quarta-feira, 30 de março de 2011

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 170

O CAPITÃO DO VAPOR ALEMÃO "CEUTA" RECUSOU-SE PERANTE O PILOTO DA BARRA A MANOBRAR COM REBOCADOR
 
CEUTA (3) / OPDR /

A 05/02/1935, pelas 14h00, o piloto José Fernandes Amaro Júnior foi dar saída ao vapor Alemão CEUTA, 91m/2.719tb, em 15 pés de calado, amarrado no lugar de Oeste da Cábrea. Às 15h30 foram colhidos os cabos de terra, virados os dois ferros e o ancorote dos pilotos à popa e ficou pronto a desandar. Dado aquele vapor ser de grande porte para o rio Douro, além de se encontrarem vários vapores amarrados nas duas margens e alguns prolongados, o que limitava o espaço de manobra, o piloto disse ao capitão, que teria de desandar o vapor com o auxílio de rebocador. O capitão, que era bastante obstinado, recusou-se a manobrar com rebocador, por mais que o piloto o tentasse convencer e continuou a negar. No rio Douro não era obrigatório manobrar com rebocadores e muitos capitães negavam-se a utilizá-los.
Como a hora da maré se aproximasse, o piloto deu inicio à manobra de rodar o vapor proa a jusante. Mandou largar o ferro de estibordo para desandar sobre ele, contudo sem se compreender, o primeiro-oficial largou a breca e portou pelo mordente de vante do molinete, que acabou por partir com oito braças de amarra, que se perderam, diante do lugar do Rio de Lavar e só por milagre não se fez avaria num pião de barcas e num outro vapor, e mesmo após o incidente, o capitão insistia em recusar rebocador. O piloto José Fernandes Amaro Júnior, não tendo outra alternativa, manobrou o vapor de marcha à ré, vindo até diante de Massarelos, e só aí com alguma dificuldade conseguiu desandar, e seguindo rio abaixo, passou a barra sem mais contrariedades cerca das 16h30, rumando o CEUTA ao porto de Hamburgo.
Após a 2ª Guerra Mundial, a 04/04/1954, pelas 16h00, coube ao piloto José Fernandes Amaro Júnior dar saída ao navio-motor Alemão LISBOA, 78,6m/1.434tb, pertencente como o CEUTA ao armador OPDR, Hamburgo, também ancorado no lugar de Oeste da Cábrea, cujo capitão era o mesmo do CEUTA. Chegado a bordo o piloto disse ao capitão, que ia chamar um rebocador e como sucedera antes da guerra, voltou a recusar o rebocador. Então, o piloto disse-lhe que os outros vapores da companhia sempre desandaram com auxílio de rebocador e fez-lhe lembrar o incidente passado com o CEUTA. O capitão recordando-se da dita manobra nem hesitou, deu ordem imediata para o rebocador MERCÚRIO 2º pegar à proa. O LISBOA manobrou proa abaixo e cruzou a barra às 17h30, rumando aos portos de Anvers e Hamburgo.
LISBOA (3) demanda o porto de Leixões em 1951 / Foto Mar, Leixões /

Episódios semelhantes ocorriam com alguma regularidade, nomeadamente com capitães com pouca experiência no rio Douro, e eu como "water-clerk" também me cheguei a ver envolvido em situações destas.
Meados da década de 60, o capitão de um navio Holandês de 65m/500tb, atracado ao cais do Estiva/Terreiro, teimava que não havia necessidade de rebocador para desatracar e desandar, pelo contrário o piloto afirmava que precisava de rebocador para meter o navio de proa à barra, e a maré a chegar, rebocador à borda, e o capitão com a sua "perna de pau", pois era deficiente, sempre atrás de mim para que eu convencesse o piloto a desistir da assistência do rebocador. Então como ambos estavam renitentes, fiz ver ao capitão que o piloto era o técnico e prático portuário, como tal as suas ordens deviam ser acatadas, e que os seus colegas capitães dos outros três navios da companhia que escalavam o porto do Douro semanalmente, já veteranos na carreira de Portugal, jamais se recusaram a manobrar com a assistência de rebocador, fosse na atracação ou na largada, e que a maré estava a chegar, e às tantas o piloto abandonava o serviço, e só no dia seguinte à tarde, é que haveria maré para o navio sair. Além disso o seu navio ainda tinha que ir a Leixões descarregar e carregar, e ir a Vigo para de lá sair por volta da meia-noite, e tudo isso com as "gangas" já chamadas, e que a despesa ficaria mais elevada do que a de uma "simples" rebocagem. Que remédio teve ele por acabar por ceder, embora contrariado!
Mas também me disse, que com o "sprin" pegado no peoriz da muralha, e de máquina de marcha à ré, o navio ia desfazendo para estibordo, e quando estivesse em posição de ir ao meio do rio, colhia o "sprin", e depois era uma questão de andar avante e à ré, e lá conseguiria posicionar o seu navio, que nem era muito grande, e seguiria para a barra. Pois era, e até pelo conhecimento que eu tinha do assunto, o "Kapitein Pennin" estava certo!
CEUTA (3) – Detalhes serão postados num próximo episódio mais desenvolvido.
LISBOA (3) – 78,6m/ 1.434tb/ 12nós/ 8 passageiros; 10/03/1951 entregue por Lubecker Maschinenbau Ges., Lubeck, a Heinrich E. C. Arp, gestores OPDR, Hamburgo; 1952 LISBOA, OPDR, Hamburgo; 15/03/1971 entregue em Hamburgo aos sucateiros Eisen u. Metall AG Lehr & Co., para desmantelamento.
Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Oldenburg Portugiesische Dampfschiffs Rhederei – Reinhart Schmelzkopf.
(continua)
Rui Amaro
  
