quarta-feira, 18 de abril de 2012

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 215

TEMPORAL E CHEIA DE JANEIRO DE 1939

 
 Cheia do rio Douro, junto da Ribeira / colecção F. Cabral, Porto /.

 A barra do Douro e o porto de Leixões continuaram ontem, a não permitir qualquer movimento, devido à grande agitação do mar. No rio Douro, que se apresentava com maior volume de corrente de águas, os pilotos sob a direcção do cabo piloto Manuel de Oliveira Alegre, na margem direita, e do piloto mais antigo da corporação Júlio Pinto de Carvalho (Guerra), na margem esquerda, andaram desde madrugada procedendo ao reforço das amarrações de algumas embarcações ali fundeadas, e como medida necessária procederam também às amarrações dos vapores Inglês PETREL, Norueguês BRATLI, e Português CATALINA, cambando-os desde a Ribeira para melhores ancoradouros, ficando os dois primeiros no lugar do cais de Santo António do Vale da Piedade e o último no lugar do cais do Monchique. O lugre-motor ANA PRIMEIRO amarrou junto da lingueta do Bicalho.
O rio, cujo volume de água chegou a elevar-se acima do nível dos cais da Ribeira do Porto e de Gaia, atingiu também a rua de Miragaia, onde em alguns pontos subiu cerca de meio metro. A sua corrente arrastou de madrugada para o mar duas embarcações cujos proprietários ainda as não acusaram. Devido à sua impetuosidade o rio cortou parte do cabeço do Cabedelo, ficando agora a barra com mais largura no seu canal de acesso.
Pelas 15h15, frente ao lugar de Sobreiras amarisou, devido a dificuldades de o fazer noutros portos do país, o hidro-avião quadrimotor civil NORD MEER, de nacionalidade Germânica, ficando amarrado no lugar de Sampaio, Canidelo, margem esquerda. (Vide Episódio 153 do Blogue).
 
 
O quebra-rochas LICORNE operando à entrada da barra do Douro, vendo na imagem superior a lancha TAUREAU e na imagem inferior as crianças de famílias necessitadas da cidade do Porto na Colónia Balnear da Foz do Douro - CMP / imagem da Imprensa diária /.

A barra do Douro e o porto de Leixões continuaram ontem fechados à navegação devido à agitação marítima. No rio Douro a corrente leva mais impetuosidade, por isso de madrugada os lugres SANTA QUTÉRIA e PAÇOS DE BRANDÃO, fundeados no Quadro do Bacalhoeiros, Massarelos, garraram indo com as proas sobre o cais da margem direita. Os pilotos foram a bordo e procederam ao seu espiamento, desviando-os daquela complicada posição.
Em Leixões não foram tomadas as precauções adoptadas anteriormente para segurança dos vapores ali ancorados, por desnecessárias. O navio-motor de pesca Belga NELLY SUSANNE continua encalhado no mesmo local da Bacia.
No rio Douro, devido às fracas condições de fundeadouros estão em risco de serem arrastados pela corrente de água os quebra-rochas Franceses LICORNE e CAPRICORNE e a draga VERSAUX dos empreiteiros Franceses Oussud, que têm estado a operar nas obras da barra, fundeados no caneiro da ínsua do Ouro. Por esse motivo a autoridade marítima, cerca das 15h00, ordenou que as respectivas tripulações viessem para terra, servindo-se da lancha salva-vidas VISCONDE DE LANÇADA, da Foz do Douro, tendo como patrão Estevão Gonçalves, que com com grande custo aproximou-se das referidas embarcações, trazendo as tripulações para terra, desembarcndo-as no Ouro. Neste salvamento deu-se um caso digno de registo passado com o cão de bordo da draga, que vendo a retirada do pessoal, que dele se haviam esquecido, não hesitou, atirando-se àgua e nadando desesperadamente para terra, ante a admiração de curiosos sempre presentes nestas ocasiões.

 
Um dos quebra-rochas sem-afundado junto da restinga do Cabedelo da barra, a meia distancia entre a barra e a povoação de Lavadores / imagem da Imprensa diária /.

No dia seguinte, pelas 17h00 foram levados rio abaixo, saíndo a barra debaixo de forte maresia, rumo de sul, os quebra-rochas LICORNE e CAPRICORNE, a draga VERSAUX, e um batelão cábrea, que se encontravam fortemente amarradas e seguros com cabos de arame, correntes, e vários ancorotes, não podendo aguentar a violenta pressão da corrente do rio. O batelão-cábrea afundou-se por fora da barra, andando a draga e os dois quebra-rochas à deriva, ontem 19. Às 16h00 a corrente do Douro na Ribeira levava a velocidade de nove milhas, menos duas milhas e oitocentos metros do que no dia anterior: Às 18h10 na Régua o rio estava acima do nível de estiagem 14,50m, menos 40 centimtros do que na medição anterior. Um dos quebra-rochas foi afundar-se junto da resting do areal do Cabedelo, entre a barra e Lavadores, e na década de 50, ainda se vislumbrava a sua torre do pilão, fora das águas.
Fonte: José Fernandes Amaro Júnior
(continua)
Rui Amaro

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