quinta-feira, 21 de outubro de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 104

PILOTO DA BARRA SOBRE ACIDENTE NA ABORDAGEM AO PAQUETE BRASILEIRO “BAGÉ”


O BAGÉ fundeado ao Norte da bacia do porto de Leixões, década de 30 /postal ilustrado/.


A 05/12/1932, somente pelas 16h00, o piloto José Fernandes Amaro Júnior foi saltar fora do porto Leixões para bordo do paquete Brasileiro BAGÉ, a fim de dirigir a manobra de entrada e ancoragem na bacia, que devido á situação de mar e vento tempestuoso de Sudoeste aguardava piloto desde manhã cedo.

Na abordagem ao paquete, o cabo-piloto Paulino Pereira da Silva Soares, que timonava a lancha P1, ordenou ao comandante do paquete para meter leme a bombordo, a fim de facilitar o embarque do piloto em segurança. Aquele cabo-piloto efectuou cerca de cinco tentativas de abordagem, sem que fosse bem sucedido, contudo à sexta abordagem, o piloto José Fernandes Amaro Júnior agarrou-se à escada de quebra-costas mas em tão má hora, que uma vaga mais alterosa atirou a lancha contra o costado do paquete, traumatizando a sua perna direita. Conseguindo subir a bordo, sentindo dores no tornozelo e no dedo polegar, mesmo assim orientou a entrada do paquete para a bacia, que às 16h50 dava fundo ao Sul a um ferro. Dada a dificuldade daquele piloto terminar a manobra devido às dores que estava a sentir e ter ido para a enfermaria de bordo para ser assistido pelo médico e o enfermeiro do paquete, saltou a bordo o seu colega Manuel Pinto da Costa, que terminou as manobras, mandando lançar o outro ferro. Ligado o dedo e o tornozelo foi transportado para terra e participou do acidente ao sota-piloto-mor António Joaquim de Matos, que o mandou seguir para sua casa na Cantareira, à Foz do Douro, onde chegou às 18h30. No dia seguinte foi consultar o médico particular Dr. Francisco Mendonça, que o medicou e lhe passou o respectivo atestado médico, a fim de permanecer em repouso por alguns dias.


Postal do armador


O BAGÉ, 138m/8.235tb, foi construído pelo estaleiro Stettiner Maschinenbau A.G. Vulcan, Stettin, tendo sido entregue a 24/08/1912 ao armador Germânico Nordeutscher Lloyd, Bremen, que o baptizou com o nome de SIERRA NEVADA, colocando-o no tráfego do Brasil e Rio da Prata com escala pelos portos de Vigo e Lisboa. Com o eclodir da guerra mundial, encontrava-se refugiado no porto de Pernambuco desde 10/09/1914, tendo sido aprisionado pelo governo do Brasil a 01/06/1917, juntamente com 34 navios Alemães ancorados em vários portos Brasileiros, ficando a sua gestão entregue à Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, Rio de Janeiro, contudo no ano de 1926, aquele paquete passou a fazer parte do património daquela companhia de navegação.

Alguns anos antes do eclodir da segunda guerra mundial, foi seu imediato Francisco Campos Evangelista, natural de Fão, concelho de Esposende, que anos mais tarde candidatara-se a piloto da barra, tendo sido admitido, aposentando-se como piloto-mor da Corporação de Pilotos do Douro e Leixões.

A 01/08/1943, quando navegava ao largo da costa de Aracajú, por alturas da foz do rio Real, foi o BAGÉ atacado pelo submarino Alemão U-185, acabando por ser atingido por um torpedo e tiros de canhão, submergindo em pouco tempo. Do afundamento, salvaram-se 87 náufragos de uma tripulação de 107 elementos e 28 passageiros.

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Poucos dias depois, mais propriamente a 24/08/1943, o U-185 afundava-se em pleno Atlântico, na posição 27,00N/37,06º, atacado por cargas submarinas lançadas de 3 aviões da esquadrilha do porta-aviões USS CORE. 29 desaparecidos e 22 sobreviventes incluindo o seu comandante Kptlt August Maus, que ficou detido em campo de prisioneiros de guerra nos EUA.

O BAGÉ ficou nos anais da história da aeronáutica Portuguesa ao transportar desde o porto de Lisboa o hidroavião FAREY 16, a fim de substituir o LUSITÂNIA ao largo dos rochedos de S. Pedro e S. Paulo, onde se deveria reabastecer de gasolina, o qual tripulado pelos aeronautas Lusos Gago Coutinho e Sacadura Cabral, heróis da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, se afundou devido ao mar ter-lhes levado um dos flutuadores. Após a chegada do BAGÉ, prosseguiram viagem até à ilha Fernando Noronha, onde o FAREY 16 teve de amarar por avaria no motor, andando à deriva sem esperanças de salvamento, por estarem fora das linhas normais de navegação. Passados oito longos dias foram recolhidos pelo vapor inglês PARIS CITY, que desembarcou aqueles aviadores naquela ilha Brasileira, onde tiveram de aguardar um terceiro hidroavião denominado FAREY 17, que lhes foi enviado pelo NRP CARVALHO ARAÚJO, cruzador ligeiro, tendo a viagem sido retomada, chegando ao Recife a 05/06/1922 e ao Rio de Janeiro a 17 do mesmo mês, terminando assim a histórica da “Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul”, iniciada no porto de Lisboa, Belém, a 30/03/1922 e que muito glorificou a aviação Portuguesa.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; U-boat Net; Miramar Ship Index.

(continua)

Rui Amaro

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