quarta-feira, 15 de agosto de 2012

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 248

O VAPOR PORTUGUÊS “SOFALA” (1) PELA PRIMEIRA VEZ NO PORTO DE LEIXÔES

O vapor SOFALA quando adquirido mostrando as cores da sua neutralidade / Imprensa diária /. 

A 20/08/1943, pelas 14h00, procedente de Moçambique e Angola, demandava o porto de Leixões pela primeira vez a nova aquisição da Companhia Nacional de Navegação Sarl, o vapor SOFALA (1), bastante carregado, conduzido pelo piloto Carlos de Sousa Lopes, que o foi atracar na doca nº 1 – norte, assistido por dois rebocadores, onde foi admirado por muitos populares, que da cidade do Porto e arredores se dirigiram a Leixões. O SOFALA juntamente com os outros navios adquiridos aos Alemães, vieram prestar uma grande ajuda aos meios marítimos nacionais em tempo de guerra, pois as dificuldades no transporte das importações necessárias ao país faziam-se sentir devido à falta de navegação estrangeira e mesmo nacional, esta já muito obsoleta, que só começou a ser renovada com o célebre despacho nº 100, depois de 1946, com a finalização da guerra.
SOFALA (1) - imo 5533304/ vapor de carga de linha regular/ 160,92m/ 7.956tb/ 12.145dwt/ 54 tripulantes/ 12 passageiros/ uma máquina de tríplice expansão com quatro cilindros, construída em 1937 pelos próprios construtores do navio, e quatro caldeiras com 18 fornalhas, para uma pressão de 14,5kcm2, potencia 6.400hp/ 14,5nós; 10/1927 entregue por Bremer Vulkan AG, Vegesack, como ALLER à Norddeutscher Lloyd, Bremen, para o seu tráfego Europa/Extremo-Oriente e Austrália.
Em viagem de regresso à Alemanha, quando a 2ª Guerra Mundial eclodiu, o seu armador ordenou que se fizesse ao porto de Lourenço Marques, a fim de evitar ser tomado ou afundado pelo inimigo, acabando por ficar internado naquele porto neutro da colonia Portuguesa de Moçambique, juntamente com outros navios Germânicos, onde permaneceu até 05/1943 quando foi adquirido pela Companhia Nacional de Navegação Sarl, e definitivamente registado em Lisboa a 04/09/1943.
Para a compra dos navios de nacionalidade Alemã, que estavam ancorados em portos de Moçambique, Angola e Açores, dentre eles o ALLER (clicar link abaixo), os quais se encontravam com as respectivas tripulações retidas a bordo, teve de haver inteligente diplomacia do governo Português com Berlim e com os Aliados, e sempre com difícil concordância daqueles beligerantes, tendo após a sua compra as tripulações Alemãs sido libertadas e entregues às autoridades do Eixo em troca de prisioneiros de guerra Aliados, através de Lisboa, se bem que a aquisição do vapor SETE CIDADES, ex LUISE BORNHOFEN, refugiado no porto da Horta diferiu bastante das outras aquisições, uma vez que a sua compra pelos Carregadores Açoreanos foi facilitada pelos Alemães para compensar o ataque e consequente afundamento do CORTE REAL pelo submarino U-83.

O vapor SOFALA manobrando na bacia do porto de Leixões para atracar na doca nº 1, década de 60 / Rui Amaro /.

As tripulações Alemãs foram transportadas para Portugal pelos paquetes MOUZINHO e QUANZA, e entregues às autoridades de Berlim, contra a entrega de igual número de prisioneiros de guerra Aliados detidos pelos Alemães.
O vapor ALLER, de quatro mastros, nove porões, como acima se relata passou a denominar-se SOFALA, passando a ser por alguns anos, com os seus 161m/ 7.957tb, a maior e mais bem apetrechada unidade da Marinha Mercante Nacional, e ainda um dos cerca de noventa navios de carga a nível mundial, acima dos 150m, que pervaleceram até finais da década de 50, o que hoje em dia pareceria um porte ridículo comparado com navios porta-contentores de centenas de metros e milhentas toneladas brutas.
Como curiosidade, muitas viagens, vindo o SOFALA directamente de África bastante afogado, chegava diante do porto de Leixões, e tinha de aguardar dias para entrar na doca nº 1, e houve ocasiões que teve de ir ao porto de Lisboa para aliviar carga. Note-se que a batimetria à entrada daquela doca era insuficiente, e só mais tarde é que foi havendo trabalhos de aprofundadamente com o quebramento de rochas, além disso o acesso à doca era obrigatório de proa a leste e já lá dentro rodavam para ficarem atracados de proa a oeste, com assistência de um ou dois rebocadores, conforme a tonelagem bruta de cada navio, Os pequenos navios eram isentos de rebocador.
Estou-me a recordar de meu pai, numa entrada de um navio Norueguês de grande porte ter demandado a doca naº 1, repleta de navios, e já lá dentro não encontrou espaço suficiente para desandar, pelo que teve de regressar à Bacia, e só depois de autorizado pelo capitão do porto, é que se fez de ré à atracação naquela doca, também assistido por dois rebocadores. Uma certa ocasião, em que os dois rebocadores da APDL, TRITÃO e MIRA, presentes no porto, estavam com avaria, a titulo muito excepcional, manobrou de largada o SOFALA, apenas com um daqueles dois rebocadores, que há ultima da hora ficou operacional, mas o meu pai já ia preparado para dar saída sem assistência de rebocadores (este episódio, mais pormenorizado, será postado oportunamente neste Blogue).
O SOFALA foi protagonista de alguns acidentes, dos quais se destacam os seguintes:
A 14/10/1950 quando de madrugada, com névoa, fazia a aproximação ao porto de Leixões para fundear, a fim de aguardar piloto, foi bater de proa na fatídica pedra da Orça, por fora do molhe Norte, tendo arrombado, e de seguida fez-se ao largo, e fundeou, ficando metido de proa e hélice fora de água. Mais tarde foi rebocado de popa, seguindo para o Tejo, a fim de receber reparações em dique seco.
Na década de 50, atracado ao topo oeste da doca nº 1 Norte, quando descarregava fardos de algodão dos porões nºs 1 e 2 foi motivo de um grande incêndio, que levou cerca de dois dias a extinguir.
A 15/12/1958, quando se encontrava fundeado no estuário do Tejo, devido a um súbito ciclone garrou e acabou por encalhar na praia de S. José de Ribamar, tendo-se safo pelos seus próprios meios.
Desde que foi comprado em 1943, serviu regularmente o trafego de Portugal e os principais portos dos territórios Portugueses de África, além disso fez uma ou outra viagem a Goa e Timor, mesmo como transporte de tropas. A 24/11/1968 chegava a Castellon, Espanha, para desmantelamento em sucata.
Navios gémeos: ALSTER, LAHN, MOSEL, NECKAR.
O ALLER com as cores da Roland Linie, Bremen, companhia subsidiária da Norddeutscher Lloyd, Bremen.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Miramar Ship Index, Navios Mercantes Portugueses, Imprensa diária.
(continua)
Rui Amaro

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