sábado, 17 de setembro de 2011

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 196

O VAPOR JUGOSLAVO "TRSAT" FAZ-SE À BARRA COM O MAR A ATRAVESSÁ-LO DE BORDA A BORDA
 
 
TRSAT / piloto José Fernandes Amaro Júnior /

Transcrição textual do piloto José Fernandes Amaro Júnior, relacionada com o serviço de pilotagem de entrada na barra do Douro do vapor jugoslavo TRSAT.
A 24/10/1937, pelas 13h30, dado não haver condições de mar para a lancha P4 transpor a barra do Douro, a fim de conduzir os pilotos para bordo dos três vapores, que ao largo da costa, aguardavam piloto para se fazerem à barra, eu e mais dois colegas seguimos de carro eléctrico para Leça da Palmeira. Chegados à paragem do Castelo, dirigimo-nos para bordo da lancha P1, tendo sido transportados aos ditos vapores, que estavam aproados a sudoeste, visto o vento estar a soprar forte desse quadrante. O piloto Joaquim Matias Alves embarcou no Italiano DORIDE; o Hermínio Gonçalves dos Reis subiu para o Português VILA FRANCA e eu saltei para o Jugoslavo TRSAT, que se encontrava fundeado a cerca de duas milhas para oeste da barra do Douro. Os dois primeiros vapores, como fossem de menor calado, entraram a barra de imediato envolvidos em alguma ondulação, sem criar qualquer incidente, até porque não havia corrente de águas de cima, muito pelo contrário, as águas iam de enchente, próprias de marés grandes.
Às 15h00 suspendi o ferro e aproximei-me da barra, tentando aguentar o vapor aproado a sudoeste, a fim de melhor observar o jeito da enchente e da ondulação, até porque já havia suficiente altura de água para passar a barra sem dificuldade. As águas corriam com bastante força para montante, e o único obstáculo seria o mar de vaga alta de oés-noroeste, própria da costa norte, a quebrar, por vezes de andaço, sem ser motivo de apreensão, pois até ajudaria, aliado à corrente de enchente, a empurrar o vapor, que procedia de Swansea com um carregamento de carvão e vinha em 16 pés de água.
Às 15h30, através dos binóculos, verifiquei não haver movimento de pilotos no cais do Marégrafo, encontrando-se apenas o piloto-mor Francisco Rodrigues Brandão, junto da escala de marés. Então, agarrei no manípulo da sirene e comecei a apitar, várias vezes e prolongadamente, assinalando o calado de água do vapor, para que fosse içada a bandeira de barra franca, visto a preia-mar estar a aproximar-se e eu não estava interessado em passar a noite fora da barra.
Às 16h00 o vapor continuava de proa a sudoeste, a poucos metros por fora da rebentação e algum tempo depois, nos mastros do cais do Marégrafo e do castelo da Foz, é içada a bandeira indicativa de barra franca. Prevendo que o mar iria cair em cheio sobre o vapor, visto este vir muito afogado, mandei a tripulação subir para a ponte do comando e passo a barra embalado ou riscando na vaga, com vários andaços de mar a atravessar o convés de borda a borda, que me obrigava a abrandar a marcha mas sem criar qualquer contrariedade. Nos cais notava-se uma multidão de curiosos, que para ali se dirigira devido aos toques sucessivos da sirene de bordo e pelas ruas da Foz correu célere a notícia de “vapor encalhado”, havendo mesmo quem se tivesse apressado a avisar uma corporação de bombeiros para acorrer ao local do naufrágio. A minha mulher, que se encontrava em casa, à rua da Beneditina, com o nosso filho, ainda de tenra idade, sabendo da minha ida para bordo de um vapor de entrada, ficou em pânico, só sossegando, quando vizinhos lhe foram dizer, que nada de grave se tinha passado.
Seguindo rio acima fui amarrar o vapor, no lugar da Fontinha, margem de Gaia, diante das escadas da Alfândega, a dois ferros à proa com cabos passados para terra e ancorote dos pilotos espiado pela popa. Após ter terminado o serviço e quando saltava para a lancha do rio, ainda se notava bastante água do mar no convés, escorrendo pelo costado».
TRSAT – tipo "WWI C6 standard coaster"/ 76,8m/ 1.269tb/ 10nós; 28/07/1919 lançado à água por Forth Shipbuilding & Engineering Co., Alloa, Escócia, para o The Shipping Contoller, Londres, contudo em 10/1919 foi entregue como ALLIE a Stone & Rolfe, Llanelly, Gales; 1931 TRSAT, Kvarner Brodarsko DD, Susak, Yugolavia; 1941 TRSAT, MOWT, Londres, gestores Stone & Rolfe, Llanelly, Gales; 07/09/1941 bombardeado e afundado por aeronave da "Luftwaffe" ao largo de Kinneard Head, Sussex.
Fonte: José Fernandes Amaro Junior; Lloyd´s Register of Shipping.
(continua)
Rui Amaro

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