quarta-feira, 4 de setembro de 2013

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 311

OS NAVIOS-MOTOR “IRAK” E “ROELF” EM DIFICULDADES QUANDO SE FAZIAM ÀBARRA DO DOURO

O n/m Alemão IRAK ao demandar o rio douro em 1958 /Rui Amaro/ 

O n/m Holandês ROELF no momento de acostagem ao cais de Gaia em 1959 / F. Cabral, Porto/

29/12/1956, pelas 08h00 pairavam ao largo da costa, aguardando piloto para demandar a barra do Douro, dois pequenos navios-motores, o Alemão IRAK, 46,5m/ 414tb e o Holandês ROELF, 47m/ 435tb, ambos transportando carga diversa. O primeiro procedente de Bremen, pertencendo à DDG Hansa, Bremen, agenciado por Burmester & Cia. Lda. e o segundo vindo de Amesterdão, fretado à K.N.S.M, Amesterdão, consignado a Jervell & Knudsen., Lda.
Em virtude da ondulação na barra estar a tornar-se perigosa e com o vento a soprar forte de sudoeste ameaçando temporal, aqueles navios foram pilotados pela lancha P1, a partir do porto de Leixões, saltando para bordo do IRAK, o piloto José Fernandes Amaro Júnior e para o ROELF, o piloto Alberto Feliciano Pereira Encarnação. Os dois pilotos vendo a bandeira vermelha no mastro do castelo da Foz, indicativo de barra franca, que fora içada, após consulta a todos os pilotos reunidos no cais do Marégrafo, imediatamente o IRAK ruma à barra seguido pelo ROELF, que tentam vencer a forte ventania de sudoeste e ondulação, já a ameaçar quebrar pela amura de estibordo dos dois navios, que eram de marcha fraca, pelo que começaram a desgovernar, criando dificuldade a uma boa navegação.
O IRAK, quando está no enfiamento da barra, começou a ficar envolvido pela maresia, que entretanto recrudesceu de intensidade e a derivar para sotavento, ficando numa situação melindrosa. Em face da situação, o seu capitão recusou-se demandar a barra, como seria óbvio. Então, o piloto José Fernandes Amaro Júnior manda desandar o navio de proa ao mar, o qual já tinha descaído para muito perto da costa, entre as pedras do Bezerro de Fora e do Gilreu e com muita dificuldade consegue desviar-se da costa e rumar ao largo.
O ROELF, cujo capitão, também se recusou passar a barra, suportou as mesmas dificuldades encontradas pelo IRAK, felizmente também conseguiu fazer-se ao largo. Ambos os navios receberam ordens dos seus agentes para seguirem para o porto de Leixões e foram atracar na doca nº 1 Sul, a fim de efectuarem as suas operações comerciais, e passado dois dias seguiram com destino aos portos de onde tinham chegado. Ambos os capitães entregaram aos respectivos pilotos um documento, apresentando as suas razões pela recusa de demandarem a barra do Douro, a fim de ser entregue ao piloto-mor José Fernandes Tato.
IRAK – imo 5317240, reconstruído dum antigo batelão da “Kriegsmarine” denominado MASA W. 8, 40,89m/305tb/ 8,5nós, que fora lançado à água em 1941 por Ewald Berninghaus Werft Koln Deutz, Koln, o qual se encontrava ancorado na Alemanha de posse da OMGUS – Office of Military Governament/USA, como reparação de guerra desde 1945. Em 1950, após o período de restrição à navegação mercante Alemã pelas nações Aliadas, foi adquirido pela DDG Hansa, Bremen, juntamente com o batelão MASA W. 6 a que aquele armador baptizou de IRAN, tendo-os colocado no serviço de Espanha e Portugal. Eram embarcações um pouco similares e alguns anos mais tarde foram completamente reconstruídos, ficando com melhor aspecto e funcionalidade. O IRAK foi alongado para 46,5m/414tb; Em 1960 foi vendido ao Kapt. Erich Hanisch (Blumenthal), Bremen, que lhe deu o nome de SEEBAR; 1966 SEEBEAR, F. Carron, Antwerp; 1966 SPYROS K, Spyros Kambouroglu, Salónica; 1973 PANGHITSA, E. Papaphillippou &Co., Salonica; 1975 PANGHITSA, T. Serelis & E. Bouris, Salonica; 1977 STAVROULA, Emmanuel Dagadakis, Salonica; 1977 BOLERO, Vaco Shipping Co, San Lorenzo, Honduras; 07/01/1978 naufragou perto de Kylos, Mar Negro Turco, em viagem de Varna para Beirut. O IRAK e o IRAN tinham a particularidade de à época serem os navios mais pequenos e os iniciadores do ressurgimento da enorme frota da importante companhia de navegação Alemã DDG. HANSA, que na década de 80 abriu falência.
ROELF – imo 6421997/ 47m/ 435tb/ 9 nós, 24/06/1938 entregue por J. J. Pattje & Zoon, Waterhuizen, como BART ao armador Bart J. Dekker, dois porões, um mastro central, tipo clássico de navio costeiro Holandês (schuyter) à época. Tipo de navio esse, que prevaleceu até à década de 70. A 16/05/1940, pouco antes de a Holanda ter sido ocupada pelas forças armadas invasoras hitelarianas, aquele navio Holandês escapou-se, assim como uma grande parte das unidades mercantes daquela país, para Inglaterra. No período de 1938/46 foi gerido pelos importantes armadores Holandeses Wagenborg e Gruno, excepto durante os anos de guerra, O BART foi um dos muitos navios Holandeses, que se refugiaram em portos Britânicos tendo servido o organismo Netherlands Shipping and Trading Committee e passando a ser gerido pela firma Freight Express Ltd, UK.
Juntamente com outros navios tomou parte na célebre retirada de Dunquerque “Operação Dynamo”, libertando para Inglaterra 430 militares do corpo expedicionário Britânico em França. Além desse feito, em 26/05/1940, ao serviço da “Royal Navy”, deixou Dover carregado de víveres, provisões e combustível para abastecimento da frota de pequenas embarcações, as quais transportando tropas aliadas, se dirigiam à costa francesa a fim de tomar parte no célebre desembarque da Normandia – “D-Day”.
Em 1946 foi adquirido por Vrachtvaart Mij. Gebr. Dekker, Rotterdam (gerido por Wagenborg), que lhe deu o nome de ROELF, tendo sido vendido em 1960 a R, Alberti & A, Capello, Trieste, recebendo o nome de ARCA; 1961 ARCA, Vicenzo Cavarreta, Trapani; A 17/01/1962 abriu água perto da ilha Unije, quando em viagem de Trieste para Lattakia com carga geral, rebocado pelo CHRISTINA MONTANARI, todavia afundou-se a uma milha ao largo de Mali Losinj, tendo em Agosto do mesmo ano sido posto a flutuar pela empresa Brodospas, que o levou a reboque para Rijeka e mais tarde para Split. Tomado de posse pela empresa salvadora, foi vendido em Janeiro de 1963 a Obalna Plovidba Vela Luka, Vela Luka, passando a chamar-se OSJAK, recuperado e reparado voltou a navegar. Em 1971 a razão social do armador foi alterada para Dalmatinska Plovidba, Vela Luka, mantendo o navio o mesmo nome, que conservou ao ser comprado em 1972 pela Compania Naviera Lemina S.A., Panamá. Em 1985 sob forte maresia afundou-se, ficando semi-submerso em Valona, Albânia, onde foi vendido a sucateiros em 1987.
Fontes: José Fernnandes Amaro Júnior; DDG Hansa; KNSM, Miramar Ship Index.
(continua)
Rui Amaro

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