UMA LARGADA
INVULGAR DO VAPOR “SOFALA” DA DOCA Nº 1 DO PORTO DE LEIXÕES
O vapor SOFALA em manobras de atracação no porto de Leixões, década de 60
Havia pilotos da
barra mais afoitos e arrojados, a quem os chefes lhes confiavam tarefas de responsabilidade,
como o relatado neste episódio, e de que foi protagonista o piloto José
Fernandes Amaro Júnior.
O
vapor Português SOFALA, 161m/7.956tb, atracado no topo leste da doca nº 1 –
lado norte, lugar do Conde de Leça, estava pronto para sair pela tarde de
06/02/1947, todavia os dois rebocadores da A.P.D.L., TRITÃO e MIRA,
obrigatoriamente necessários para a manobra, encontravam-se inactivos por
avaria nas respectivas máquinas, contudo nessa tarde conseguira-se que um deles
ficasse operacional, que julgo tivesse sido o MIRA. Naquele dia não havia
qualquer rebocador privado, ou mesmo arrastões de pesca da costa, dentro do
porto, suficientemente capazes para auxiliar a manobra de desatracação, e o armador
a fim de cumprir escalas tinha toda a necessidade, que o SOFALA saísse nessa
tarde, pelo que já tinha um rebocador pronto a largar do porto de Lisboa, caso
a manobra não viesse a ter o sucesso desejado. Em face da situação, o
sota-piloto-mor Joel da Cunha Monteiro confia ao piloto José Fernandes Amaro
Júnior, fora da escala de serviço, para tentar dirigir a manobra de
desatracação e saída daquele vapor, que naquela época era a maior unidade da marinha
mercante nacional e um dos cerca de cem navios de carga acima dos 150m de
comprimento, a nível mundial, certamente após anuência das autoridades marítimo-portuárias.
Aquele
piloto da barra, que já tinha dirigido a manobra de entrada e atracação do
mesmo há cerca de oito dias, resolveu a situação como normalmente se procedia
na doca comercial do porto de Viana do Castelo, com o recurso a espias ou cabos
passados ao cais oposto, visto naquele porto, raramente se encontrar um
rebocador. Chegada a hora de manobrar, e de acordo com o comandante, estabeleceu
cabos aos peorizes da doca Sul e foram-se virando de bordo, ajudando a desviar
a popa da muralha, com o rebocador puxando à proa até colocar o navio no
enfiamento da saída da doca nº 1. Entretanto, foi seguindo em marcha avante devagar
e logo que teve a popa liberta do cais, os cabos safos do hélice e colhidos a
bordo, largou o rebocador e deu-lhe toda força avante, só se detendo por fora
do farol do Esporão, a fim de efectuar o seu desembarque para a lancha P1.
Por
perto estava o pequeno rebocador fluvial MERCÚRIO SEGUNDO, que tinha levado para a
doca uma laita vinda do rio Douro para receber de baldeação cereal para a
Moagem do Freixo, todavia aquele piloto não solicitou os seus préstimos, dado
que o rebocador não possuía força de máquina suficiente para um vapor com o
porte do SOFALA e poderia surgir algum incidente, até para o próprio rebocador,
apesar do mestre Domingos lhe fazer sinais para o chamar e afirmou-me, caso um dos
rebocadores da A.P.D.L. não tivesse ficado pronto, procedia a manobra de
largada pelo mesmo sistema. A assistir à manobra encontravam-se no cais o
sota-piloto-mor Joel da Cunha Monteiro e o piloto Francisco José de Campos
Evangelista.
O paquete QUANZA saindo do porto de Leixões, 30/03/1968
Passados
quatro dias surge à vista o paquete QUANZA, 134m/6.403tb, que vai demandar o
porto de Leixões ao sinal, fortemente envolvido na ondulação, e na bacia
encontram-se alguns navios fundeados. Mais uma vez o sota-piloto-mor Joel da
Cunha Monteiro encarrega o piloto José Fernandes Amaro Júnior, fora da escala
de serviço, para dar entrada e proceder à atracação desse paquete. Aquele
prático ficou deveras surpreendido, visto o paquete ser de muito menor porte do
que o SOFALA mas a razão colocava-se na ondulação, que se fazia sentir na bacia
e na doca. Saltou para o navio à entrada dos molhes e foi atracar o QUANZA na
doca nº 1 – lado Norte auxiliado por um rebocador da A.P.D.L à proa e como
desta vez havia um rebocador privado, pegou à popa o rebocador AGUILA da firma
Lobo & Freitas da praça do Porto.
Fonte:
José Fernandes Amaro Júnior
Imagens
de Rui Amaro
(continua)
Rui
Amaro
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