A 10/11/1933, pelas 07h45, o vapor de pesca por arrasto Português CABO DE S. VICENTE, piloto Bento da Costa, após ter demandado a barra do Douro e quando passava diante da capelinha do Nosso Senhor dos Navegantes, devido ao nevoeiro, que se fazia sentir, acabou por encalhar num banco de areia localizado a sul do canal de navegação. No entanto, algum tempo depois, conseguiu safar-se pelos seus próprios meios e seguiu para montante até dar fundo e amarrar à lingueta do Bicalho, a fim de efectuar a descarga do pescado.
CABO DE S. VICENTE – ex Português CABO CARVOEIRO, ex Inglês DARRACQ, ex Inglês H. A. L. RUSSEL – Vapor de pesca do arrasto – 1910 – 44m/269tb – Sociedade Comercial Maritima, Lisboa.
Quando se encontrava no pesqueiro, em plena costa de Portugal, ao Noroeste do cabo da Roca, pelas 18h30 de 10/03/1942, nas coordenadas 38,56N e 09.57W avistou-se um quadrimotor que se dirigiu ao vapor de pesca e quando estava a 50 metros passou em voo rasante e largou dois torpedos pequenos, acertaram no costado de bombordo, provocando enorme explosão. A visibilidade era clara e o CABO DE S. VICENTE exibia as marcas convencionadas da sua nacionalidade bem visíveis, o que não sucedia com o avião atacante, que não mostrava a sua identidade, apenas se testemunhou, que era um quadrimotor e estava totalmente pintado de cinzento claro.
Aquela aeronave não se contentou em lançar os torpedos mas ao passar sobre o vapor, descarregou algumas rajadas de metralhadora, que por sorte não feriram quem quer que fosse. Dado que o vapor se estava a afundar, foi arriada a baleeira, que felizmente não fora atingida pela metralha, por isso a tripulação pode salvar-se. O último a saltar foi o capitão José Ethelredo Morais, que através da fonia tentou um pedido de S.O.S., que pelo posto ter ficado avariado, não foi escutado. Rumaram então, à força de remos, para a Ericeira, enquanto se verificava afundamento do navio. Na madrugada de 11 foram recolhidos pelo vapor de pesca AÇOR, que os levou para Lisboa.
Não se compreende a razão porque um avião, que não mostrava as marcas da sua nacionalidade, atacou e afundou uma embarcação de nacionalidade neutral, em seu mar territorial!
O CABO DE S. VICENTE foi lançado à água em 09.1910, estaleiro Cochrane & Sons, Ltd, Selby, como DARRACQ e mais tarde adquirido por outro armador inglês, tendo recebido o nome de H.A.L.RUSSEL. Já depois da guerra de 1914/18 foi vendido a armadores Portugueses tomando o nome de CABO CARVOEIRO, porém em 1930, já estava matriculado como CABO DE S. VICENTE.
Fontes: José Fernandes Amaro Júnior; CRONICA DOS NAVIOS DA MARINHA PORTUGUESA, (Anais do Club militar Naval), Cdt. Carlos Amorim.
Imagem: autor desconhecido.
(cotinua)
Rui Amaro
2 comentários:
Caro Rui Amaro
Apreciei bastante este seu comentário sobre os tempos vividos pela nossa marinha de comércio na última grande guerra, e no qual, o arrastão português “Cabo S. Vicente” foi protagonista. Sabendo que é possuidor de belíssimas fontes, tem uma forte legião de leitores e o espírito natalício está no ar, aproveitava para perguntar, qual foi o destino final dos seguintes arrastões, todos eles contemporâneos do “Cabo S.Vicente”?
“Fafe” – Sociedade Portuguesa de Pesca – Porto
“Alvaiázere”- Sociedade de Pesca a vapor Invencível
“Alvor” – Companhia Portuguesa de Pesca
“Machado” Guilherme Machado
“Novo Horizonte” Sociedade de Pesca Novo Horizonte
“Cabo Juby” Sociedade Comercial Marítima Lda.
Obrigado
Aproveito para desejar ao amigo Rui Amaro, respectiva família e a todos os companheiros de viagem deste magnífico blogue
Festas Felizes e que o Novo Ano traga em particuar, bons ventos e águas safas para todos
Saudações marinheiras
Luis Filipe Morazzo
Amigo Luis Filipe Morazzo
Esses arrastões fizeram-me lembrar um tio meu que foi maquinista de alguns deles, particularmente o MACHADO e o FAFE, aqui do Porto.
Antes da guerra de 1939/45 era normal ver-se aqui no rio Douro esses arrastões conhecidos pela designação do "Cabo Branco" ou do "Cabo Juby", embora por vezes também fainassem na costa Portuguesa.
Gostava de satisfazer a sua questão mas não tenho elementos do final, que aliás em muitos casos é difícil descobrir. Uma das minhas fontes é a página MIRAMAR SHIP INDEX, que no caso do destino final, há casos em que não indica.
Devido aos meus problemas de saúde (principalmente incontinência urinária) vejo-me incapacitado de me deslocar à Biblioteca Municipal e outros organismos de pesquisa e valho-me dos recortes de jornal coleccionados por meu pai e por mim e da minha memória, aliás aqui no Porto, no que diz respeito à parte marítima torna-se mais difícil, porque muita documentação foi levada para Lisboa. Uma região que foi importante em todas as actividades relacionadas com o mar não possui um museu marítimo, o que é imperdoável.
No edifício da Alfandega, hoje transformado em Palácio dos Congressos e Museu dos Transportes (transportes excepto marítimos), apenas ficou a biblioteca da Alfandega do Porto, que vale muito aos entusiastas de navios e navegação, com alguma publicação sobre o data-base de navios.
É tudo o que lhe posso informar.
Continuação de Festas Felizes
Abraço
Rui Amaro
Enviar um comentário