sábado, 7 de abril de 2012

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 213



O VAPOR NORUEGUÊS "ALA" SOFRE UM INCIDENTE QUANDO DESCIA O RIO DE RUMO À BARRA

 
 O vapor Norueguês DOURO, gémeo do ALA, saindo a barra do Douro em 01/10/1929  /foto de autor desconhecido /.

Relato textual do piloto José Fernandes Amaro Júnior, respeitante ao seu serviço de saída do rio Douro do vapor Norueguês ALA.
A 31/12/1938, pelas 08h50, conduzindo eu rio abaixo o vapor Norueguês ALA, ao alcançar o lugar denominado de Dezoito Braças, ali diante da encosta da Arrábida, surgiu-me repentinamente densa névoa, que não me deu tempo a uma melhor orientação, entretanto o vapor desgovernou para estibordo e a margem norte apareceu.me pela proa, pelo que ao mesmo tempo que mandava largar os dois ferros, ordenava máquina toda a força à ré, não evitando mesmo assim, que a proa tocasse levemente nas pedras, sentindo-se uma pequena pancada. Passado o incidente e ainda no meio da persistente névoa, manobrei o ALA para o canal de navegação e rumei à barra, sempre sob nevoeiro cerrado, sem que ordenasse ao capitão para que mandasse sondar os tanques à proa, felizmente não havia indícios de água aberta, mesmo assim solicitei ao capitão a usual "carta de responsabilidade" que me foi negada.
Chegado à corporação elaborei a minha participação, que foi entregue ao piloto-mor Paulino Pereira Soares da Silva, que a fez seguir para a capitania do porto do Douro.
ALA - 66m/933tb; 06/1916 entregue por A/S Jarlso Vaerft, Tonsberg, a E. B. Aaby, Drammen; 10/1917 D/S A/S Ala, gestores E. B. Aaby, Cristiania; 1918 The Shipping Controller, mgrs. Emlyn Jones & Co., Londres; 1919 D/S A/S Ala, gestores E. B. Aaby, Cristiania; 1925 E. B. Aaby, Oslo; 03/1937 E. B. Aaby A/S, gestores E. B. Aaby, Oslo.
O ALA, que era um frequentador regular dos portos do Douro e Leixões, no tráfego de Inglaterra e França, juntamente com os vapores do seu armador DOURO, TEJO, SADO, FARO, MARS, TENTO e CRESCO, que eram mais conhecidos pelos “Marca A”, devido a ostentarem na pintura das chaminés aquela letra, quando com um carregamento completo de carvão, zarpara do porto de Port Talbot a 06/05/1941 de rumo ao porto de Swansea, a fim de se integrar, no dia seguinte, num comboio naval, mas devido ao facto da sua lotação da equipagem não se encontrar preenchida, ficou a aguardar por um próximo comboio. Porém devido a problemas técnicos, entretanto surgidos, a 10 seguiu isolado para o porto de Swansea. A 13 integrou-se num comboio com destino ao porto de Falmouth e a 16 abandonou o comboio e seguiu por sua conta e risco para o porto de Shoreham. Quando a 17 navegava a cerca de duas milhas daquele porto, surgiu nos ares uma esquadrilha de quatro aviões da “Luftwaffe”, que o atacaram a tiros de metralhadora. Os artilheiros de bordo ripostaram de imediato com as suas três metralhadoras antiaéreas. Mais tarde os aviões nazis regressaram e lançaram várias bombas sobre o ALA, acabando por ser atingido e danificado por duas delas, começando a querer submergir. A hospedeira de bordo, esposa do empregado de mesa, foi atingida por estilhaços quando procuravam refúgio. A tripulação composta por 16 elementos abandonou o vapor nos botes de bordo.
O ALA parecia continuar a resistir ao afundamento, pelo que o capitão e o seu imediato subiram a bordo, visto o vapor Norueguês BOTNE entrar em acção, tentando rebocá-lo para o porto mais próximo, auxiliado por um rebocador portuário. Os botes salva-vidas foram levados para terra por embarcações locais. A hospedeira acabou por falecer no hospital de Gosport. O ALA já em bom porto foi descarregado e sofreu reparações provisórias, no sentido de ser levado para o porto de Southampton, a fim de receber as reparações finais, todavia quando, já a reboque em rota para aquele porto, a 13 de Junho, ao largo de Selsey Bill, pouco antes da chegada, foi alvo de uma enorme explosão avante, que o fez submergir e segundo se apurou, o motivo da explosão fora devido às bombas, que o atingiram no ataque aéreo, tornarem-no num campo magnético, passando a ser um alvo fácil para atrair as minas. O imediato, que se encontrava na casa do leme, foi atingido por estruturas de cimento protectoras daquela dependência. Os náufragos, alguns bastante feridos, incluindo o capitão, imediato, e os dois maquinistas, todos salvos por um escoltador Inglês e pelo vapor Norueguês DOURO, seu gémeo e pertença do mesmo armador, que na ocasião navegavam nas imediações. O imediato não resistindo aos ferimentos, acabou por sucumbir no hospital.
Fontes: José Fernandes Amaro Junior; Lillesand Sjomannstorening; Norwegian Merchant Fleet 1939/1945; Lloyd's Register of Shipping.
(continua)
Rui Amaro

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro amigo Rui Amaro:

Continua a ser muito bom ler as estóris que nos deixa. Um grande abraço e muito obrigado.


Nuno Matos