TRÊS SUBMARINOS DA ARMADA NACIONAL DESCEM O
APERTADO RIO DOURO SOB DENSO NEVOEIRO
Da esquerda para a direita, NRP ESPADARTE, NRP GOLFINHO e NRP DELFIM, amarrados no lugar da Ribeira, Porto, vendo-se o NRP DOURO amarrado ao cais do Terreiro /foto de autor desconhecido - colecção F. Cabral - Porto /.
O contratorpedeiro NRP DOURO / autor desconhecido /.
02/07/1946, pelas 06h30, junto
da lingueta do Terreiro, lugar da Ribeira, margem direita do Douro, estavam
prontos para largar com destino ao porto de Viana do Castelo, os submarinos da
armada nacional, NRP DELFIM, NRP GOLFINHO e NRP ESPADARTE, todos eles em 14 pés
de calado, que juntamente com o contratorpedeiro NRP DOURO, que largaria no dia
seguinte de rumo ao Tejo, estavam de visita à cidade do Porto, a que se juntara
também a lancha de fiscalização das pescas NRP DOURADA, afecta ao Departamento
Marítimo do Norte. O nevoeiro era cerradíssimo sem que se vislumbrasse maneira
de se dissipar, e os submarinos tinham de sair naquela manhã, muito cedo.
Chegado perto das 09h00, o
nevoeiro desvaneceu um pouco, e como os pilotos não poderiam esperar mais,
porque a maré estava-lhes a fugir, aproveitaram e conferenciando com os
comandantes, decidiram-se por largar pelos seus próprios meios, não
necessitando da assistência de rebocadores.
O primeiro a desandar proa à
barra foi o NRP DELFIM, piloto José Fernandes Amaro Júnior, que entretanto se
vê embaraçado com o recrudescimento da névoa junto da penedia das Lobeiras de
Gaia, ficando incapaz de distinguir ambas as margens para uma boa orientação,
mas agora há que seguir enfrente e silvando, seguido dos outros dois. A lancha
das amarrações P5, conduzida pelo seu experimentado mestre João Luís Gonçalves (Nené), toma a dianteira, para prevenir qualquer obstáculo, pois somente
no lugar do Ouro, é que se posicionavam as primeiras bóias.
Seguem rio abaixo,
orientando-se pelos ruídos de terra, já de há muito conhecidos. Ruídos das
fainas fluviais, da Alfandega, dos carros eléctricos, da Central da Carris, da
Fundição de Massarelos, das várias oficinas metalúrgicas, dos estaleiros
navais, até que a lancha buzina, assinalando que tem a bóia do Ouro pela proa,
e pouco depois a da Ínsua, seguindo-se-lhe a da Cantareira, e passa diante do
cais do Marégrafo (Pilotos) e do dique da Meia Laranja sem conseguir ver terra,
contudo vale-se do toque do sino do farolim da barra, situado no molhe de
Felgueiras, que lhe vai servindo de orientação para passar safo da bóia da
barra, e também orientado pela lancha P4, timonada pelo seu experiente mestre Eusébio
Fernandes Amaro, e entretanto, o comandante é informado via rádio, que o NRP
GOLFINHO e o NRP ESPADARTE por receio dos respectivos comandantes fundearam. O
primeiro junto da Afurada, e o segundo no lugar do Ouro, contra vontade dos
seus pilotos, respectivamente Joaquim Alves Matias e Bento da Costa. O NRP
DELFIM já fora da barra, desembarca o piloto. Note-se que naquele tempo,
aqueles submarinos não estavam providos de radar, também pouco ou nada ajudariam.
