A 18/08/1931, pelas 07h00, demandou o porto de Leixões na sua viagem inaugural, fundeando a meio do porto a dois ferros, o paquete Inglês HILARY, piloto Joaquim Matias Alves, pertencente ao armador The Booth Steamship Co. Ltd (Booth Line), Liverpool, cujo agente na cidade do Porto era a firma Garland, Laidley & Co., Ltd. Aquele paquete que foi assistido pelo rebocador da companhia MARS 2º, procedia de Liverpool com carga e passageiros, e ao anoitecer abandonou o porto, pilotado pelo piloto Manuel Pinto da Costa, rumando aos portos de Belém do Pará e Manaus, no rio Amazonas, com escala pelos portos de Lisboa e Funchal, após ter carregado carga diversa e embarcado passageiros.
O HILARY, que foi um dos mais emblemáticos paquetes a escalar o porto de Leixões, antes e no pós-guerra fora construído em 1931 pelos estaleiros Cammel Laird & Co., Ltd., Birkenhead, apresentava, ao contrário da maioria dos navios do seu tempo, as antigas linhas tradicionais, que sempre lhe deram um aspecto agradável e elegante. As suas principais características eram muito aproximadas às do velho HILDEBRAND, que iria substituir na famosa linha do Norte do Brasil e Amazonas – “
A sua actividade calma de navio de passageiros foi interrompida durante o período da guerra de 1939/45, durante a qual desempenhou importantes missões recordadas num quadro patente no seu salão principal. Requisitado pelo Almirantado em Dezembro de 1940, foi primeiramente utilizado no serviço de vigilância marítima e em Maio de 1941 interceptou o petroleiro Italiano RECCO,
Com a entrada ao serviço do novo paquete HILDEBRAND e mais tarde do HUBERT, falou-se muito na sua retirada do serviço o que não chegou a concretizar-se. Partiu então para os estaleiros de Anvers, onde foi submetido a demoradas reparações, que incluíram melhoramentos nas instalações destinadas aos passageiros, cujo número foi reduzido para 230, e, quando reentrou em actividade apresentava uma particularidade na Booth Line, a cor preta do casco tinha sido substituída pela branca, o que lhe dava um aspecto muito deslumbrante.
Retomou as actividades em Abril de 1956 com alteração da rota, pois passou a incluir escalas em Port of Spain, Trindade e Tobago, nas Caraíbas, onde embarcava emigrantes nativos para Liverpool, os quais na sua escala em Leixões, espalhavam-se pela vila de Matosinhos e pela cidade do Porto, dando um certo colorido a ambas as urbes. Foi, posteriormente fretado à Elder Dempster Line, realizando algumas viagens à costa ocidental de África, até que a perda do HILDEBRAND em 25/09/1957, próximo de Cascais, o levou de novo a sulcar águas Portuguesas e Brasileiras, acabando algum tempo depois por amarrar no porto de Liverpool, de onde largou em Setembro de 1959 para o Inverkeithing na Escócia, onde foi demolido pelos sucateiros T.W.Ward Ltd., após 28 anos de intensa actividade.
O HILARY sofreu um grave acidente, quando a 11/06/1953 descia o rio Amazonas, após ter largado do porto fluvial de Manaus e a cerca de
Um episódio delicado passou-se num dos últimos anos da década de 40, quando o HILARY, sob denso nevoeiro, e assinalando a sua marcha com o toque característico da sua sirene, navegando de Sul para Norte, muito junto à costa, diante da barra do Douro, quando numa aberta momentânea da névoa, o seu comandante vislumbrou a lancha P9, dos pilotos do Douro, que acabara de recolher o piloto José Fernandes Amaro Júnior, de bordo de um vapor, que saíra da barra. Aquele piloto, que em 1931 ao desembarcar do HILARY entre molhes de Leixões, sob grande agitação marítima, caiu desamparado sobre a caixa do motor da lancha P3, sofrendo traumatismos graves (este incidente será relatado oportunamente em episódio relacionado), ao aperceber-se, que o paquete seguia a esteira da lancha, julgando tratar-se da congénere de Leixões, ordenou ao mestre Eusébio Fernandes Amaro, seu irmão, para desandar, e tocando a buzina, intermitentemente foi ao encontro do paquete e subindo a bordo mandou meter marcha toda força à ré, a fim de evitar o seu encalhe nas pedras da praia do Ourigo, o que por pouco não ocorreu. De seguida, sempre debaixo de nevoeiro cerrado, rumou ao porto de Leixões, onde entre molhes entregou o comando ao seu colega Manuel da Silva Pereira, que entretanto subira a bordo. Após os agradecimentos do comandante e ter sido presenteado com uma lata de cigarros da marca “Navy Cut” e outras duas para o pessoal da lancha, regressou à Cantareira, na Foz do Douro.
Fontes: José Fernandes Amaro Junior; The Booth Steamship Co., Ltd.
(continua)
Rui Amaro
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