sábado, 6 de junho de 2009

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES - Episódio 1





CANDIDATURA, PROVA PRÁTICA, INVESTIDURA E INGRESSO NAS DUAS ESQUADRAS DE SERVIÇOS

VISITANTES ILUSTRES. Eu, de por mim, assim os tomo. Eram pilotos das barras de Lisboa e do Porto. Vinham os chefes das duas barras e mais alguns colegas. Homens tisnados e destemidos. Quantos perigos não afrontam! Quanto lhes devemos nós todos! Viram e gostaram. Que eles contem às tripulações e passageiros como nós aqui vivemos e que guiem para as nossas casas muita gente. ELES SÃO PILOTOS.
Estas foram as sábias palavras proferidas pelo saudoso e Santo Padre Américo quando da visita, que uma delegação de pilotos das barras do Douro/Leixões e Lisboa efectuou à Casa do Gaiato de Paço de Sousa no ano de 1948.
Requerimento ao piloto-mor da barra do Douro e porto artificial de Leixões e sua informação. «José Fernandes Amaro Júnior, solteiro de 27 anos de idade, filho de José Maria Fernandes Amaro e de Margarida da Cunha, natural da freguesia de São João da Foz do Douro, desejando exercer o lugar de piloto da barra dos portos do Douro e Leixões, necessita que V.Exa. se digne atestar em como o requerente tem acompanhado a actividade à mais de quatro anos e tem conhecimento preciso da referida barra. Pede deferimento. Porto, 24.07.1926. Segue-se a assinatura.
Informação. José Pinto de Almeida, piloto-mor da barra do Douro e porto artificial de Leixões, informa, que o requerente tem suficiente conhecimento da barra do Douro e do porto de Leixões, por já ter estado ao serviço da corporação e ser sabedor prático muito aplicado no serviço, além de bem comportado e por ser verdade passo a presente declaração, que assino. Porto, 26.07.1926. Segue-se a assinatura.»
A 11.10.1926, pelas 08h00, apresentaram-se vários candidatos às oito vagas do concurso para piloto da barra do Douro e porto artificial de Leixões, a fim de prestarem provas práticas e teóricas a bordo do NRP MANDOVI, 45m/429tb, canhoneira em serviço da fiscalização das pescas na costa norte, em alternância quinzenal com a gémea NRP ZAIRE, que estava amarrada às bóias do quadro dos vasos de guerra no lugar do Bicalho, Massarelos. O júri era constituído pelos seguintes elementos: Cten Ernesto Garcez de Lencastre, adjunto do Departamento Marítimo do Norte; 1ten Afonso José Vilela, adjunto da Capitania do porto de Leixões; 1ten auxiliar de manobra Isaac da Fonseca Reis, patrão-mor da capitania do porto do Porto; José Pinto de Almeida (Pantaleão), piloto-mor; Francisco Rodrigues Brandão, sota-piloto-mor e Alexandre Cardoso Meireles, cabo-piloto.

O piloto-praticante José Fernandes Amaro Júnior

Chegada a vez do candidato José Fernandes Amaro Júnior prestar a prova prática desde a bacia do porto de Leixões até ao rio Douro. Aquele candidato mandou suspender o ferro e aproar entre molhes em marcha devagar avante e assim foi até atingir mar aberto. O comandante do NRP MANDOVI, Cten Américo Deus Rodrigues Tomás, interpelou-o dizendo, que aquele vaso de guerra fora lançado à água no Arsenal de Marinha, não para andar devagar mas sim em toda força avante. Então o candidato, fez-lhe saber das suas razões porque ordenou aquela marcha e deixou seguir o navio na velocidade exigida pelo comandante, só abrandando no lugar do Ouro ou em locais onde aquela marcha pudesse originar perigo para as margens ou para outras embarcações e retomando o andamento apenas parou a máquina junto da Ribeira, a fim de efectuar a manobra de virar de proa a jusante, e assim terminou a sua prova, seguindo-se outro candidato.
O NRP MANDOVI foi construído em 1917, no antigo Arsenal de Marinha de Lisboa, como canhoneira e fora encomendado sendo ministro da Marinha, o Cmg Vítor Hugo de Azevedo Coutinho, tendo sido adaptado a navio-hidrográfico no Arsenal do Alfeite por volta de 1955, já nos últimos anos da sua vida.


Perfil da canhoneira NRP MANDOVI /autor desconhecido/.


Os candidatos aprovados a pilotos provisórios e principiando a trabalhar como pilotos praticantes, foram os seguintes: Manuel Pinto da Costa, Francisco Luíz Gonçalves, Francisco Piedade, Delfim Duarte, Joaquim Matias Alves, José Fernandes Amaro Júnior, Hermínio Gonçalves dos Reis, todos da Foz do Douro e Manuel Fernandes Vieira, natural de Ílhavo. Este último demitiu-se passados alguns anos. A partir de 11,12.1928 todos aqueles candidatos passaram a pilotos efectivos e em 01.1927 é admitido como piloto praticante José Fernandes Tato, natural de Esmoriz, que se reformou como piloto-mor no ano de 1965.
A 02.11.1926, o piloto-mor José Pinto de Almeida (Pantaleão) recebeu ordem do chefe do Departamento Marítimo do Norte, para que, no dia seguinte, os oito candidatos examinados e aprovados no concurso para piloto da barra, se apresentassem no seu gabinete, devidamente fardados, a fim de serem empossados naquele cargo.
No dia seguinte, pelas 13h00, os referidos candidatos foram investidos nas funções de pilotos da barra praticantes dos portos do Douro e Leixões, tendo o chefe do Departamento lido os regulamentos do piloto da barra e entregue a cada praticante a respectiva guia de despacho para ser apresentada ao piloto-mor. No final dirigiu-lhes palavras de felicitação e sorte no desempenho das novas funções, que de futuro iriam exercer. Acabada a solenidade, dirigiram-se para a paragem do carro eléctrico da linha 1, no lugar do Monchique e regressados à Cantareira foram entregar as respectivas guias ao piloto-mor, o qual lhes ordenou, que à hora do fecho da estação do Telégrafo, situada paredes meias com a capela farol e a casa da Alfândega, onde então na ala oeste se localizava a antiga estação de pilotos, ao pontal da Cantareira, lhes daria as ordens de serviço. À hora do encerramento do Telégrafo, não foi recebido qualquer telegrama comunicando a saída ou chegada de qualquer embarcação, nem tão pouco no dia seguinte.




A 5, manhã cedo, os oito praticantes apresentaram-se na Corporação e pelas 09h00, o piloto-mor chamou os pilotos efectivos, que estavam ao primeiro das respectivas escalas de serviço, a fim de distribuir os novos elementos pelas duas esquadras. Os praticantes Manuel Pinto da Costa, Francisco Luíz Gonçalves, Delfim Duarte e Manuel Fernandes Vieira ficaram integrados na esquadra de dentro ou de saídas e na esquadra de fora ou de entradas ficaram os seus colegas Francisco Piedade, Joaquim Matias Alves, José Fernandes Amaro Júnior e Hermínio Gonçalves dos Reis. As esquadras eram mudadas de quinze em quinze dias.
(Continua)
Rui Amaro

Sem comentários: