb/ 9 nós; 1943 construido por Eduardo Soares Gomes, Vila Nova de Gaia,
para A. J. Gonçalves de Moraes, Porto. Dados seguintes não encontrados.
PAREDE - 35,38m/
261tb/ 4 tripulantes; 1922 contruido na Alemanha; 05/12/1929 João António Balançuela,
Herdeiros, Lisboa. Dados seguintes não encontrados.
Fonte: José Fernandes
Amaro Júnior.
(continua)
Rui Amaro
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