quarta-feira, 5 de maio de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 59


O VAPOR NORUEGUÊS “BESSEGG” SOFRE POR DUAS VEZES AVARIA NA MÁQUINA QUANDO SE PREPARAVA PARA RUMAR Á BARRA




Narrativa textual do piloto José Fernandes Amaro Júnior, relacionada com o seu serviço de largada do rio Douro do vapor Norueguês BESSEGG.

«A 14.02.1931, pelas 13h00, embarquei numa das catraias das amarrações a fim de ir dar saída ao vapor Norueguês BESSEGG, o qual após ter descarregado um carregamento de bacalhau da Noruega no lugar do cais do Terreiro, estava pronto para largar em lastro.

Chegado a bordo, fiz ver ao capitão, que ia chamar um rebocador para auxiliar a manobra de desandar o vapor. O capitão disse-me, que não havia necessidade disso. No entanto, depois de lhe ter feito ver das consequências, que daí poderiam advir, devido a vários vapores estarem amarrados dois a dois do lado da margem de Gaia, o que iria condicionar aquela manobra, o capitão acabou por concordar com a minha intenção.

O pequeno rebocador fluvial MARIAZINHA pegou à proa e então, iniciei a manobra largando os cabos de terra, virando os ferros da proa e logo de seguida o rebocador começou a desandar o vapor, ao mesmo tempo que a catraia suspendia e recolhia o ferro dos pilotos à popa. Após ter posicionado o vapor de proa a jusante e ainda com o rebocador à proa, mandei dar meia força avante na máquina e seguia rumo à barra, quando o capitão me diz, que largasse o ferro, porque a máquina estava com avaria e já não queria sair. Em face disso largou-se o ferro de estibordo e fiz sinal ao rebocador para rodar o vapor de proa a montante, porque íamos regressar ao mesmo ancoradouro e assim se procedeu, ficando o vapor amarrado de maneira a sair no dia seguinte. Entretanto subiu a bordo o empregado da agência do vapor, a firma Jervell & Knudsen Lda., a quem fiz ver para quando marcasse a hora da saída do vapor, o não fizesse através da estação telegráfica da Associação Comercial mas directamente por telefone para estação de pilotos da Foz, recomendando ao piloto de serviço à estação para me avisar.

Regressado à Cantareira, dei conhecimento ao piloto-mor Francisco Rodrigues Brandão do sucedido, pelo que ele me disse para continuar afecto à saída do BESSEGG. No dia seguinte, domingo gordo, logo de manhã cedo fui para a corporação a fim de aguardar o telefonema. No entanto, o piloto José Fernandes Tato, de serviço à estação recebeu o aviso do empregado da agência e comunicou ao piloto-mor e este foi tirar parecer com o cabo-piloto António da Silva Pereira e com o piloto mais antigo Manuel de Oliveira Alegre, indagando se deveria mandar o piloto que iniciara o serviço de saída na véspera ou mandar o piloto Júlio Pinto de Carvalho. Ambos foram de opinião, que deveria ser o piloto Júlio Pinto de Carvalho, que estava ao primeiro da esquadra de serviços de dentro. Quando aquele meu colega se preparava para embarcar na catraia, que o levaria ao vapor e auxiliar as manobras de largada, foi recebida contra-ordem do agente a cancelar a saída, devido a nova avaria, ficando marcada para o dia seguinte, terça-feira de Carnaval e, efectivamente nesse dia o BESSEGG passou a barra do Douro, conduzido pelo piloto Mário Francisco da Madalena acompanhado pelo piloto praticante António Duarte».

Fontes e imagem:: José Fernandes Amaro Júnior e Lillesand Monstringskrets/ Sjohistorie.No

(continua)

Rui Amaro

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