sábado, 20 de fevereiro de 2010

SUBSIDIOS PARA A HISTÓRIA DA CORPORAÇÃO DE PILOTOS DA BARRA DO DOURO E PORTO ARTIFICIAL DE LEIXÕES – Episódio 50



O REBOCADOR “BURNAY 2” FOI ABALROADO PELO VAPOR “CORRETORA I” ENTRE MOLHES DO PORTO DE LEIXÕES



A 22.05.1930, pelas 08h00, saiu a barra do Douro o rebocador Português BURNAY 2, timonado por mestre Marcelino Justino, que capitaneava uma equipagem de cinco homens, com destino ao porto de Leixões e quando se aproximava da entrada, surgiu-lhe a toda a força da sua máquina, rasteiro com o molhe Sul, o vapor Português CORRETORA I, piloto Joel da Cunha Monteiro, que rumava à barra do Douro. O mestre do rebocador, pressentindo a eminência de uma forte colisão, fez os usuais sinais sonoros para evitar o choque mas, talvez porque não tenham sido compreendido,s não foi correspondido pelo CORRETORA I, o qual foi embater, violentamente pela amurada de estibordo, junto da caldeira do rebocador.
Em seguida o rebocador, que parecia submergir, do que poderia resultar uma explosão da sua caldeira, tanto mais, que pelos albóios da casa da máquina, saíam enormes rolos de fumo de vapor, fez, em vista disso, com que a tripulação do convés do rebocador, se lançasse à água, tendo sido recolhida pelo vapor envolvido no acidente, enquanto que o pessoal da máquina saía já com certa dificuldade para o convés, indo abrigar-se à popa do rebocador.
O mestre do rebocador, como achasse que, apesar da situação critica, não tinha resultado qualquer explosão da caldeira, chamou um bote para o levar para bordo do seu rebocador, todavia foi surpreendido pela atitude dos oficiais do CORRETORA I e sobretudo, por um deles, que não só não consentiu a atracação do bote, como ainda perguntou ao seu comandante se desejava, que o mestre fosse detido.
Em vista da atitude do oficial, o mestre e o seu contra-mestre atiraram-se ao mar, nadando para o bote, que os conduziu para bordo do rebocador, sendo este depois rebocado por várias lanchas a motor, entre as quais a IBÉRIA, MARIA ALICE e a da policia marítima, que o levaram para junto da praia do Pescado, onde ficou varado, a fim de não se afundar totalmente. Nessa altura verificou-se, que o fogueiro João Pedro da Costa, de 53 anos de idade, falecera no seu posto de trabalho durante o desastre, sem dúvida pelos jactos de vapor, que devido ao choque saíam dos vários tubos condutores. Houve ainda a lamentar os ferimentos recebidos por José Manuel Vieira, o qual recolheu ao hospital de Matosinhos com algumas queimaduras de vapor, não tendo sido de muita gravidade o seu estado. Este não fazia parte da tripulação, pois tinha pedido ao mestre uma passagem para Matosinhos. O corpo do infeliz fogueiro foi desembarcado e levado para o Instituto de Medicina Legal do Porto, para as formalidade legais.
O BURNAY 2, que pertencia à delegação marítima do Banco Burnay, empregava-se desde há muito tempo nos serviços de rebocagem entre o rio Douro e o porto de Leixões e outros portos da costa Portuguesa. Quanto ao CORRETORA I encontrava-se afecto ao serviço do norte da Europa da Companhia Colonial de Navegação e logo que lhe foi possível rumou ao Rio Douro.
 
 O rebocador BURNAY 2 após o acidente varado junto da praia do pescado / Imprensa diária /.

Logo que o gerente do armador, José Pinto, ainda em sua casa, teve conhecimento daquele grave desastre, deslocou-se de imediato ao porto de Leixões e informando-se no hospital local acerca da assistência prestada à sua tripulação. Também o chefe da Polícia Marítima, Cte. Leopoldo Alves e o José Rabumba da estação de socorros a náufragos foram da maior solicitude para com os naufragados. Em sinal de pesar por tão lamentável desastre, quase todas a embarcações no rio Douro, içaram a sua bandeira a meia-adriça e aos escritórios do Banco Burnay acorreram muitas pessoas apresentando os seus sentimentos.
CORRETORA I – 66m/874tb; 1907 entregue pelo estaleiro Nylands Verksted, Kristiania, como JOS. J. CUENO a J. P. Pedersen & Sons, Noruega; 1925 NEWTON, H. Svenningen, Noruega; 1929 CORRETORA I, Corretora, Lisboa; 27/05/1931 naufragou por incêndio ao Noroeste do Cabo Finisterra, posição 45,04N/07,55W. O CORRETORA I era mais identificado por CORRETORA PRIMEIRO.
BURNAY 2 – 20,6m/40tb; 1900 entregue por estaleiro sediado na Bélgica, cujo nome se desconhece, a armador também desconhecido; Foi posto a flutuar e adquirido à Companhia de Seguros Dusseldorf por José Joaquim Gouveia, Lda., Porto, que o recuperou e o pôs a navegar com o nome de NEIVA, tendo seu registo sido cancelado em 1932. A máquina e outros materiais foram equipar o novo rebocador também de nome NEIVA construído em 1933 pelo estaleiro de José Gomes Martins, Lordelo do Ouro, Porto. O BURNAY 2 era mais identificado por BURNAY SEGUNDO.
Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; Imprensa diária, F. Cabral e Miramar Ship Index.
(continua)
Rui Amaro