ATENÇÃO: Se houver alguém que se ache com direitos sobre as imagens postadas neste blogue, deve-o comunicar de imediato. a fim da(s) mesma(s) ser(em) retirada(s), o que será uma pena, contudo rogo a sua compreensão e autorização para a continuação da(s) mesma(s)neste Blogue, o que muito se agradece.
ATTENTION. If there is anyone who thinks they have “copyrights” of any images/photos posted on this blog, should contact me immediately, in order I remove them, but will be sadness. However I appeal for your comprehension and authorizing the continuation of the same on this Blog, which will be very much appreciated.



terça-feira, 29 de março de 2011

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 169

UMA NOVA CATRAIA PARA O SERVIÇO DAS AMARRAÇÕES




A 30/01/1935, pela tarde, demandou a barra do Douro a reboque da lancha de pilotar P1, uma nova catraia a remos para o serviço das amarrações, acabada de construir nos estaleiros da praia de Vila Chã, freguesia do concelho de Vila do Conde. Este estaleiro, que se julga ainda há poucos anos existia, era considerado um dos mais conceituados na construção naval em madeira de pequenos barcos de pesca artesanal, como lanchas do alto, batéis e botes de pesca e lançou à água a maior parte das embarcações a remos da Corporação de Pilotos do Douro e Leixões, e creio ainda as lanchas P3 e P4(1), à altura ambas de boca aberta.
Fonte: José Fernandes Amaro Júnior
Desenho: Rui Amaro
(continua)
Rui Amaro

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 168

O VAPOR PORTUGUÊS "LOBITO" SOFRE UM INCIDENTE QUANDO SEGUIA RIO ACIMA

LOBITO

A 27/01/1935, pelas 18h00, o vapor Português LOBITO, piloto Delfim Duarte, seguia rio acima, quando ao passar pelo seco do Ouro, inesperadamente desgovernou para bombordo, tendo sido obrigado a lançar os dois ferros, não conseguindo evitar a colisão com a popa da traineira SÃO DAMIÃO, que se encontrava amarrada à margem, provocando-lhe uma pequena avaria na borda falsa. Ao suspender partiu-se-lhe a amarra de bombordo, tendo perdido o respectivo ferro. Às 19h00 reiniciou a sua navegação até ao lugar do Cavaco, onde ficou amarrado com o ferro de estibordo, cabos para a margem e ancorote dos pilotos pela popa.
LOBITO – 94m/ 2.699tb/ 10nós; 05/1906 entregue por Eiderwerft AG, Tonning, Alemanha, como THORA MENZELL a AG Chinesische Kustenfhrt Ges., Hamburgo; 1907 INGBERT, Hamburg Bremer Afrika Linie AG, Bremen; 06.03.1916, em plena guerra, encontrava-se internado no porto de Luanda, quando foi requisitado pelo governo Português e, consequentemente apresado pelas forças navais Portuguesas, a fim de fazer face à falta de transportes marítimos, tendo sido entregue à então recém-formada empresa Transportes Marítimos do Estado (T.M.E.), Lisboa, ficando registado com o nome de PORTO ALEXANDRE; 22/10/1917 PORTO ALEXANDRE, encalha num cachopo um pouco a sul de São Julião da Barra, quando demandava a barra sem a presença do prático. Passado quatro dias foi safo por unidade da Marinha de Guerra; 1925 LOBITO, Companhia Colonial de Navegação, Luanda; 21/01/1953 chegava a Hamburgo para desmantelamento pelos sucateiros Eisen u. Metal KG Lehr & Co.


Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Lloyd's register of Shipping
Desenho: Rui Amaro, 1949.
(continua)
Rui Amaro

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segunda-feira, 28 de março de 2011

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 167

LUGRE-MOTOR BACALHOEIRO "VENUS"

A 21/01/1935, pelas 17h00, entrou a barra do rio Douro o lugre-motor Português VENUS, que procedia da Suécia, onde fora adquirido a um aramdor Finlandês para integrar a frota bacalhoeira Portuguesa dos Grandes Bancos da Terra Nova e Groenlândia. António Gonçalves dos Reis foi o piloto, que orientou as manobras de entrada e amarração no quadro dos Bacalhoeiros, Massarelos.
VENUS – 46,43m/ 368,13tb/ 7 nós; lotação 15 tripulantes + 38 pescadores; 12/1919 entregue por L. Larsen, Koge, Dinamarca, a Red. Falken A/S, gestores E. B. Kromann, Marstal; 1932 VENUS, Alb. Jansson, Mariehamn, Ilhas Alanda (Finlandia); 1935 VENUS, E. F. Botelho & Cia., Lda, Porto; 1935 SANTA QUITÉRIA, E. F. Botelho & Cia., Lda., Porto; 1935 SANTA QUITÉRIA, Empresa de Pesca Lavadores, Porto; 01/05/1941 naufragou nos Grandes bancos da Terra Nova por água aberta, tendo toda a tripulação sido salva por outros lugres que andavam por perto.
Fonte: José Fernandes Amaro Júnior; Miramar Ship Index.
(continua)
Rui Amaro