O piloto José Fernandes Amaro
Júnior, antes de desembarcar às 09h45, aconselha o comandante a navegar algumas
milhas para oeste e só depois rumar ao porto de Viana do Castelo, a fim de
evitar a perigosa e fatídica penedia dos Cavalos de Fão, ao largo da costa de
Esposende, sepultura de muitas embarcações, seu procedimento usual, mesmo com
outros navios que rumassem a norte. Entretanto, quando a lancha se dirige para a
Cantareira, ao aproximar-se da bóia da Ponta do Dente, o nevoeiro levanta um
pouco e então vislumbra-se o NRP DELFIM, inexplicavelmente virado a norte à
face da costa, o que a continuar nesse posicionamento arriscar-se-ia a encalhar na
penedia e talvez devido à rápida intervenção, que aquele piloto teve, não só de
assinalar o perigo através da sirene da lancha mas também de abordar, novamente
o submarino e indicar o rumo certo a tomar pelo comandante para sair daquele perigoso local,
o acidente não se tenha concretizado. O NRP ESPADARTE safou-se na maré da tarde
e deixou a barra do Douro sem mais percalços.
O NRP GOLFINHO, após o
nevoeiro se dissipar um pouco, e já com a maré a descer passa a barra, sem
qualquer percalço. No que respeita ao NRP ESPADARTE, parece que depois de já se
encontrar fundeado junto à margem, com o vento e a corrente do rio descaiu e
sem que se desse por isso, por falta de visibilidade, ficou encalhado num banco
de lama, muito junto à margem, safando-se e saindo a barra ao final do dia, sem
mais novidade.
Curiosamente, e se não estou em erro, nesse mesmo dia, o NRP DELFIM encalhava num banco de areia à entrada da barra de Viana do Castelo, tendo sido safo pouco depois.
Aqueles três submarinos da 2ª esquadrilha, 69m/ 854td à superfície/ 1.105td em imersão, foram construídos de acordo com o programa naval de 1930, da responsabilidade do ministro da marinha vice-almirante Magalhães Correia, pelos estaleiros Ingleses Vickers-Armstrongs Ltd, Barrow-in-Furness, e foram entregues à Marinha de Guerra Portuguesa conforme segue: NRP DELFIM, 01/12/1934; NRP ESPADARTE, 09/01/1935 e o NRP GOLFINHO, 20/02/1935.
Curiosamente, e se não estou em erro, nesse mesmo dia, o NRP DELFIM encalhava num banco de areia à entrada da barra de Viana do Castelo, tendo sido safo pouco depois.
O NRP DELFIM rumando á doca comercial do porto de Viana do Castelo em 02/07/1946 / Jornal O Comércio do Porto /.
Aqueles três submarinos da 2ª esquadrilha, 69m/ 854td à superfície/ 1.105td em imersão, foram construídos de acordo com o programa naval de 1930, da responsabilidade do ministro da marinha vice-almirante Magalhães Correia, pelos estaleiros Ingleses Vickers-Armstrongs Ltd, Barrow-in-Furness, e foram entregues à Marinha de Guerra Portuguesa conforme segue: NRP DELFIM, 01/12/1934; NRP ESPADARTE, 09/01/1935 e o NRP GOLFINHO, 20/02/1935.
Esta esquadrilha viria a
desenvolver a sua intensa actividade até finais de 1950, na qual se realça a
participação em todas a manobras e exercícios da nossa Marinha de Guerra, nas
águas do continente, Açores e Madeira, a viagem de estudo e soberania realizada
pelo NRP GOLFINHO à Guiné em 1939 e a visita do NRP GOLFINHO e do NRP
DELFIM a Sevilha nas vésperas de eclodir a 2ª Guerra Mundial.
Durante este período
conturbado da História Mundial garantiram também o treino e a experimentação de
novas tácticas anti-submarinas às nossas unidades de superfície. Não será
demais afirmar que a esquadrilha de submarinos, embora fazendo parte de uma
Nação não beligerante se mantinha pronta para combate.
No dia 07/12/1950 efectuava-se
a cerimónia de desarmamento daqueles três submarinos, que foram vendidos a um
sucateiro com estaleiro localizado numa das margens do estuário do Tejo, depois
de se ter negociado com o governo Inglês, a cedência de três submarinos com um
pouco mais de três anos de serviço, que foram rebaptizados de NRP NARVAL, NRP
NAUTILO e NRP NEPTUNO, e passaram a pertencer à 3ª esquadrilha. O NRP GOLFINHO
sofreu um violento incêndio.
Fontes: José Fernandes Amaro
Júnior; Marinha de Guerra Portuguesa
(continua)
Rui Amaro
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