quinta-feira, 17 de junho de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 72


INCIDENTE NA MANOBRA DE LARGADA DO VAPOR INGLÊS “ESTRELLANO”



ESTRELLANO / autor desconhecido - Photoship Co. UK /



Relato textual do piloto José Fernandes Amaro Júnior, respeitante ao seu serviço de largada do vapor Inglês ESTRELLANO do rio Douro.

«A 06.05.1931, pelas 16h00, fui dar saída ao vapor inglês ESTRELLANO, 76m/ 1.963tb, que se encontrava amarrado no lugar dos Vanzelleres, por terra do vapor da mesma nacionalidade PROCRIS, cuja manobra de arriar cabos estava a cargo do piloto Manuel Pinto dos Reis, no sentido do meu vapor conseguir passar para o meio do rio, a fim de desandar proa a jusante.

Às 17h20 principiei a largar os cabos de terra e o PROCRIS tratou de virar os ferros e arriar os cabos à proa e à popa, para que o ESTRELLANO pudesse passar. Entretanto, mandei a lancha dos pilotos cambar os cabos da proa e depois, que o PROCRIS se desviou para estibordo, tratei de retirar os ferros, que estavam sob o fundo dele. Quando suspendia os ferros o ESTRELLANO foi colidir, ligeiramente com o PROCRIS, devido ao jeito de águas e força do vento. No entanto, ao mandar largar de terra o cabo de arame da proa, ordenei marcha avante devagar e um pouco de leme a bombordo, logo o vapor ganhou seguimento pelo que mandei parar a máquina e meter leme a meio, contudo naquele instante o varandim da ponte de comando do PROCRIS pegou numa folha de madeira da ponte de comando do meu vapor, partindo-se os balaústres.

Depois do ESTRELLANO ter conseguido livrar-se do PROCRIS, conduzi-o ao meio do rio e de marcha à ré safou-se e suspendeu-se o ancorote dos pilotos à popa e, finalmente desandou-se o vapor com o auxilio do rebocador fluvial LEÃO, tendo então, feito rumo à barra do Douro, onde desembarquei para a lancha de pilotar P4 às 19h20. Chegado à corporação fui dar conhecimento da ocorrência ao piloto-mor Francisco Rodrigues Brandão, tendo procedimento idêntico sido feito pelo meu colega de serviço ao PROCRIS.

Passados alguns dias, eu e o meu colega Manuel Pinto dos Reis fomos chamados ao capitão do porto do Douro, onde ambos acompanhados pelo piloto-mor, nos apresentamos no dia 11, ao oficial adjunto da capitania, Cdte Ernesto Garcez de Lencastre, que se limitou a registar as nossas declarações sobre o incidente relativo aos dois vapores».

ESTRELLANO – 77m/1.963tb, construído no ano de 1920 pelos estaleiros Hall, Russell & Co., Aberdeen, para os armadores Ellerman & Papayanni, Ltd., Liverpool, que o colocaram na carreira de Liverpool ou Londres para Portugal, que escalava com regularidade, juntamente com os seus parceiros DARINO, PALMELLA, CRESSADO, OPORTO e LISBON, todos eles afundados durante a segunda guerra mundial. Aqueles seis vapores, ainda hoje são recordados nas zonas ribeirinhas do Porto e V. N. de Gaia.

O vapor ESTRELLANO inserido no comboio HG53, foi torpedeado e afundado pelo submarino Alemão U37, quando em viagem do porto de Leixões rumava ao porto de Liverpool, transportando cerca de 2.000 toneladas de carga diversa, incluindo 1.110 toneladas de conservas de peixe, depois de ter ido ao encontro daquele comboio,

Às 04h30 de 09.02.1941, o U 37, KapitanLeutnant Asmus Nicolai Clausen, lançou dois torpedos sobre dois vapores do referido comboio, a cerca de 160 milhas a Sudoeste do Cabo de S. Vicente e afundou os vapores COURLAND e ESTRELLANO. Pelas 05h00 um terceiro torpedo foi lançado, contudo falhou o alvo, que era um vapor que seguia na esteira.

5 tripulantes do ESTRELLANO, Captain Fred Bird, pereceram. O comandante, 20 tripulantes e um artilheiro foram resgatados pelo aviso HMS DEPTFORD (L53) e desembarcados em Liverpool. Um tripulante faleceu, a bordo do aviso, devido a ferimentos sofridos, tendo sido sepultado no mar.

PROCRIS – 70m/1.320tb/10 nós; 27/11/1924 entregue pelo estaleiro A. J. Inglis, Ltd., Glasgow, ao armador J. P. Hutchinson, Glasgow; 1931 Moss Hutchinson Lines, Ltd, Glasgow; 1946 regressou ao tráfego Glasgow/Portugal; 13/09/1950 vendido a sucateiros de Glasgow para demolição. Navios gémeos: FENDRIS e SARDIS.

Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Miramar Ship Index.

(continua)

Rui Amaro

Sem comentários: