quinta-feira, 7 de outubro de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 99

O VAPOR SOVIÉTICO “KRASNY PROFINTERN” DEMANDA O PORTO DE LEIXÕES PARA OPERAÇÕES COMERCIAIS NO LONGO INTERREGNO DA NAVEGAÇÃO RUSSA EM PORTUGAL


O NEFTESYNDICAT S.S.S.R. fundeado no porto de Leixões/ imagem de "O Comércio do Porto" - Colecção Reinaldo Delgado /.


A 17/07/1932, pelas 13h15, entrou no porto de Leixões o vapor Soviético KRASNY PROFINTERN, ficando amarrado ao Norte a dois ferros e durante a sua curta estadia a tripulação foi impedida de vir a terra, tendo para tal proibição permanecido a bordo, ao portaló, agentes da PIDE - Policia Internacional e de Defesa do Estado e da Policia Marítima. Aquele vapor seguiu viagem no dia seguinte.

O KRASNY PROFINTERN, que veio consignado aos agentes Burmester & Cia., Lda., foi o segundo vapor Soviético a escalar o porto de Leixões e o primeiro a realizar operações comerciais de entre quatro navios, poucos anos depois da proclamação Bolchevique na Rússia, e até à revolução dos Cravos em Portugal, devido ao corte de relações diplomáticas entre os governos de Portugal e da USSR, era comandado pelo Capitão Cequref e procedia do porto Russo de Novorossisk, no Mar Negro, com 17 dias de viagem, trazendo a bordo 1 passageiro em transito e carga diversa, destinando-se ao porto de Hamburgo.


O iate FAMALICÃO 3º fundeado no porto de Leixões / imagem de "O Comércio do Porto" . Colecção Reinaldo Delgado /.


O primeiro foi o petroleiro NEFTESYNDICAT S.S.S.R., 143m/8.228tb/1928, que quando em rota do Mar Negro para o porto de Amesterdão, aportou ao porto de Leixões, a fim de conduzir a reboque o iate Português FAMALICÃO 3º, 40m/134tb/1922, que por alturas da Corunha se encontrava em dificuldades, possivelmente desarvorado, tendo revertido para Sul a sua navegação, o que foi digno de registo, pois como seria natural poderia tê-lo deixado no porto Galego mais próximo, contudo essa acção filantrópica do capitão Russo não entendida pelas autoridades politicas e marítimo-portuárias, que não autorizaram a vinda da sua equipagem a terra, nem tão pouco o contacto da tripulação socorrida com a salvadora, se bem que a navegação Soviética não estava inibida de escalar portos Portugueses, o que tinha era de se sujeitar às regras portuárias em vigor. O último dos quatro navios das cores Soviéticas foi o KRASNOARMEYSK, 104,5m/3.019tb/1968, em 05/03/1972.


O KRASNOARMEYSK atracado à doca 1 do porto de leixões em 05/03/1972 / foto de Rui Amaro /.


O KRASNY PEOFINTERN carregou um conjunto de jaulas, com animais vivos, que estiveram presentes numa exposição levada a efeito nos jardins do Palácio de Cristal. Os animais em questão pertenciam a um circo Alemão, que teve agendado diversas actuações na Rússia. Durante a estadia no porto, assistiu à manobra de entrada o piloto Francisco Piedade e durante a saída com destino ao porto de Hamburgo, esteve presente o piloto Júlio Pinto de Almeida.

Anteriormente ao corte das ditas relações diplomáticas, era normal verem-se embarcações Russas no rio Douro, nomeadamente de vela, e alguns iates e palhabotes daquela nacionalidade foram adquiridos e convertidos em fragatas para o tráfego fluvial e local, sobretudo após a grande cheia do rio Douro de 1909, devido ao afundamento de um enormíssimo número de barcaças e fragatas, levados rio abaixo pela impetuosa corrente, e perdidos no rio, costa e mar.

KRASNY PROFINTERN – 106m/ 4.648tb/ 9kn; 17/02/1902 entregue por Roberts Craggs & Sons, Middlesbrough, como HAFIS a Sanders & Renck, Hamburgo; 1904 ARGUN, Imperial Marinha de Guerra Russa, operado como carvoeiro; 08/1920 ARGUN, Mortran, operado como navio carvoeiro; 01/1921 ARGUN, Imperial Marinha de Guerra Russa, operado como carvoeiro; 06/1921 KRASNY PROFINTERN,

Baltic Steamship/Sovtorgflot, Leninegrado; 14/02/1943 torpedeado e afundado pelo submarine U-19, Kptlt Hans- Ludwig Gaude, a Sueste do porto de Tuapse, Mar Negro.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Reinaldo Delgado/Blogue Navios e Navegadores; Roberts Craggs & Sons Co., Ltd.

(continua)

Rui Amaro

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