CHEIA NO RIO DOURO
O HUNDSECK aguentando uma cheia no rio Douro, lugar do cais do Monchique, Porto, em 04/1960 / foto Rui Amaro /.
A 21/03/1956 foi recebido um telegrama da
Régua, que na margem daquela localidade o nível das águas de cheia estavam de
manhã em 05m, e às 19h00 já subiram para 05,52m; a 22 pelas 18h00 as águas já
se encontravam a 06,30m com tendência para descer; a 23 voltaram a subir, pelo
que às 11h00 foram para 05,56m, e continuavam a subir de nível, pelo que às
15h00 já iam 07,50m e às 19h00 já andavam em 08,36m, e sempre com tendência a a
vir para cima. A 24 pelas 09h00 a escala marcava 12,45m, e às 14h00 baixavam
para 11,46m; a 25 desciam para 10,60m com tendência a baixar, e nos dias
seguintes foram descendo razoavelmente. Durante esse tempo haviam ventos
frescos com rajadas violentas de Sudoeste e Oeste com chuva intensa e bastante
mar. No Porto a Ribeira e Miragaia estiverem debaixo de água, assim como as
margens de V. N. de Gaia, e como assim o novo cais do Vinho do Porto (cais de
Gaia), ao qual estava atracado o n/m Alemão HUNDSECK, que se aguentou firme.
A 28, o piloto-mor, apesar de ainda haver impetuosidade
nas águas de cheia, e mar de andaço com alguns lisos, o piloto-mor José
Fernandes Tato, após consulta com os pilotos, decidiu abrir a barra á
navegação, e assim saiu o n/ m Alemão HUNDSECK, assessorado pelo piloto José
Fernandes Amaro Júnior, que disse que nunca conduzira navio algum com tanta
velocidade, porque o navio ao sabor da corrente e a meia força deixava de
governar, então ordenou força toda avante e lá cruzou a barra num liso de mar,
indo desembarcar para a lancha P10 junto do farol do Esporão de Leixões. Entrou
o vapor Norueguês GALATEA, que foi atracar ao cais do Terreiro, a dois ferros,
a fim de carregar sucata, e ainda o n/m Português CORUCHE, que foi amarrar
junto do lugar das escadas da Alfandega, a dois ferros, cabos estabelecidos
para terra e a ancorote dos pilotos ao lançante para sudoeste, ambos ficaram
com amarrações reforçadas, devido à previsão de nova cheia, pois na Régua o
nível das águas recomeçou a subir de nível.
Navios que suportaram a cheia, sem grandes
complicações, porque os pilotos trataram do reforço das suas amarrações: No
lugar da Carbonífera: Iates-motor MARIA CLOTILDE, TEÓFILO, SADINO, EDUARDO
XISTO, lanchão-motor GAVIÃO DOS MARES, e ainda as fragatas CANTANHEDE e
GIBRALTINA; lugar do cais do Cavaco: n/m SECIL GRANDE; lugar do cais das
Pedras, Massarelos: lugre-motor bacalhoeiro CONDESTÁVEL; quadro dos
bacalhoeiros, Massarelos: Lugre ANA MARIA, lugre-motor AVIZ, rebocador
MARIALVA, iate de recreio Alemão KARLENA, este não aguentou a força das águas e
acabou por submergir; quadro dos navios de guerra, Massarelos: NRP CORVINA.
Com a cheia, que os tripeiros apelidam de
“engenheiro da Régua”, a barra alargou imenso, estando agora as pedras
denominadas Fogamanadas e Perlongas, em pleno rio, pelo que há grande regozijo
nos mareantes e nos pilotos da barra, que agora podem conduzir as embarcações
mais confortavelmente.
Entretanto a 18/04/1956 nova cheia se
avizinhava, pois na Régua as águas já estavam a inundar as margens e a corrente
já vinha com bastante impetuosidade, pelo que nesse dia não houve movimento
marítimo na barra do Douro, contudo a 20 saiu o n/m Português SECIL com destino
a Setúbal, voltando a barra a ser encerrada.
HUNDSECK (3) – imo 5156828/ 57,2m/ 777tb/ 10
nós/ tripulantes 12/ passageiros 1; 11/1951 entregue por A.G. Weser Werk
Seebeck, Bremerhaven, como DIONE à Cie de Transports Cotmar SA, Puerto Cortez,
Honduras, gestores Cie de Transports Cotmar, Basileia; 1952 DIONE, Cie de
Transports Cotmar, Bremen; 1955 HUNDSECK, DDG Hansa, Bremen; 1967 BALTIQUE, Emeraude
Maritime SA, Nantes; 1969 BALTIQUE, Lybian Coast Shipping Line, Tripoli, Libia;
1975 KUMKALE, Ali Meraloglu, Istanbul; 1996 KUMKALE, Meraloglu Denizeilik ve
TLS, Istanbul; 2007 KUMKALE, Akas Denizeilik ve Turizm Sanayl TLS, Istanbul;
2008 KUMKALE, Necip Meraloglu ve Ortaklari, Istanbul; 2010 excluído do LR por dúvida
de existência. Navios-gémeos: DORIDE/ROSENECK (2); ACASTE/BRUNNECK (2).
Fontes: José Fernandes Amaro Júnior, DDG
Hansa, Bremen, Miramar Ship Index.
(continua)
Rui Amaro